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Começo com uma declaração de interesses: tinha 11 anos em 25 de Abril de 1974 e os meus pais nunca tinham tido qualquer atividade política. Isto dito, recordo-me de não ter ido às aulas o que é sempre uma festa para um miúdo com aquela idade. Estava no 2º ano do ciclo preparatório (era o tempo das reformas Veiga Simão) e em Outubro daquele ano passei para o Liceu Pedro Nunes. Não me recordo de ouvir comentários políticos por parte dos meus pais nos primeiros dias após revolução mas a minha avó materna, desde logo, começou a anunciar o perigo comunista e que a desgraça tinha chegado ao nosso país; ela era uma salazarista de “primeira linha” e só mais tarde (ao ler devidamente a história da 1ª República e do Estado Novo) percebi os excessos de linguagem com que nos brindava com os seus comentários. Eu sou o mais velho de três irmãos e por isso nunca tinha ouvido qualquer conversa sobre lutas académicas nas universidades ou de quaisquer perseguições políticas e a PIDE foi uma sigla que comecei a ouvir com o 25 de Abril. A guerra colonial, essa sim, entrava em nossas casas todos os anos via TV: pelo Natal a RTP deslocava-se às ex colónias e entrevistava longas filas de soldados que enviavam mensagens para os seus familiares; era um “filme” que me impressionava e, muito especialmente, ficava sem entender os silêncios de muitos que se recusavam a falar. Em casa este era um tema tabu: apesar de assistirmos às mensagens dos militares nunca se falava da guerra (vagamente ouvia a referência aos “terroristas”). Os partidos políticos foram uma das muitas novidades que vieram com a revolução e muitos iniciaram a sua militância política; o meu pai filiou-se no PSD e algumas vezes o acompanhei (em 1975) em saídas noturnas para colagem de cartazes: ainda me recordo dos baldes com cola e dos largos pincéis mas também de alguma preocupação do meu pai pois registavam-se encontros com grupos mais à esquerda que, por vezes, resultavam em pancadaria; hoje, ao recordar esses tempos, constato a boa vontade e o genuíno interesse em participar na política e ao lembrar os nomes daqueles que participavam nestes grupos de “colagens” encontro pessoas de várias profissões e de múltiplas famílias. Por tudo isto eu não sou do antes do 25 porque era um miúdo e não sou propriamente do 25 pois fui apenas um espectador. Mas também não pertenço à geração daqueles (como por exemplo os meus filhos) para quem a Revolução é mais uma matéria para um teste de história. De alguma forma até, pertenço a uma geração algo privilegiada pois não se envolveu emocionalmente com o antes e nem com o após mas que assistiu presencialmente a tudo o que aconteceu.
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