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Na passada terça-feira, na Sic, José Miguel Júdice vergastou a impreparação e a ignorância (chegou a dizer a estupidez) dos media portugueses e em particular das televisões e respectivos correspondentes em Paris (referindo a própria Sic mais do que uma vez) sobre as eleições francesas. Num registo pormenorizadamente informado e claro, compreensível por uma criança ou um golden retriever, distinguiu entre extrema direita e direita radical, e entre extrema esquerda e esquerda radical (ainda beneficiámos do divertidíssimo momento em que Clara de Sousa perguntava qual era mais extremista, se a esquerda radical, se a extrema esquerda, com a resposta «a extrema, claro»). Júdice explicou como a União Nacional de Marine Le Pen se vinha moderando e com isso conquistando votos; explicou quem é o senhor Melenchon, como é abominado por uma enorme maioria de franceses, e enunciou várias medidas extremistas e catastróficas da Frente Popular que ele encabeça, como o imposto sucessório de 100%, os casos em que certos escalões de IRS passariam a pagar mais de 100 mil euros por cada fatia de rendimento de 100 000 euros, e outras propostas arrasadoras de qualquer economia ou sociedade.
Mas foi em vão. Com o enviesamento irracional e ignorante com que nos bombardeiam diariamente, os media continuaram a pintar os seus quadros de céus e terrores a preto e branco. Com um nojo inexplicável da parte de quem tanto defende o estatismo, os nossos media detestam a estatista Le Pen, e incensam inúteis como Melenchon -- que para eles é «de esquerda», visto nunca reconhecerem na esquerda nem radicalismo, nem extremismo. E com os fragmentos de história que trazem colados com cuspo, lá vieram com as glórias de Leon Blum e os horrores de Vichy.
Ontem, na SicNotícias, o correspondente da noite em Paris, Ricardo Costa, confessou com inultrapassável clareza qual é o grau de cegueira, enviesamento, presunção (e, sim, estupidez) do canal que dirige.
Cito literalmente: «Aquilo que para nós nos parece absolutamente claro, a extrema-direita ou não a extrema-direita, para uma parte dos eleitores [franceses] não é assim tão claro porque há interesses contraditórios». E, depois de referir «o pormenor» de episódios violentos de anti-semitismo cometidos [pela extrema-esquerda], que segundo Costa, «causaram incómodos nos partidos de esquerda», rematou e insistiu que o que está em questão «em primeiro lugar é isso mesmo, há ou não um governo de extrema-direita».
A reportagem de Costa tem, é verdade, uma faceta apreciável: a de deixar «absolutamente claro» que quem procura informação não deve procurar a Sic. É além disso suicida, por crer que o público comerá disto indefinidamente, mas ele lá saberá.
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