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"Caríssimos senhores, eu ainda tenho lareira, basta nós irmos queimar um toro de sobreiro ou medronheiro e metam lá eucalipto a arder ao lado. Um arde três horas e outro ao fim de dez minutos tem a labareda muito mais alta e desapareceu. Não é preciso ir fazer um estudo científico. Basta metermos a lareira a trabalhar e metermos lá tipos de madeira diferentes".
Esta enésima declinação da ideia de que não vale a pena ler Galileu ou Copérnico porque eu todos os dias vejo o Sol levantar-se de manhã e nunca vi a Terra mexer-se, portanto sei bem que é o Sol que anda à volta de mim, e não eu à volta do Sol, foi ouvida nas audições que a Assembleia da República está a fazer sobre a reforma da floresta.
“a madeira que arde num incêndio é aquela mais miúda e morta, com menos de 10 cm de diâmetro, e arde não na frente de chamas, mas após esta passar. Madeira mais grossa pode arder, especialmente se estiver apodrecida, mas arde principalmente sem chama… Por definição, a propagação de um incêndio florestal é alimentada pelo combustível fino com diâmetro inferior a 6 mm”, diz Paulo Fernandes, que prefere estudar o fogo a sério, a ficar à lareira.
Ou seja, aparentemente, quem tem como profissão andar no campo, quem faz parte do Dispositivo Especial de Defesa da Floresta Contra Incêndios, consegue ver o que se passa na sua lareira e tirar conclusões gerais sobre fogos, ao mesmo tempo que ignora a evidência de que as árvores, num incêndio, ficam de pé e não ardem, como ardem na lareira.
Este mecanismo de seleccionar os dados que confirmam as nossas convicções - e por isso protegem a nossa identidade, de que as convicções fazem parte integrante - rejeitando toda informação que põe em questão o que acreditamos, é responsável por grande parte da irracionalidade das discussões sobre matérias que envolvem grande emocionalidade (tipicamente, política, religião, futebol, família, coisas que tal, nas quais se incluem os fogos ou os eucaliptos).
Não se pense que isto se resolve com informação, educação e formação, pelo contrário, as maiores capacidades que eventualmente consigamos através do estudo e da informação são, em geral, usadas para nos defendermos melhor da informação que questiona aquilo em que acreditamos.
É o caso de um professor universitário de economia, cujas capacidades intelectuais ninguém de bom senso questiona, mas que, confrontado com a sua profunda ignorância numa matéria em que está politicamente muito empenhado, em vez de ir estudar o assunto para procurar a verdade, usa o seu grande acesso à informação para seleccionar novos argumentos que dêem racionalidade às suas convicções.
"pergunto só por que é que a Alemanha ou a Espanha não correm para este el dorado (o eucalipto). A resposta é que é perigoso, não é que os empresários alemães ou espanhóis sejam estúpidos".
A imensa ignorância de Francisco Louçã sobre o assunto nem lhe permite fazer a análise crítica do argumento, impedindo-o de perceber que, sendo Portugal o maior produtor mundial de cortiça, o seu argumento também se aplicaria, concluindo nós que não há sobreiros na Alemanha porque é perigoso ter muitos sobreiros.
A luta contra o obscurantismo é essencialmente uma luta contra nós próprios e as nossas convicções, é por isso que é tão difícil.
E o principal instrumento que temos é mesmo o método científico, a revisão transparente e clara de dados e interpretações por terceiros que o possam fazer de forma independente.
Todas as discussões em que a nossa experiência directa é usada como a verdade definitiva e que a contestação aos argumentos de terceiros é assente na suspeita de que os interesses definiram os resultados, são apenas contributos para uma sociedade medíocre que toma decisões com base no pensamento mágico.
Compreende-se a opção: é muito mais fácil pedir que chova que preparar um território para conviver, serena e positivamente, com o fogo.
O único problema é que a realidade se compadece pouco com os nossos desejos, por mais ferverosos que sejam.
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