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Uma das maiores falácias woke é o empolamento do "lugar de fala", uma expressão que, no essencial, reflecte a ideia marxista da natureza de classe, substituindo a classe pelo grupo identitário que se pretender.
É assim que há quem passe o tempo a dizer que só as pessoas que sofreram racismo é que podem falar apropriadamente de racismo, só as mulheres é que se podem pronunciar sobre direitos de mulheres, só as pessoas LGBTI+ é que podem verdadeiramente expressar opiniões sobre matérias relacionadas com identidade de género, só as vítimas de assédio discutem legitimamente o assédio, e por aí fora.
Desta patetice resultam depois elaboradas teorias como a que garante que Mamadou Ba não é racista porque apesar de basear todo o seu discurso e acção pública na luta de classes (desculpem, na luta de raças, ou melhor na luta entre grupos racializados), um negro nunca poderá ser racista porque é apenas uma vítima em luta contra a opressão.
Independentemente de achar a expressão "lugar de fala" uma boa expressão, e de achar um ponto relevante para análise do discurso de cada um, estranho que nunca seja aplicada à direcção totalmente burguesa do Bloco de Esquerda que insiste em falar em nome dos trabalhadores, ou aos dirigentes dos sindicatos que se deslocam de onde vivem e trabalham as pessoas que pretendem representar para a profissionalização sindical, alterando o seu "lugar de fala".
Na verdade, acho toda esta conversa sobre o "lugar de fala" excessivamente manipulada pelos que pretendem vedar a entrada na discussão dos que discordam dos seus pressupostos, seja qual for a discussão.
O exemplo que mais me divertiu nos últimos dias é do candidato a vice-presidente dos EUA que acompanha Trump e resolveu dizer uma coisa qualquer sobre "cat ladies" que dominariam a candidatura adversária, isto é, mulheres que têm gatos em vez de filhos, questionando a sua legitimidade para tomar decisões que afectam o futuro dos filhos dos outros.
A declaração em si é bastante tonta, provavelmente injusta para muita gente (nem sequer é evidente quando a ausência de filhos decorre de uma opção, aliás legítima, ou de circunstâncias que as pessoas envolvidas não controlam, sendo portanto involuntária) mas, e é isso que me interessa neste post, é uma aplicação bastante canónica da argumentação baseada no "lugar de fala".
E, desse ponto de vista, uma boa demonstração da falácias das argumentações baseadas na crítica ao "lugar de fala" do adversário.
Vance não tem razão nenhuma em questionar a legitimidade das adversárias falarem do futuro com base no seu "lugar de fala", mas isso não se prende com a substância do assunto, é mesmo um problema da natureza das argumentações que pretendem atribuir ao "lugar de fala" uma legitimidade superior nas discussões.
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