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O outro resultado das eleições

por henrique pereira dos santos, em 19.05.25

Temos um sistema de financiamento partidário que se auto-alimenta: como o financiamento depende do número de votos, quem tem mais votos tem mais recursos disponíveis até à eleição seguinte.

Bem sei que ter mais recursos não tem relação directa com os resultados da eleição seguinte, mas não é completamente irrelevante, portanto vale a pena olhar para o outro resultado das eleições, a riqueza dos partidos.

Comecemos pelo ADN, que, sem eleger qualquer deputado, no ano passado passou a ter um financiamento anual de cerca de 340 mil euros. Este ano perdeu cerca de um quinto dos votos, portanto vai ter menos uns 65 mil euros anuais (todas estas minhas contas, neste post, são aproximações muito grosseiras).

O PAN está, mais ou menos, nas mesmas circunstâncias.

Já para o Bloco, a coisa parece que vai ficar ainda mais complicada, ainda por cima porque acentua os problemas anteriores, que começaram há algum tempo com a descida vertiginosa de 19 para 1 deputado. O Bloco passou de cerca de 275 mil votos em 2024 (920 mil euros anuais) para os actuais 120 mil, portanto deve andar pelos mesmos 350 mil, mais coisa, menos coisa, do ADN e do PAN do ano passado. É uma perda muito relevante para um partido que tinha vindo a construir uma estrutura pesada de apoio.

O PC perdeu cerca de 20 mil votos, portanto deve ficar pelos 600 mil euros de financiamento anual (uma perda de que não anda longe dos 10%), tem vindo a perder financiamento, de forma mais gradual, mas consistente, desde há muitas eleições.

O LIVRE faz o caminho inverso, ganhando 50 mil votos, aproximando-se de um financiamento de 900 mil euros anuais (um bocadinho abaixo do Bloco, no ano passado). Pode ser que tenha aprendido com o Bloco a gastar menos em estrutura em mais em produção de informação que lhe permita maior relação com os eleitores, o que lhe permitiria gerir melhor futuras flutuações de votações.

A Iniciativa Liberal tinha, no ano passado, um milhão de euros de financiamento, com os mais 20 mil votos de agora, deve crescer qualquer coisa à volta dos 50 mil euros, é dinheiro, mas é uma variação relativamente marginal.

O Chega cresceu uns 250 mil votos, portanto deve crescer uns 900 mil euros anuais de financiamento, o que deve colocar o seu financiamento anual em torno dos quatro milhões e meio de euros, provavelmente um bocadinho mais.

O PS, para além dos outros problemas todos, perdeu uns 350 mil votos, ou seja, deve perder um milhão de euros anuais, ficando aí pelos 5 milhões de financiamento (provavelmente, um bocadinho menos).

Já a AD deve poder contar com mais de meio milhão euros de crescimento, num total de mais de seis milhões e meio.

Por mim, achava útil discutir um bocadinho este outro resultado das eleições e a forma como o dinheiro dos contribuintes entra nos partidos, mas duvido que isso seja assunto que interesse a muita gente.


12 comentários

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De Anónimo a 19.05.2025 às 12:59

Sim, seria extremamente util, como questionar a necessidade de financiados. De que forma e em quanto?
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De Carlos Sousa a 19.05.2025 às 13:16

"Nas legislativas de 30 de janeiro de 2022, a taxa de abstenção situou-se nos 48,54%..."


Num sistema em que se consegue uma maioria absoluta com uma taxa de abstenção de 48,54%, se calhar era melhor rever o financiamento partidário. 
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De Pedro Oliveira a 19.05.2025 às 15:54

Caro Carlos Sousa,
Questão muito pertinente.
Não fui ver o número de votos mas , provavelmente, Costa teve menos votos nessas eleições que Montenegro ontem.
Quando perdeu com Passos teve de certeza menos votos que aqueles que Montenegro obteve ontem.
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De Sousas há muitos a 19.05.2025 às 16:52

Ora que boa ideia. Façamos então como no Brasil: quem quiser abster-se paga multa.
Toca a rever o financiamento partidário. Em alta.
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De cela.e.sela a 19.05.2025 às 14:45

podia poupar-se aumentando D. Abstenção, a vencedora habitual.
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De Anonimo a 19.05.2025 às 15:19

Importante é perceber como o Bloco tem 19 deputados com 500.000 votos, e 5 com quase 300.000
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De Não aprenderam a tabuada a 19.05.2025 às 17:15

Queres discutir os círculos eleitorais?
Aguarda por outro postal.
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De Anónimo a 20.05.2025 às 13:06

Obrigado
Ha coima ou outro tipo de sanção acessória?
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De Também gosto de envelopes a 19.05.2025 às 16:59

Não serve de muito discutir financiamentos públicos quando o real desafio são os financiamentos privados que sempre arranjam forma de escapar a escrutínio.
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De balio a 19.05.2025 às 17:01


todas estas minhas contas, neste post, são aproximações muito grosseiras


Destas "aproximações muito grosseiras" concluo que, por cada quatro votos recebidos, o partido embolsa um euro de subvenção anual. É isto?


Parece-me uma subvenção justa.


(Quando vivi na Alemanha, admirei-me de saber que, nas eleições nesse país, há - ou havia, nesse tempo - correntemente partidos que só recebem algumas dezenas de votos. Perguntei a colegas alemães porque é que tais partidos continuavam a concorrer. Eles disseram-me que, devido à subvenção que o Estado paga aos partidos, quer eles façam ou não façam eleger deputados, algumas pessoas concorrem a eleições somente para embolsarem algum dinheiro, à custa dos amigos que votam nelas.)
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De Eterno jotinha voluntário a 19.05.2025 às 17:10

Seria um sistema problemático se fosse realmente uma pescadinha de rabo na boca. Mas, como se constata, não há uma progressão automática nos valores assegurados. O financiamento tem o seu peso enquanto investimento disponível para a campanha; mas não é o factor decisivo na captação dos votos.
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De G. Elias a 19.05.2025 às 20:32

Já agora, o JPP:
O ADN volta a não eleger qualquer deputado, mas como obteve 78.914 votos tem direito à subvenção política anual no valor de 275 mil euros. O JPP está na situação inversa: embora tenha apenas 20.126 votos, conseguiu eleger um deputado, pelo que terá direito à indemnização pelo número de votos, o que representará um encaixe anual de 70 mil euros para o partido.
in PÚBLICO

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