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O orçamento de Estado e eu

por henrique pereira dos santos, em 11.10.22

Houve um tempo em que me interessava pelo Orçamento do Estado, lia-o, nos sectores que me interessavam, avaliava políticas a partir desse documento, e coisas assim.

Depois fui percebendo que o governo era muito menos importante na vida das pessoas do que me parecia.

Mais tarde, ainda antes de uma deputada se dizer enganada pelo PS no que ao Orçamento do Estado dizia respeito (o que não a impediu de continuar a votar favoravelmente os orçamentos seguintes), percebi que não valia muito a pena perder demasiado tempo com o assunto.

Do lado da despesa, percebi que o facto de uma despesa existir no Orçamento do Estado não significava que quem tinha a responsabilidade da execução a poderia usar, pelo contrário, era muitas vezes precisa mais uma autorização qualquer, quando não mesmo um processo complexo de criação de regras, regrinhas, portarias, despachos, etc..

Lembro-me, aliás, de uma conversa com o então Ministro do Ambiente, sobre os projectos de conservação da natureza a financiar pelo Fundo Ambiental, em que eu tentava argumentar que não fazia nenhum sentido ter projectos anuais, em vez de projectos a cinco anos (ou, pelo menos, a três anos), dando exemplos concretos e dizendo que bastaria olhar para os ciclos anuais da vegetação para se perceber como era pouco eficiente apoiar projectos de conservação com despesas a ter de ser executadas apenas num ano civil.

Respondeu-me o Senhor Ministro que tinha duas hipóteses: escolher a ineficiência de ter projectos só nesse ano, em que a autorização de despesa apenas dependia dele, ou optar por projectos plurianuais, bastante mais racionais, mas que passavam a estar dependentes do ministro das finanças, que com certeza apenas aprovaria a despesa a 30 de Dezembro do ano a que diziam respeito.

Portanto, do lado da despesa, o Orçamento do Estado não dá garantias  nenhumas.

Do lado da receita, o Orçamento do Estado depende de uns pressupostos macroeconómicos que ninguém é capaz de saber antecipadamente se se verificam ou não, de maneira que não vale muito a pena perder tempo em minudências, aquilo é para ser visto em grandes números.

Acresce que o Orçamento do Estado é, crescentemente, feito como os livros de charadas e enigmas, num tricotado de medidas e contra-medidas, que ninguém consegue perceber mesmo o que está em causa.

De maneira que desliguei do assunto, fico sempre espantado com a energia e esforço que os jornalistas põem na análise de um documento que sabem perfeitamente que não é para levar a sério, na esmagadora maioria das coisas que tem escritas.

Bastaria o facto, que ouvi hoje assinalado por Helena Matos, de se considerar diminuições de impostos como apoios às empresas e famílias, para se perceber como quase tudo o que diz respeito ao Orçamento de Estado não passa de um jogo de sombras.

Os impostos são a parte do meu rendimento que entrego ao Estado, isto é, quando diminuem, quer dizer que me tiram menos do meu rendimento do que tiraram antes, não é um apoio que o Estado (há quem diga, o governo) me dá, pelo contrário, eu é que estou a diminuir o apoio que dou (contra a minha vontade) ao Estado.


7 comentários

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De entulho a 11.10.2022 às 15:32

em tempo de cleptocracia estamos perante algo prejudicial que me lembra os filmes de 'cóbóis' em que havia entrega de ouro ao bandido
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De Manuel da Rocha a 11.10.2022 às 15:41

Luís Montenegro irá apresentar propostas para Portugal crescer 400%, no PIB, com inflação de 4%, ao ano durante 60 anos seguidos, com as exportações a subir 70000000000000000% para 437320 milhões de euros anuais, com medidas muito simples como a redução do IRC para 0,5%, fim da derrama, fim das tributações autónomas e o governo deixar as empresas majorar as despesas com carros, energia e combustível em 500%. O IRS em 15% fixo com 600000 euros de potenciais deduções, com os 16000 euros dedutíveis para despesas de educação (50% do total), os 15000 euros de seguros de saúde (70% do total) e a utilização de 100% do IVA das reparações automóveis e de despesas de hotelaria/restauração. Quem ganhe menos de 40000 euros anuais, que arranje melhor trabalho. Com o vencimento médio de 167000 euros, por pessoa, Portugal será o país mais rico do mundo, em 4 anos, sobre a liderança do PSD-Chega-IL-CDS. 
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De Anónimo a 11.10.2022 às 23:06

Atenção que este "Manuel da Rocha", fingindo ridicularizar da forma mais estúpida possível as lideranças da oposição, está apenas como qualquer pessoa com um mínimo de senso notará, a ridicularizar os apoiantes do PS.
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De anónimo a 11.10.2022 às 18:55


Exacto, uma opera bufa. Enquanto os deputados e a comunicação social forem todos (com raríssimas excepções) de facto apenas funcionários dependentes dos partidos/governos, o OE, e o demais exercício da política, é um espetáculo entre o caricato e o triste.  E levam-se a sério.


Se têm a certeza de serem personagens políticas tão valiosas, tão importantes para o País, porque não pôem o nome e cara deles no boletim de voto?.
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De BB a 11.10.2022 às 22:46

Disse o certo. Que infelizmente 99% da população não deve entender capturada como está pelos raptores 
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De passante a 11.10.2022 às 23:58

optar por projectos plurianuais [...] que passavam a estar dependentes do ministro das finanças, 


Vou só ali apanhar o queixo que me caiu.


Em geral admira-me que seja o que for funcione, mas os exemplos concretos são pungentes.
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De Miguel Rm a 12.10.2022 às 09:50

Excelente, vou partilhar 

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