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João Miguel Tavares, como é público e notório, não tem grande apreço por Montenegro, tendo um dia destes levantado a hipótese de que ele seja o príncipe dos esquemas.
Eu não tenho a mesma acrimónia em relação a Montenegro, mas acho que hipótese merece ser discutida, não em função das especulações sobre a vida e o carácter de Montenegro (o que anteriormente se chamaria, fazendo um processo de intenções), mas em função da sua vida, longa vida, como político.
Em 2011 não votei em Passos Coelho, exactamente porque na minha avaliação (e com certeza não terei estado sozinho nessa avaliação, a julgar pelo que diz José Miguel Júdice nesta entrevista muito divertida e útil) Passos Coelho tinha uma história de jotinha muito mal explicada, sem nada de relevante que o recomendasse para as funções a que se candidatava (em 2011 votei contra Sócrates, bem entendido, que, esse sim, conhecia de ginjeira há muito tempo, ao contrário da esmagadora maioria dos membros do PS, que nunca tiveram grandes dúvidas sobre a sua excelência, tal como nunca tiveram dúvidas sobre a excelência de Costa ou Pedro Nuno Santos, bem aventurados os pobres de espírito).
Avaliei mal Passos Coelho e hoje reconheço que teria feito melhor em ter votado em Passos Coelho (como votei em 2015), razão pela qual fiquei mais cauteloso em relação a apreciações de carácter dos políticos.
Há, na biografia política de Montenegro, zonas de sombra que me incomodam, a principal das quais uma quase esquecida história de pertença à maçonaria de que nem Passos Coelho tinha conhecimento na altura, incluindo a rápida desvinculação que Montenegro garantiu na altura.
E há, no último ano de governo, zonas de sombra que me incomodam igualmente, em especial uma lógica de protecção partidária (em rigor, uma lógica de protecção, seja de que tipo for) de algumas pessoas que a mim não me parecem ser dignas dessa protecção.
Aliás, o seu governo parece ser uma espécie de governo híbrido, com uma componente de assuntos sérios, para a resolução dos quais se escolhe gente que pode falhar, mas seguramente tentará fazer com que as coisas funcionem, e outra componente, que por facilidade eu chamaria a componente aparelhística e autárquica, que anda para ali a encanar a perna à rã e a anunciar milhões para isto e aquilo, procurando sobretudo manter-se próxima do poder que permite o exercício dos pequenos poderes em que se especializaram os aparelhos partidários.
Finanças, Justiça, Educação, Saúde, Migrações, Economia e Trabalho e Segurança Social são áreas em que manifestamente há uma vontade de fazer, e fazer bem.
Quando se critica Fernando Alexandre por ter usado números errados, e depois adjudicar e pagar uns milhares de euros numa auditoria que não vai conseguir dar os números que se pretendia, está a fazer-se a crítica errada, a crítica certa seria aos ministros anteriores que governaram sem se preocuparem em preparar a administração para a produção de informação relevante.
Quando se critica a Ministra da Saúde por não conseguir os objectivos definidos no plano de emergência a que se vinculou, está a fazer-se a crítica errada (a menos que a Ministra tentasse martelar os números não mudar nada em relação ao previsto), porque a crítica certa é aos anteriores ministros que se furtaram a estabelecer metas e calendários verificáveis, bem como à gestão desse plano e calendário em função dos resultados verificados.
Ou seja, nas matérias que citei, o governo de Montenegro é manifestamente um governo que serve, no sentido em que tenta identificar problemas e resolver, mesmo que tenha o problema de todos os governos portugueses que é o de assentar a sua acção numa administração que é péssima a produzir informação de gestão fiável (uma absoluta necessidade que me parece que vai sendo olhada com atenção por Miranda Sarmento, mas é cedo para perceber se realmente é assim).
Noutras matérias, que me escuso de citar (e que pessoalmente me chateiam bastante, porque incluem aquelas que são as minhas áreas de actividade profissional), o modelo parece ser o esquemático, isto é, a gestão de esquemas que evitem ondas, ou seja, deixar tudo na mesma.
Eu não tenho a psicose das reformas, o meu critério central de voto nas próximas autárquicas não se prende com o candidato que tem melhores ideias e reformas para a autarquia em que voto, mas sim com a minha convicção de qual é o candidato que, mais provavelmente, me garante que as sarjetas funcionam correctamente.
Talvez por isso eu fique pouco impressionado com os políticos carismáticos e me interesse tanto por políticos cinzentos que se focam em fazer o seu trabalho tão bem quanto conseguem, sabendo que não são génios que criam soluções miraculosas para problemas persistentes, mas pessoas que procuram tornar a vida dos outros mais fácil.
Não tenho uma opinião definitiva sobre Montenegro mas, até agora, não tenho razão nenhuma para lhe chamar príncipe do que quer que seja, parece-me ser uma pessoa normal, a tentar fazer razoavelmente o trabalho que tem entre mãos.
Espero não me enganar.
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