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Com os números de casos, internamentos e mortalidade - e que muito provavelmente irão continuar a ser expressivos até ao fim de Janeiro - voltou o discurso do "fecha tudo, já!", incluindo uma pressão crescente para fechar escolas, discurso esse que pretende que os números da epidemia em Portugal resultam do laxismo do Natal, o que demonstra a necessidade de uma mão-de-ferro para controlar a epidemia.
Froes não conta. Durante o tempo todo tem sido esse o seu discurso, as justificações para essa opção é que vão variando ao longo do tempo, parecendo evidente que a sua campanha para liquidar a actividade viral no Verão, através de medidas ainda mais restritivas, assentava numa mão cheia de nada: não há, nas regiões temperadas do hemisfério Norte, na Europa e América, qualquer evidência de que teria sido possível evitar o crescimento da actividade viral no Outono/ Inverno.
Mas com a notável excepção de Elisabete Ramos, bastante mais cautelosa, e mais alguns que vão dizendo que correlação estatística não é demonstração de causa/ efeito, a generalidade do que se ouve vai no sentido de que isto só lá vai com um lockdown como o da Primavera passada, que aliás tem vindo a ser adoptado em alguns países.
Olhando para os números portugueses, sem muito cuidado, o argumento parece sólido, embora Elisabete Ramos vá lembrando que a subida de casos começa ali em 26 e 27 de Dezembro, o que manifestamente é incompatível com a ideia de que o problema foi o Natal, embora não seja incompatível com a ideia de que foi não só o Natal, mas também o tempo anterior ao Natal.
Não sendo possível haver fazer agora um Natal com muitas restrições para avaliar o efeito, o mais próximo que temos disso é olhar para os países em que houve natais com muitas restrições.
A diversidade da evolução das diferentes curvas é bastante grande e por isso escolhi um país que várias vezes tenho visto referido como uma boa demonstração de que as medidas funcionam e o seu relaxamento tem grandes consequências.
Na Primavera a Irlanda teve uma mortalidade relevante (o pico andou entre os 60 a 70 mortos diários, para uma população que é metade da portuguesa, ou seja, equivalente a uns 120 a 140 mortos de média a sete dias, em Portugal) e actualmente, apesar do pico de casos por volta de 20 de Outubro, a mortalidade tem andado abaixo de dez mortos, na média dos sete dias, o que provavelmente vai ser alterado nos próximos dias em consequência do actual crescimento de casos.
Olhemos agora para este gráfico mas fazendo a cronologia das medidas adoptadas pelo governo irlandês.
A 12 de Março fecharam as escolas (ver número 1 no boneco abaixo), a 15 os locais públicos, a 27 fechou tudo (2).
A meio de Maio (3) as medidas começaram a ser levantadas e no fim de Junho (4) os negócios abriram todos, embora se mantivessem muitas restrições. Ao longo de Agosto recomeçaram a impor-se restrições localizadas nos "counties" em que havia maior actividade viral detectada.
A 5 de Outubro (5) o Governo aumenta as restrições, incluindo o fecho dos restaurantes que passaram a poder só funcionar em takeaway ou em esplanadas exteriores, a 15 de Outubro o governo proibe as visitas a casa entre membros de diferentes agregados familiares e a 19 de Outubro (6) o país entra num lockdown total (seguindo o padrão habitual, os dados já demonstravam, nessa altura, uma diminuição do Rt e uma desacelaração dos contágios, na enésima demonstração de que a relação entre as medidas e as curvas de casos existe, mas é a inversa da que é referida habitualmente: o número de casos comanda as medidas, não são as medidas que comandam o número de casos).
Nos primeiros dias de Dezembro (7) as medidas são relaxadas e o comércio e outras actividades podem reabrir. Apesar de ter previsto medidas de maior abertura para o Natal, o governo irlandês recua e decreta um novo lockdown total a 22 de Dezembro (8), o que inclui o período de Natal, isto é, adopta exactamente o tipo de medidas que agora, em Portugal, se diz que poderiam ter evitado o crescimento de casos que se verificam.
Nesse dia 22 de Dezembro, o número de casos foi de 961 casos, ontem foi de 7 832, ou seja, apesar de um Natal com medidas de restrição duríssimas, que ainda agora vigoram, entre 22 de Dezembro e 7 de Janeiro o número de casos aumentou mais de oito vezes, contra um aumento de quatro vezes em Portugal, com um Natal relaxado.
Quer isto dizer que o descrito acima (e resumido no boneco abaixo) demonstra que as medidas são inúteis?
Claro que não, quer simplesmente dizer que se mantém válido um princípio fundamental na análise estatística: correlação não é causalidade.
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