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Uma das burocracias das eleições são os debates que deixaram de ser decididos por jornalistas, com critérios jornalísticos, para passarem a ser decididos com base em critérios burocráticos: só (quase) partidos parlamentares e todos em pé de igualdade teórica (quase).
Nem o facto da Iniciativa Liberal, quando ainda não era um partido parlamentar, e o Chega, terem demonstrado que a importância de enxamear a televisão com discursos pré-formatados é muito relativa, levou a que se questionasse este modelo.
Dentro deste modelo, a AD decidiu que os debates deveriam ser divididos entre os parceiros da coligação, escolhendo Montenegro para uns, e Nuno Melo para outros.
É uma opção que tem argumentos pró e contra, mas é uma opção sem grande relevância e sem grande efeito no resultado das eleições (como se, por exemplo, Nuno Melo ser esmagado num debate com Mariana Mortágua determinasse alterações de voto relevantes).
A esquerda e o jornalismo (peço desculpa pelo pleonasmo), resolveu fazer desta irrelevância uma grande questão, como é seu hábito de cada vez que as regras do debate não são inteiramente determinadas pela esquerda.
A tontice é tal que ontem, no Público, havia um editorial assinado por Helena Pereira, divertidíssimo, desde o título "Luís Montenegro e o Rei Sol", aos argumentos ("Cavaco Silva, que nunca aceitou debates com adversários políticos" é apenas um dos mais absurdos e sem qualquer relação com a realidade), passando pela sua tese central.
A ideia central do editorial, cuja lógica me escapa totalmente, é a seguinte: "Montenegro quer que a campanha eleitoral para as eleições de 18 de Maio se centre exclusivamente em si e no seu governo ... por isso pretende reduzir ao máximo a participação em debates televisivos ... Luís Montenegro, qual Rei Sol, quer que todos os caminhos dêem a si, ao seu Governo e ao seu estilo de liderança", portanto, se bem percebo, uma pessoa que quer concentrar tudo em si, decide que alguns debates sejam feitos por outros.
Parece-me uma lógica semelhante aos que acusam Montenegro de ser pouco democrático por dividir os debates entre si e o seu parceiro de coligação, mas vão avisando que se recusam a debater com esse parceiro de coligação, só aceitam debates com uma pessoa e que o fundamental é a discussão das políticas e não das pessoas.
A mim parece-me que só a completa viciação em raciocínios circulares típicos de comunidades fechadas faz com que não se veja a infantilidade de tudo isto, desde a definição de regras burocráticas sem grande sentido para a generalidade das pessoas (basta ver as audiências dos diferentes debates para perceber que as pessoas comuns distinguem perfeitamente a relevância social de um debate entre Montenegro e Pedro Nuno Santos e a relevância social de um debate entre Inês Sousa Real e Rui Tavares) até este tipo de argumentação que não tem ponta por onde se lhe pegue, a propósito de um assunto largamente irrelevante.
O facto do Bloco de Esquerda ter dez vezes mais apoiantes e simpatizantes que o Chega a debitar platitudes no espaço mediático não altera o facto do Chega ter dez vezes mais deputados que o Bloco de Esquerda, e isso, pelos vistos, não leva os jornalistas a questionar-se sobre a relevância do que andam a fazer, pelo contrário, não resistem aos remoques de típica superioridade moral pelo facto de Montenegro ter decidido dar uma entrevista a Manuel Luís Goucha, em vez de dar trela aos bonzos do jornalismo político ("Cavaco não queria debates e só dava entrevistas, mas não a programas da tarde, como agora é moda", escreve Helena Pereira do fundo do seu rancor por haver políticos que, justamente, não lhe dão a importância que acha que merece).
Relaxem, nem os governos têm a importância que se atribuem a si próprios, nem o jornalismo tem a importância que atribui a si próprio, nem os debates televisivos têm a importância que se lhes quer dar, e muito menos tem importância se o debate entre o Livre e a AD é com Montenegro e Tavares, Paulo Muaxo e Nuno Melo ou o Rato Mickey e o Pateta.
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