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O jornalismo faz falta, os jornalistas, nem sempre

por henrique pereira dos santos, em 08.11.24

Catarina Martins: "Enquanto diretora da Refer, custou milhões à empresa pública em contratos swap".

Maria Luís Albuquerque: "relativamente à minha passagem pela Refer e aos contratos de swaps, eu desconheço a fonte de informação da Senhora Deputada, mas o resultado dos contratos de swaps que eu contratei na Refer foi um benefício superior a 40 milhões de euros para a empresa".

Há anos que o jornalismo alimenta a conversa dos SWAPs a propósito de Maria Luís Albuquerque, dando origem a intervenções como a que citei, de Catarina Martins, no parlamente europeu, esta semana.

O Público, a 29 de Agosto, depois do anúncio da escolha do governo para a Comissão Europeia, tinha esta capa:

publico-2024-08-29-8787ec3c.jpg

O Observador, em 28 de Agosto, faz esta peça, em que fala em nove polémicas que envolveram Maria Luís Albuquerque, e a primeira delas diz exactamente respeito aos SWAP.

Não estamos, pois, a falar de 2011, estamos a falar de 2024, 13 anos depois dos factos, que os senhores jornalistas já tinham mais que obrigação de ter escrutinado: Maria Luís Albuquerque, enquanto governante, esteve envolvida na decisão de acabar com os contratos SWAP ruinosos que existiam nas empresas públicas (uma das manobras manhoas das empresas públicas para se endividarem sem afectar as contas do défice, ou seja, um efeito colateral da desastrosa gestão financeira do Partido Socialista e de Sócrates) e a oposição (que inclui a generalidade do jornalismo), resolveu meter todos os contratos SWAP no mesmo saco, bons e maus, atribuindo a Maria Luís Albuquerque responsabilidades directas no que isso custou aos contribuintes por causa de contratos que, no caso dela, até correram bem para a empresa.

É porque o jornalismo mantém essa fantasia, que Catarina Martins mente, com quantos dentes tem na boca, 13 anos depois, no Parlamento Europeu (pode-se discutir se tecnicamente é uma mentira, no sentido em que penso que Catarina Martins é suficientemente ignorante na matéria para estar mesmo convencida de que os SWAP contratados por Maria Luís Albuquerque na REFER resultarem em prejuízos para a empresa, embora o artigo que publicou, no dia anterior, no Público, com José Gusmão, me leve a duvidar desta hipótese caridosa).

O que faz o jornalismo?

Como se pode ver nesta peça, reproduz o que diz Catarina Martins (como eu fiz neste post), reproduz o que diz Maria Luís Albuquerque (como eu fiz neste post) e abstém-se de verificar os factos que o levariam a concluir, preto no branco, que a afirmação de Catarina Martins é totalmente falsa, como seria obrigação de qualquer jornalismo sério.

Sim, o jornalismo é essencial a uma sociedade democrática e liberal.

Convém é saber que jornalismo não é o que fazem jornalistas, é uma actividade com regras e pressupostos, que precisa de jornalistas, sim, mas nem tudo o que os jornalistas fazem é jornalismo.

Actualmente, a esmagadora maioria da actividade dos jornalistas, de que é exemplo o que descrevo neste post, está muito longe de poder ser considerado jornalismo.

E, por isso, não tem qualquer valor social.


18 comentários

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De henrique pereira dos santos a 09.11.2024 às 06:55

Obrigado por confirmar que vários desses contratos eram ruinosos para as empresas públicas que eram obrigadas a financiar-se de forma criativa pela situação financeira que o governo do PS tinha conduzido o país, ao optar por respostas erradas ao contexto desfavorável que existia.
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De Anonimo a 09.11.2024 às 08:29

São contratos assinados livremente por duas partes num mercado livre. Isso é conversa de Mortágua. O mercado funciona.
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De henrique pereira dos santos a 09.11.2024 às 09:19

Independentemente da discussão sobre se uma empresa pública é um agente livre no mercado, o facto é que os mercados reagem a estímulos (é mesmo a sua grande virtude) e as empresas públicas, com o seu accionista sem capital e acumulando prejuízos, têm de se endividar.
Como o mercado de dívida estava praticamente fechado para elas, tiveram de recorrer a esquemas mais criativos e muito mais arriscados.
Não percebo em que é que dizer isto contraria o facto de serem mercados a funcionar, num contexto que é fortemente influenciado pela política de endividamento do Estado português.
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De Anonimus a 09.11.2024 às 17:54

Não importa se o agente é livre, o mercado é que é livre. Só lá está quem quer. Se o mercado for livre, ele regular-se-á por si mesmo, com os preços a adequarem-se conforme as necessidades da oferta e procura, e não por decreto oficial. 
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De henrique pereira dos santos a 10.11.2024 às 07:54

Resolve fugir a responder ao assunto, repetindo a treta de que existem mercados perfeitos.
A discussão sobre a existência de mercados perfeitos é uma discussão inútil, porque nunca ninguém, em lado nenhum, fora das páginas dos livros de economia, encontrou um mercado perfeito.
O que está em discussão é apenas se os SWAP contratados por Maria Luís Albuquerque, naquelas circunstâncias concretas, tiveram como resultado prejuízos ou ganhos para a empresa.
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De Anonimo a 10.11.2024 às 11:05

O mercado não é perfeito, apenas os wokes são perfeitos na sua virtude. Os mercados adaptam-se, perseguindo constantemente algo que se aproxime da perfeição. 
Os resultados das swap foram os contratualizados aquando da sua redacção. Todas as partes envolvidas sabiam dos prós e contras.
Deixem os agentes operar, livres das amarras do estatismo.
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De henrique pereira dos santos a 10.11.2024 às 18:26

E quanto ao que interessa, os SWAP contratados com Maria Luis Albuquerque na REFER, deram lucro ou prejuízo à empresa?

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