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O tempo de Pedro Nuno Santos tem pouca importância. É o que vem a seguir que importa.
Os antecedentes
Na noite de dia 26 de setembro de 2021, o então primeiro-ministro António Costa, na primeira declaração sobre os resultados das eleições autárquicas, não sendo conhecida ainda a votação de Lisboa, congratulou-se porque os portugueses «renovaram a sua confiança no Partido Socialista». E, depois de admitir que «uma eventual derrota em Lisboa (…) penaliza qualquer partido», concluiu que «o país não é só Lisboa».
Foi pedagógico ver, depois, como o enviesamento, o preconceito, o favoritismo partidário, afectam os olhos, os ouvidos e a inteligência dos observadores engajados. É que, sendo para eles evidente que o Partido Socialista jamais perderia Lisboa, e que Fernando Medina era intocável, nenhum ouviu o que acabara de ser dito. Era, aliás, a coisa principal que Costa viera dizer antecipadamente e a título de controlo de danos: os socialistas tinham perdido a capital. Dias depois, Costa diria que não estava prevista nenhuma remodelação governamental por causa das autárquicas, e que os «refrescamentos» não se fazem no inverno.
Nem de propósito: a primavera começara há dois dias, quando Fernando Medina foi nomeado ministro das Finanças, em 22 de março de 2022.
Costa ungia o herdeiro.
A imagem
Há uma fotografia notável do dia da apresentação do «Plano de Acção» socialista, por Pedro Nuno Santos, no domingo, dia 12 de fevereiro. Mas a notável fotografia de José Sena Goulão, da Lusa, uma daquelas imagens que vale mil palavras, não é do protagonista principal, é da plateia. Obviamente, o preconceito só tinha olhos para o palanque, onde Pedro Nuno Santos discursava para «Portugal Inteiro». Mas a imagem fala mais alto. Ela mostra Alexandra Leitão, devotada «pedronunista«, olhos marejados de entusiasmo, bebendo enlevada o discurso, e, num arroubo de militância, pondo o «Plano» mais a jeito. A seu lado está o ungido, Fernando Medina, em cuja expressão a câmara, certeira e oportuna, captou o aborrecimento paciente com que espera a passagem do tempo, a nuvem de desdém que o espectáculo lhe faz perpassar no rosto. E, antes de Pedro Nuno Santos falar, já Medina tinha falado, já Medina tinha dito o que tinha a dizer e lhe convinha.
O discurso
E que disse Fernando Medina? No habitual registo socialista de realidade paralela, glorificou a obra do governo, do seu e de António Costa, na «transformação estrutural da economia», na «recuperação de rendimentos» na «convergência com a UE», na «redução do risco de pobreza», na «redução da tributação do trabalho» e no aumento de salários, e nas contas públicas – tudo coisas que não são assim, ou não são bem assim, ou têm um reverso omitido.
A «agência noticiosa» Lusa ficou, evidentemente, maravilhada, e apresentou o resumo do discurso no tom hagiográfico que costuma usar com os donos: «Com a credibilidade de ser o ministro das Finanças que deixa o país com contas públicas certas, com um dos maiores crescimentos da economia de toda a União Europeia, com as exportações em alta…» Etc.
Os «próximos» de Pedro Nuno Santos, ou os «dirigentes» ou os «membros do núcleo duro» de Pedro Nuno Santos ficaram, obviamente, aliviados: que era bom ter Medina «a caucionar o cenário»; que «é a garantia de contas certas»; que é «mais um sinal de confiança e continuidade».
Mas não eram esses os pontos principais do discurso de Fernando Medina.
Os dois pontos principais eram e são, primeiro, que se expurgarmos o discurso de tudo o que tenha a ver com a governação de António Costa e Fernando Medina… bem, não sobra discurso nenhum. Nada. Nem uma palavra sobre infraestruturas, ou ferrovia, ou Habitação, ou TAP, ou aeroporto, nada. Sem o elogio a Medina/Costa não há discurso.
E – segundo ponto fundamental do discurso – os derradeiros vinte e poucos minutos, ocupa-os Medina a classificar o que, segundo ele, foi um bom governo socialista, o dele e de António Costa: «realismo», «prudência», «consistência», «credibilidade», «previsibilidade», «tranquilidade», «constância».
Não foi decerto por acaso que resolveu enunciar os antónimos de Pedro Nuno Santos.
O herdeiro
Após a derrota nas eleições de 10 de março, o PS teimará durante bastante tempo em ignorar que o seu próprio interesse teria sido mais bem servido se tivesse sido outro, e não Pedro Nuno Santos, o sucessor de António Costa. Os media também. Os mesmos media que tão reverentemente apoiaram Costa, já vão inventando, agora, desculpas do «legado» de Costa para a mediocridade de Pedro Nuno Santos. Pois que mais poderia ele?! Estão a ver, é o legado! E acompanharão tanto tempo quanto lhes pedirem os estertores de esquerdismo radical de Santos.
Mas quando a maioria do PS e sua sede de poder constatar que o esquerdismo radical não a leva a lado nenhum, Pedro Nuno Santos terminará a fugaz e nada carismática carreira.
Não lhe sucederá António José Seguro, demasiado distante até dos «moderados», nem César, nem Carneiro, nem esse Francisco Assis que desbaratou toda a individualidade ao aderir ao que antes abominava.
Não. O sucessor será o herói sobrevivente dos anos gloriosos de Costa e Medina (cujo legado os media voltarão a glorificar). Em quem os socialistas reconhecerão o homem que governou bem, nos anos do governo de Medina e Costa; o camarada que fez tudo bem, e que esteve com o partido, até quando, abnegadamente, teve que ocupar um lugar secundário; o moderado «prudente», «previsível», «constante», «realista» de que precisam para voltarem a ocupar todos os postos do Estado e todos os postos das entidades que escrutinam o Estado. Fernando Medina, «o único e legítimo herdeiro».
O adversário
O governo da PAF foi vítima de uma ficção criada pelo Partido Socialista, e acolhida, acentuada, enriquecida, propagandeada pelos media, com destaque para as televisões: a ficção de que os riscos e os sofrimentos resultantes da bancarrota causada pelos socialistas eram culpa de quem sanou os estragos da bancarrota e devolveu credibilidade ao país.
Além da tarefa central de governar e remediar a ruína, o governo de direita saído das eleições de março deve preocupar-se menos com as pulsões radicais de Santos (ainda que venham a suscitar, inevitavelmente, o entusiasmo dos media), e mais em prevenir e contrariar desde o início – dado a dado, ponto a ponto, declaração a declaração, número a número – essa narrativa que chegará quando chegar «o único e legítimo herdeiro»: a narrativa ficcionada de que o governo de Medina (e, vá lá, também de Costa) foi um bom e progressivo governo, e não o pior governo da democracia, um colectivo incompetente e corrupto, um completo e verdadeiro desastre.
VOTAR?
Dar autorização a quem não conhecemos para durante 4 anos fazer o que lhe apetece em nosso nome (guerras, negócios, decisões, etc.)?
Indo eu, indo eu,
A caminho de Viseu,
Escorreguei, torci um pé,
Ai que tanto me doeu!»
transforam isto numa pastagem para camelos, burros e outras cavalgaduras bem ferradas
Vão ser as pessoas anónimas que, por intuição e escolha, darão a vitória-derrota, porque nem Montenegro nem PedroNunoSantos têm carisma. E o PSD, se perder, será por culpa dos votos que o Chega lhe tirou.
Uma pessoa como eu (e como milhares de outras idênticas), que não vota, raciocina de modo diferente dos que acreditam no ‘voto’ e no regime da ‘Democracia’.
O ERRO DA DEMOCRACIA, E A NECESSIDADE DE PÔR-LHE FIM.
O erro da Democracia é esse. De adoptar o critério meramente quantitativo do voto para se legitimar. 'Governar' é um exercício de Poder. E esse Poder nunca está, nem nunca estará, apenas na quantidade de votos. Razão pela qual, o regime designado 'Democracia' é a causa de tantos males, guerras e assimetrias no mundo atual. É necessário mudar de Regime. Urge, encontrar um melhor do que a 'Democracia'. Todos os regimes foram inventados, logo, muitos mais podê-lo-ão ser.
Por exemplo, a decisão de manter a soberania e independência de Portugal é uma questão de ‘quantidade de votos’, isto é, de ‘Democracia’? E ocuparem-nos a casa e prenderem-nos por causa das nossas ideias não serem conformes à maioria dos votos? Etc.
É necessário encontrar um regime melhor do que a ‘Democracia’ aprendendo com a história do passado. Percebendo como a adopção do regime da ‘Democracia’ foi fruto do positivismo e do racionalismo do séc. XIX e XX. Concretamente, do modo como se definiu o ‘Moderno’ por contraponto ao ‘Tradicional’.
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