Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
«- Na noite em que explodiram as primeiras rebeliões contra o tratado, um homem depois de tomar o chá com a família, pôs os dois sobrolhos carrancudos, levantou a gola do casaco, e preparou-se a sair para as barricadas. Sobressalto da esposa, que branca de morte lhe pergunta, da cancela, o que vai ele fazer.
- O que vou fazer? Juntar-me aos meus irmãos: a pátria agoniza: saberei morrer, se for mister.
Ela lhe suplica pela Virgem, que suba, e não exponha o repouso dos filhos: o que ainda mais aziuma o ardor marvótico do bravo. Mas já na rua, mirando os ares nublados:
- Cuidas então tu que isto pode ficar assim? Com mil demónios, nunca! Ouves? Manda-me cá abaixo o guarda-chuva.»
Este é um trecho de Os Gatos de Fialho de Almeida, pelo autor intitulado «Caricatura da valentia alfacinha». Frise-se: por ele, não por mim. Até porque não é sobre alfacinhas que vou estender um pouco mais as palavras - antes sobre o inenarrável "navio NRP Mondego".
Já li, vi e ouvi quaisquer coisas sobre essa embarcação fantasma e desobediente que se recusa fazer ao mar, que mete água e fumega parecida com um motor gripado. Persiste atracada no Funchal, já lá levou o almirante Gouveia e Melo e outras altas patentes da Marinha, recambiou a tripulação insubmissa para o continente, criou facções, contratou o Garcia Pereira, silenciou Marcelo por cognome O Trovador, e deu voz a sargentos-mores da Armada, lembrando os tenebrosos tempos da I República e do Arsenal donde os marinheiros saíam atrás dos eclesiásticos e dos monárquicos.
Confesso, não tenho opiniões formadas sobre esta epopeia de amarras ao cais. Afinal o navio afunda ou não afunda? O almirante da pandemia é, ou não, um chefe sensato? Estará ou não estará o pré em dia? É o Mondego que mete água ou será o Ministério da Defesa com os cofres vazios? E a NATO continua a contar com ele, ou apontar-lhe-á os arrozais lá para a Figueira?
Nada sabemos. Profetizo mais uma comissão para analisar o caso. E uns tantos discursos, deslizando rapidamente da exaltação para uns ténues dizeres. Depois a escuridão total e o escandalo que se segue. Tal é a República e a sua tradição de marinhagem.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
O jornalismo anda a pisar maus caminhos. Cada vez ...
Peço desculpa por não comentar sobre o assunto des...
Os javalis parece que já meteram os papéis(finalme...
Vai ver que ainda vai perceber o que escrevi: a ló...
Sim, mas aí as árvores são parte da lógica! Uma pr...