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Muitos amigos ambientalistas acham que eu sou demasiado economicista.
Eu não sei bem o que querem eles dizer com isso de economista, mas o que eu entendo é simples de ilustrar.
Um dia destes um dos meus filhos anuncia que, pela segunda vez este ano, estava nas urgências de ortopedia.
Um dos primos, mais velho e mais sensato, comenta que o melhor é ele vender a mota.
Eu apresso-me a dizer-lhe para ter calma: vender uma mota na urgência de ortopedia é escolher o pior sítio que existe para se vender uma mota.
Esta pequena história sem interesse serve apenas para ilustrar o que eu entendo que é ser economicista.
Esta história vem a propósito deste boneco que teve bastante saída nos meios ambientalistas, que gostam muito de malhar nos vôos de ligação relativamente próxima, como se demonstrou quando uma das meninas do costume se colou a um avião que ligava Lisboa ao Porto e o Kelly Slater do movimento ambientalista (Francisco Ferreira, o quase eterno presidente da Quercus que se transferiu para o eterno presidente da Zero) veio dizer que era uma boa intervenção porque realmente a aviação de proximidade era uma coisa absurda, do ponto de vista da sustentabilidade.
Um economicista tranquilo, como eu, o que faz, em primeiro lugar, é saber qual é o peso das emissões da aviação nas emissões globais (2.5% nas emissões mundiais, 8% respondeu um comentador, mas o essencial mantêm-se, mais de 90% das emissões dizem respeito a outras coisas e a aviação de proximidade é uma pequena percentagem das emissões globais da aviação).
Depois, o que faria, se tivesse paciência, era comparar com outras fontes de emissões que nunca são incomodadas pelos ambientalistas mais vocais (por exemplo, os milhões de animais domésticos, dominantemente cães e gatos, que são criados e mantidos vivos em sistemas que visam essencialmente o prazer dos seus donos, visto que aos animais é vedado o seu desenvolvimento integral, incluindo a socialização, a liberdade, a reprodução, etc.).
Deixando de lado este fait divers, o que faria um economicista tranquilo seria avaliar o investimento e custo de operação da alternativa de mobilidade identificada no boneco: quantos recursos seriam necessários para transferir os utilizadores dos aviões para comboios, sabendo que essas contas não são fáceis de fazer.
Por exemplo, há um conjunto muito relevante de pessoas que defende a gratuitidade dos transportes públicos como forma de transferir deslocações de modos individuais para modos colectivos e, dessa forma, garantir uma mobilidade mais sustentável.
Ao que parece (e não sou especialista no assunto, limitei-me a ver umas referências nesse sentido cuja solidez não sei verificar) há evidência de que com essa medida os transportes públicos passam a ser mais utilizados, mas não se consegue encontrar evidência de que o transporte privado diminua, ou seja, aparentemente a gratuitidade dos transportes públicos motiva mais deslocações, mas não reduz as deslocações em modo privado (ao contrário das medidas coercivas de limitação de acesso à mobilidade privada em áreas especialmente congestionadas).
Retomando o essencial, sabendo que as contas não são fáceis de fazer, um economicista tranquilo tende a olhar para o investimento necessário para que haja uma alternativa ferroviária entre Lisboa e Porto (nem falo das mais duvidosas entre Lisboa ou Porto e Barcelona) e discutir o seu custo de oportunidade, isto é, se os mesmos recursos, aplicados à outras fontes de emissões (que, recordemos, são responsáveis por mais de 90% das emissões) não conseguem maiores reduções de emissões.
Se, como é o meu caso, o economista tranquilo for também liberal, tenderá a achar que a forma mais eficiente de fazer essa discussão não é no âmbito das discussões sobre políticas públicas, mas aumentando a liberdade de fixação do preço das diferentes possibilidades, deixando aos mercados - e os mercados são as pessoas, convém ir sempre repetindo - o desenvolvimento das melhores soluções.
É que o risco dos decisores políticos decidirem proibir as deslocações de avião dos ricos (é assim que serão sempre apresentadas) apenas para não perder os votos dos muitos milhares de donos de cães e gatos, mesmo que proibir os vôos dos ricos seja uma solução menos eficiente (isto é, obriga a um maior uso de recursos para obter um resultado menor), é muitíssimo grande, muito maior que deixar ao mercado - e o mercado são as pessoas - a procura das soluções que, em cada momento, permitem alocar recursos à acções que permitam uma maior diminuição de emissões consumindo menos recursos.
E é por isto que insistem em me acusar de economicismo, achando que me estão a insultar, quando na verdade eu acho que é um grande elogio que me fazem.
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