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O inigualável David Marçal

por henrique pereira dos santos, em 04.12.20

"O que dizem dos "médicos pela verdade"? O que deve ser feito em relação a esta situação?
DM - São "médicos pelas mentiras". E usurpam o prestígio da profissão médica numa tentativa de as credibilizar aos olhos da opinião pública. Isto é muito grave, pois tem sérias implicações de saúde pública. Deveriam ser impedidos de continuar a exercer medicina e responsabilizados criminalmente."

Quem assim fala é David Marçal, que se apresenta assim: "Traduzo conceitos científicos complexos numa forma a que a maioria das pessoas possa entendê-los. Após um percurso de investigação sólido, na academia e na indústria, tornei-me um comunicador de ciência. Para isso, tirei partido da minha experiência como criativo nas Produções Fictícias. Crio e giro projetos ambiciosos para promover a cultura científica. Escrevo livros, peças de teatro, programas de comédia, programas de televisão e histórias de ciência em jornais. E regularmente defendo a ciência no debate público."

Como curriculum para definir quem deve ou não deve exercer medicina, convenhamos que é fraquito.

Não é, pois, por ter dedicado ao assunto "honesto estudo com longa experiência misturado" que David Marçal se sente à vontade para defender a ostracização de médicos, é apenas porque esse é o ar do tempo.

Nada me liga aos médicos pela verdade, nem a nenhum desses grupos pela verdade, até porque estou convencido de que somos todos pela verdade, só que muitos temos a dúvida de Pilatos "o que é a verdade?".

David Marçal não, David Marçal dirá, sem hesitação, "a verdade sou eu".

Por isso não tem dúvidas em condenar ao ostracismo os que não reconhecem a sua verdade, penso que sem se aperceber que está a mimetizar o comportamento de todos, rigorosamente todos, os autocratas do mundo quando justificam a censura: não podemos permitir o perigo que a heterodoxia representa para a sociedade.

Tanto quanto sei - nunca fui investigar quem são, nunca fui ler o que escrevem, etc. - sei quem são dois médicos cuja ligação aos médicos pela verdade tenho como certa, por eles próprios o terem dito.

Um é um velho amigo de infância, que perdi de vista muito anos, filho de médico, com uma carreira sólida na medicina e sobre o qual nunca ouvi o mais leve rumor de má prática médica.

Sobre o segundo, outro médico, que o conhecia bem profissionalmente, disse-me logo que era um crânio, muito bom no campo dele e tinha salvo a vida de um nome que me disse e eu conhecia. Um médico do melhor no seu campo de especialidade.

Pois bem, David Marçal, do alto da sua arrogância, como acha que as opiniões, sublinho bem, as opiniões, de quem quer que seja são um grande risco para a saúde pública, quer combater essas opiniões impedindo práticas clínicas de bom nível e com a responsabilização criminal dessas opiniões, sublinho bem, dessas opiniões.

Se são as elites intelectuais que não percebem a barbaridade da criminalização de opiniões, e não percebem que todos os torcionários do mundo justificam a criminalização de opiniões com motivos semelhantes aos invocados - a saúde pública é um clássico, a corrupção da juventude é a alegação usada contra o Sócrates da cicuta, a destruição do tecido social é muito usada, etc. - então só não estamos tramados porque a cegueira dos intelectuais nestas matérias é lendária, como poderia testemunhar Camus, se fosse vivo, e o povo costuma ser bem mais sereno e sensato.

Caro David Marçal, se a defesa que faz da ciência no debate público é a ostracização da divergência, talvez a ciência precise de mais de ser defendida de si que por si.


19 comentários

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De António Pires a 04.12.2020 às 17:01

No meio do post refere-se a Marçal Grilo. Deve ter sido lapso, não?
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De henrique pereira dos santos a 04.12.2020 às 20:05

Entre outras asneiras, sim, já corrigi, obrigado
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De Anónimo a 04.12.2020 às 17:05


E se repentinamente a "pandemia" se estinguir?. Se as vacinas terminarem defenitivamente com insalubridade indígna, que se passa em certos Lares da 3ª idade, o núcleo duro de esta pandemia?. Que prestígio restará para a classe política/médica que deitou fora o bebé -a sociedade- com a água do banho?.
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De Vasco Machado a 04.12.2020 às 21:53

O Sr. David Marçal é apenas um dos rostos da nova inquisição. Na ciencia tem que haver debate aberto e não posições fechadas. A historia está recheada de exmplos (veja-se Galileu).
O que mais me revolta é que tal como Galileu sinto-me impotente.
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De Anónimo a 05.12.2020 às 06:51

Vamos então ao debate aberto. 
E que tal um programa de televisão para discutir de forma aberta o terraplanismo ? 
E que tal um programa de televisão para discutir de forma aberta a superioridade intelectual dos brancos sobre os negros ?

E que tal um programa de televisão para discutir de forma aberta o Creacionismo ?
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De henrique pereira dos santos a 05.12.2020 às 08:27

Suponho que consegue perceber a diferença entre achar que todas as opiniões devem ser consideradas em pé de igualdade e achar que as pessoas que eventualmente tenham a opinião de que a terra é plana, achem que existe superioridade intelectual dos brancos, sejam creacionistas ou achem que a apropriação colectiva dos meios de produção é a solução para a injustiça e a pobreza sejam impedidas de exercer as suas profissões e responsabilizadas criminalmente.
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De Anónimo a 05.12.2020 às 12:22


Criacionismo. Que tal ir tirar a quarta classe?
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De Anónimo a 06.12.2020 às 19:00

Ao escolher esses três temas demonstrou bem o seu nivel de argumentação.
Se calhar seria de facto muito interessante promover um debate sobre os três e ainda mais interessante se as pessoas genuinamente questionassem sobre o que sabem sobre essas matérias como é que o sabem ?
Sabem porque sempre lhes foi dito ? e se assim foi como é que sabem que é verdade e não estão erradas ?
QUando a ciencia se tornar um dogma, avé maria, bem vindos á idade das trevas novamente.
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De Anónimo a 04.12.2020 às 23:48

Quando isto acabar faço votos que haja um tribunal tipo Nuremberg para julgar estes nazizitos de merda.
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De Anónimo a 05.12.2020 às 12:25

só nao concordo com o uso do diminutivo. Eles copiam tal e qual as técnicas nazis de desumanizaçao dos "inimigos" e dai que, apesar de estarem a ser desmentidos desde o primeiro minuto, optem pelo insulto (negacionistas, de todos os insultos tinham de escolher este, para banalizarem o seu uso até que nao signifique nada...)
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De Alfredo J. M. Rodrigues a 05.12.2020 às 08:37

Excelente artigo.
Curto claro e conciso.
Prepare-se para defender o direito a ter a sua própria opinião, que segundo parece se prepara legislação europeia para acabarem com "dissidentes" como os que por aqui ainda existem.
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De Vasco Machado a 05.12.2020 às 13:36

Assustador! Inacreditavel como é que uma situação de saude publica em menos de 9 meses se transforma no controlo das pessoas por uma elite dirigente, eleita (algumas, outras nomeadas) numa democracia que neste momento só carrega quase só o seu nome. Está tudo dito quando o primeiro ministro, para justificar as medidas aplicadas, apresenta 3 noticias de jornais. Não sei se Orwell escreveu o Animal Farm como critica ao “paraiso comunista”, ou se imaginava que esta realidade fosse possivel. Em qualquer caso o seu romance foi premonitorio.

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De V.Valente a 07.12.2020 às 17:37

LOL.... amigo... salta ja para o chemtrails... nao percas tempo
Mete a mascara e cala-te
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De Jorge Pacheco de Oliveira a 05.12.2020 às 10:06

Entre 7 e 9 de Setembro de 2018 realizou-se na Faculdade de Letras da Universidade do Porto uma Conferência respeitante ao tema das alterações climáticas, sendo moderador o cientista sueco Nils Axel Mörner (1938-2020) um conhecido céptico das teorias do IPCC. Os oradores eram igualmente críticos das teses climáticas do IPCC.

Foi quanto bastou para que David Marçal se tenha desdobrado em esforços, quer em escritos agressivos no blog De Rerum Natura, quer numa entrevista televisiva com o pivot do Programa Eixo do Mal, para tentar impedir a realização da Conferência, a qual, segundo ele, e não só (infelizmente também Carlos Fiolhais, por exemplo) deveria ser proibida por reunir um conjunto de “negacionistas” que mais não fariam senão atentar contra uma ciência estabelecida e reconhecida pela maioria dos cientistas de todo o mundo.

Em suma, ao não reconhecer que a crítica faz parte do processo científico e que não pode haver ciências imunes ao debate ou à contestação (“falsificação” como dizia Karl Popper) David Marçal fez o papel de um inquisidor dos tempos modernos. Não fica nada bem a um “comunicador de ciência”.

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De pitosga a 05.12.2020 às 13:17


Ora bolas...
Só tropeçamos com bestas. Enquanto não alargarmos o zoológico — e com internamento compulsivo — não lhes dê trela...

Abraço
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De Albano Silva a 05.12.2020 às 18:00

Creio que DM considera a opinião daqueles médicos não como opinião científica, mas sim como afirmação negacionista, um sacrilégio para os fundamentalistas de serviço. Masmorra com aqueles!
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De Octávio dos Santos a 06.12.2020 às 21:05

David Marçal é o co-autor de um novo livro, publicado em Novembro, e que é divulgado e (efusivamente) elogiado aqui...


http://malomil.blogspot.com/2020/12/apanhados-pelo-virus.html



... Num texto escrito, curiosamente, por alguém que também vem revelando muitas dificuldades em ver as suas «certezas» contestadas, indo ao extremo de querer «expulsar» comentadores... Mas adiante. No referido texto nota-se que o livro aponta Donald Trump como o «principal alvo» das críticas dos autores no que se refere à forma como indivíduos e instituições de todo o Mundo reagiram à pandemia, o que me deixou intrigado: então a China, o governo de Pequim, o Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, não são efectivamente os maiores culpados?  


O outro co-autor é Carlos Fiolhais, que, nunca é de mais recordar, foi um dos «vencedores» do Prémio José Mariano Gago em 2018, por um projecto em que um dos seus colaboradores naquele era também membro do júri:


https://www.publico.pt/2018/06/13/culturaipsilon/noticia/obra-premiada-pela-spa-vai-ter-envolvimento-de-um-membro-do-juri-1834174 
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De Anónimo a 07.12.2020 às 01:01

Deixo aqui o CV "Cientifico" do David Marçal. 
https://orcid.org/0000-0001-5152-788X



É doutor em Bioquímica, da educação. 


Catarina Silva

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