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"O que dizem dos "médicos pela verdade"? O que deve ser feito em relação a esta situação?
DM - São "médicos pelas mentiras". E usurpam o prestígio da profissão médica numa tentativa de as credibilizar aos olhos da opinião pública. Isto é muito grave, pois tem sérias implicações de saúde pública. Deveriam ser impedidos de continuar a exercer medicina e responsabilizados criminalmente."
Quem assim fala é David Marçal, que se apresenta assim: "Traduzo conceitos científicos complexos numa forma a que a maioria das pessoas possa entendê-los. Após um percurso de investigação sólido, na academia e na indústria, tornei-me um comunicador de ciência. Para isso, tirei partido da minha experiência como criativo nas Produções Fictícias. Crio e giro projetos ambiciosos para promover a cultura científica. Escrevo livros, peças de teatro, programas de comédia, programas de televisão e histórias de ciência em jornais. E regularmente defendo a ciência no debate público."
Como curriculum para definir quem deve ou não deve exercer medicina, convenhamos que é fraquito.
Não é, pois, por ter dedicado ao assunto "honesto estudo com longa experiência misturado" que David Marçal se sente à vontade para defender a ostracização de médicos, é apenas porque esse é o ar do tempo.
Nada me liga aos médicos pela verdade, nem a nenhum desses grupos pela verdade, até porque estou convencido de que somos todos pela verdade, só que muitos temos a dúvida de Pilatos "o que é a verdade?".
David Marçal não, David Marçal dirá, sem hesitação, "a verdade sou eu".
Por isso não tem dúvidas em condenar ao ostracismo os que não reconhecem a sua verdade, penso que sem se aperceber que está a mimetizar o comportamento de todos, rigorosamente todos, os autocratas do mundo quando justificam a censura: não podemos permitir o perigo que a heterodoxia representa para a sociedade.
Tanto quanto sei - nunca fui investigar quem são, nunca fui ler o que escrevem, etc. - sei quem são dois médicos cuja ligação aos médicos pela verdade tenho como certa, por eles próprios o terem dito.
Um é um velho amigo de infância, que perdi de vista muito anos, filho de médico, com uma carreira sólida na medicina e sobre o qual nunca ouvi o mais leve rumor de má prática médica.
Sobre o segundo, outro médico, que o conhecia bem profissionalmente, disse-me logo que era um crânio, muito bom no campo dele e tinha salvo a vida de um nome que me disse e eu conhecia. Um médico do melhor no seu campo de especialidade.
Pois bem, David Marçal, do alto da sua arrogância, como acha que as opiniões, sublinho bem, as opiniões, de quem quer que seja são um grande risco para a saúde pública, quer combater essas opiniões impedindo práticas clínicas de bom nível e com a responsabilização criminal dessas opiniões, sublinho bem, dessas opiniões.
Se são as elites intelectuais que não percebem a barbaridade da criminalização de opiniões, e não percebem que todos os torcionários do mundo justificam a criminalização de opiniões com motivos semelhantes aos invocados - a saúde pública é um clássico, a corrupção da juventude é a alegação usada contra o Sócrates da cicuta, a destruição do tecido social é muito usada, etc. - então só não estamos tramados porque a cegueira dos intelectuais nestas matérias é lendária, como poderia testemunhar Camus, se fosse vivo, e o povo costuma ser bem mais sereno e sensato.
Caro David Marçal, se a defesa que faz da ciência no debate público é a ostracização da divergência, talvez a ciência precise de mais de ser defendida de si que por si.
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