Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
No meu último post há um comentário que me parece bem interessante:
"porque diz que "Para já poder-se-ia dizer que a resposta deste segundo carvalhito é mais segura e mais interessante que a que resulta da condução que está a ser feita pela Montis", apesar de não ser um especialista parece-me bastante evidente que o 1o carvalho está bem mais saudável e com crescimento adequado".
Para quem não leu o post, tratava-se da comparação entre um carvalhito que rebenta de pé pós fogo, e não é conduzido e outro que, tendo o mesmo comportamento, tem vindo a ser conduzido pela Montis em alto fuste.
Ao fim de quatro Primaveras, o primeiro apresenta cerca de um metro e vinte e imensa folhagem praticamente desde o chão, o segundo anda pelo metro e sessenta e um tronco bem definido, com uma copa que não sendo um primor de conformação, ainda assim está mais próxima do que associamos a uma árvore.
E a pergunta feita tem sentido: o segundo não está muito melhor que o primeiro?
Eu não tenho a certeza disso (a minha frase começa por "poder-se-ia dizer", exactamente para dar corpo a essa dúvida) e passo a tentar explicar.
A minha visão é uma visão ideológica no sentido em que parto do pressuposto de que a natureza viva tende a responder aos estímulos existentes de forma a optimizar as possibilidades de dar continuidade aos genes dos organismos vivos que a compõem, sem esquecer que a natureza inclui os elementos não biológicos que interagem com essa natureza viva.
Note-se que não estou a atribuir à natureza qualquer sentido moral, a natureza não faz escolhas, a natureza existe e mais nada, nós é que fazemos escolhas.
E as escolhas que fazemos, de maneira geral, prendem-se também com o impulso vital de transmitir os nossos genes de maneira a que não se percam, ou seja, prendem-se com a optimização da nossa capacidade de sobrevivência e de reprodução.
Por isso a nossa relação com a natureza é utilitária, nós manipulamos os sistemas naturais para que sirvam melhor os nossos interesses de sobrevivência e reprodução (nós próprios resultamos de um processo de evolução que vai no mesmo sentido, ou seja, os que ainda aqui andamos somos os que sobraram, isto é, os que carregam a herança genética dos que sobreviveram e se reproduziram antes de nós, somos por isso, um produto da evolução natural, mesmo a nossa capacidade de escolher, o livre-arbítrio, a moral em que assenta o fino verniz da civilização, continuam a ser produtos da evolução biológica).
Por isso olhamos para uma árvore bem conformada, com um tronco liso e direito, uma copa perfeita - mesmo reconhecendo que o que achamos perfeição varia de pessoa para pessoa e de cultura para cultura, ao ponto de haver milhares de alentejanos maravilhados com chaparros podados, com copas muito longe do que seria a conformação natural da copa, porque um chaparro bem podado é a perfeição para quem quer maximizar a produção de bolota e fugir da fome - e ao olhar para essa árvore perfeita, achamos que são essas as árvores que estão mais saudáveis e com crescimentos adequados.
Mas para a natureza, ou melhor, para a ideia que eu faço da natureza, tudo isso é irrelevante: o tempo não conta, a forma não conta, a produção não conta, o que conta é a capacidade de manter e transmitir genes.
E é aqui que volto à minha afirmação inicial: do ponto de vista da sobrevivência dos dois carvalhos, o primeiro responde melhor aos riscos que o segundo.
Quando o fogo calcinou inteiramente a parte aérea dos dois carvalhos, mantendo vivo o seu sistema radicular, criou-se um profundo desequilíbrio entre parte aérea e subterrânea que, se não for resolvido rapidamente, leva à morte do sistema radicular por falta de energia.
Por isso a resposta da planta é no sentido de maximizar a superfície foliar que lhe permite obter energia através da fotossíntese. Se o fogo não foi suficientemente intenso para matar os tecidos do tronco, os carvalhos vão rebentar de copa e rapidamente repõem uma superfície foliar adequada à parte radicular.
Mas se o fogo foi suficientemente intenso (isto é, libertou uma grande energia) para ter uma severidade elevada (isto é, ter afectado profundamente a vegetação) a parte aérea está morta e a raiz lança guias a partir da base do tronco.
Lança tantas quantas consegue para aumentar rapidamente a superfície foliar, o que significa que na nossa vontade de ter árvores bem conformadas e com crescimento adequado, se começamos a seleccionar varas, estamos a diminuir a velocidade de reposição da superfície foliar, o que enfraquece a raiz.
As doenças, o dente de uma cabra ou um corço, um vento forte quando já existe alguma altura, e milhares de outros factores, podem deitar a perder, ou pelo menos ditar fragilidades de crescimento do segundo carvalho em relação ao primeiro.
Isto é, o primeiro carvalho tem, provavelmente, uma vitalidade maior, incluindo no seu sistema radicular, que o segundo e, nesse sentido, está mais apto a resistir e reproduzir-se algures no tempo, o segundo, embora servindo melhor os nossos objectivos - no caso, ter carvalhais maduros mais cedo - está de facto a correr mais riscos e tem, muito provavelmente - a mim parece-me que sim - uma vitalidade menor durante algum tempo.
Espero ter explicado o meu ponto de vista sobre uma afirmação que percebo que possa causar perplexidade, sobretudo se, como é o caso, eu defendo que apesar desses riscos de sobrevivência maiores, se adopte o modelo de gestão que, ao mesmo tempo, aumenta as probabilidades de ter carvalhais maduros mais cedo.
Na verdade o título do post não deveria ser o que é, porque a natureza não tem pontos de vista, mas sim, "o meu ponto de vista sobre o que se poderia considerar o ponto de vista na natureza na evolução de carvalhos pós fogo", mas era um título excessivamente extenso, mesmo para um post, também ele, excessivamente extenso.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
De que ri Luís Montenegro?Montenegro tinha uma est...
Se a generalização racista que tinha sido feita – ...
A cor da peleVotar Chega seria “a realização concr...
O Norte do distrito de Aveiro é área metropolitana...
Pedro, já se subiu outro patamar. ao que consta ta...