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O estranho caso do número de alunos sem aulas

por henrique pereira dos santos, em 04.07.25

Durante anos, os alunos sem aulas foram, e bem, matéria de debate político.

O actual ministro, Fernando Alexandre (declaração de interesses, conheço-o electronicamente, gosto bastante dele independentemente da inversa não ser necessariamente verdadeira, e tenho-o como pessoa competente e muito séria) fez desse assunto uma questão política central, e tomou um conjunto de medidas para resolver o problema, tomando como indicador de gestão a informação oficial.

Quando anunciou uma vitória política que ninguém acreditava ser possível, levantou-se o problema da fiabilidade dos números usados (é uma técnica muito usada pelos sindicatos e outros satélites do PC, partido com uma longuíssima tradição de torturar os números até que digam o que o partido quer).

Fernando Alexandre, que talvez tivesse desvalorizado alguns avisos anteriores sobre essa fiabilidade (compreensivelmente, é absurdo que os serviços do ministério da educação, nomeadamente os seus funcionários de topo que contactam com o ministro frequentemente, não tivessem demonstrado que números eram aqueles e o que significavam, mas este absurdo é o padrão da administração pública actual, que sabe que grande parte do seu poder reside na capacidade que os directores gerais consigam criar no controlo da informação que chega aos decisores políticos), mas independentemente disso, não procurou escapatórias, reconheceu que afinal os números não serviam para o que pretendia e mandou fazer uma auditoria externa.

Os resultados da auditoria são os que seriam de esperar por quem conheça bem o estado deplorável da administração pública, especialmente na sua capacidade de produzir informação de gestão relevante, que os sistemas de produção de informação existentes eram incapazes de produzir a informação pretendida.

O normal seria toda a gente bater palmas ao ministro que procurou apresentar resultados baseados em evidências, que no processo descobriu que a administração é incapaz de produzir informação relevante para a gestão de problemas relevantes e que, por isso, ao contrário de todos os outros que andaram a discutir o problema durante anos, mandou reformular os sistemas de produção de informação, de acordo com práticas de gestão sólidas.

Mas o normal não é o habitual, forçosamente, e o que aconteceu foi o habitual: o jornalismo caiu em cima do ministro por não ter informação relevante.

Os outros ministros andaram a gerir o problema sem essa informação, os jornalistas fazem, há anos, o triste papel de alimentar discussões com base em números que não servem para essas discussões, e quem leva na cabeça é o ministro que desencadeou mecanismos consistentes para resolver o problema de base da informação de gestão de que necessita (ele, todos os ministros depois dele e todos os gestores que continuam a gerir com base em informação que não serve para o que se pretende).

Claro que há nisto um lado cómico (não é, humoristas?), mas não deixa de ser deprimente.


9 comentários

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De Anonimo a 04.07.2025 às 11:58


totalmente de acordo.
Apenas uma nota:


'Do ponto de vista das tradições e padrões de uso do português culto, não se recomendam o uso de evidência como sinónimo de prova, nem a substituição deste por aquele. Trata-se de um anglicismo semântico; ou seja, a (enganadora) semelhança da palavra portuguesa com a inglesa evidence, que, entre vários significados, abrange os de «prova» e «demonstração», pode ter motivado  essa extensão semântica de evidência, por exemplo, em traduções menos cuidadas.'
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De henrique pereira dos santos a 04.07.2025 às 12:11

Provavelmente tem razão, mas testando o que diz, escreveria "apresentar resultados baseados em provas", o que estando evidentemente bem, não sei se, hoje, é mais expressivo que a forma que usei.
Vou fazer umas consultas, para saber se usar evidência, com o significado de prova, está mesmo ao nível de usar antecipar com o sentido de prevêr ou, muito pior, usar infame com o significado de conhecido.
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De henrique pereira dos santos a 04.07.2025 às 12:11

Sim, prever está mal escrito, tem um acento de circunflexo a mais
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De Anonimo a 04.07.2025 às 17:45

Provavelmente até no dicionário entrou... mas é um anglicismo semântico, tal como a famosa resiliência...
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De henrique pereira dos santos a 04.07.2025 às 20:07

Resiliência é uma questão completamente diferente.
Resiliência sempre existiu em português e é a propriedade física de um material retomar a forma original depois de deformado por uma pressão quando ela desaparece.
Era usado com este sentido, desde sempre, na física.
De há tempos para cá, generalizou-se o seu uso, fora da física, perdendo-se grande parte do rigor da definição.
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De Anonimo a 04.07.2025 às 20:58

Resiliência,  tal como evidência,  são palavras que existem.
Os seus significados foram bastardizados pelo anglicismo. Resilient person é alguém resistente. Tal evidência passou de evidence.
Já agora, outro ódio de estimação, a virtualidade enquanto virtude.
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De Anónimo a 04.07.2025 às 16:42


O problema é que a palavra inglesa evidence não tem tradução adequada em português.
Quando muito pode-se, em certos casos, usar "dados".
Mas concordo totalmente que usar "evidência" para traduzir evidence é uma calinada muito grande na língua portuguesa.
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De cela.e.sela a 04.07.2025 às 15:37

«Na guerra cultural que se globalizou, “Portugal enquadra-se perfeitamente no campo da liberdade como um país que sempre foi um farol da Civilização Ocidental. Portugal é um país orgulhoso e com um povo extraordinário. Merece ser livre.”

Quem o diz é Javier Milei, Presidente da República Argentina, no prefácio que fez para o mais recente livro promovido pela Oficina da Liberdade.

Numa altura em que em Portugal são silenciadas as magníficas notícias da notável trajectória de estabilização económica que a Argentina está a operar por intermédio de Javier Milei, o livro escrito por Philipp Bagus e editado agora em Português em parceria com o grupo LeYa, tem potencial para ser uma obra maldita para a esmagadora maioria dos comentadores, especialistas e políticos portugueses que ainda há bem pouco tempo classificavam de “louco” o Presidente da Argentina e consideravam o seu projecto uma deriva fascista daquele país sul-americano. ...

Telmo Azevedo Fernandes


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De passante a 04.07.2025 às 17:16

Quando se descobre que uma coisa está partida, o culpado é quem estiver mais perto na altura.


Infalível. "You know my methods"  

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