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O economicista tranquilo

por henrique pereira dos santos, em 27.11.23

Muitos amigos ambientalistas acham que eu sou demasiado economicista.

Eu não sei bem o que querem eles dizer com isso de economista, mas o que eu entendo é simples de ilustrar.

Um dia destes um dos meus filhos anuncia que, pela segunda vez este ano, estava nas urgências de ortopedia.

Um dos primos, mais velho e mais sensato, comenta que o melhor é ele vender a mota.

Eu apresso-me a dizer-lhe para ter calma: vender uma mota na urgência de ortopedia é escolher o pior sítio que existe para se vender uma mota.

Esta pequena história sem interesse serve apenas para ilustrar o que eu entendo que é ser economicista.

404967939_10160342226202585_2986021346094677500_n.

Esta história vem a propósito deste boneco que teve bastante saída nos meios ambientalistas, que gostam muito de malhar nos vôos de ligação relativamente próxima, como se demonstrou quando uma das meninas do costume se colou a um avião que ligava Lisboa ao Porto e o Kelly Slater do movimento ambientalista (Francisco Ferreira, o quase eterno presidente da Quercus que se transferiu para o eterno presidente da Zero) veio dizer que era uma boa intervenção porque realmente a aviação de proximidade era uma coisa absurda, do ponto de vista da sustentabilidade.

Um economicista tranquilo, como eu, o que faz, em primeiro lugar, é saber qual é o peso das emissões da aviação nas emissões globais (2.5% nas emissões mundiais, 8% respondeu um comentador, mas o essencial mantêm-se, mais de 90% das emissões dizem respeito a outras coisas e a aviação de proximidade é uma pequena percentagem das emissões globais da aviação).

Depois, o que faria, se tivesse paciência, era comparar com outras fontes de emissões que nunca são incomodadas pelos ambientalistas mais vocais (por exemplo, os milhões de animais domésticos, dominantemente cães e gatos, que são criados e mantidos vivos em sistemas que visam essencialmente o prazer dos seus donos, visto que aos animais é vedado o seu desenvolvimento integral, incluindo a socialização, a liberdade, a reprodução, etc.).

Deixando de lado este fait divers, o que faria um economicista tranquilo seria avaliar o investimento e custo de operação da alternativa de mobilidade identificada no boneco: quantos recursos seriam necessários para transferir os utilizadores dos aviões para comboios, sabendo que essas contas não são fáceis de fazer.

Por exemplo, há um conjunto muito relevante de pessoas que defende a gratuitidade dos transportes públicos como forma de transferir deslocações de modos individuais para modos colectivos e, dessa forma, garantir uma mobilidade mais sustentável.

Ao que parece (e não sou especialista no assunto, limitei-me a ver umas referências nesse sentido cuja solidez não sei verificar) há evidência de que com essa medida os transportes públicos passam a ser mais utilizados, mas não se consegue encontrar evidência de que o transporte privado diminua, ou seja, aparentemente a gratuitidade dos transportes públicos motiva mais deslocações, mas não reduz as deslocações em modo privado (ao contrário das medidas coercivas de limitação de acesso à mobilidade privada em áreas especialmente congestionadas).

Retomando o essencial, sabendo que as contas não são fáceis de fazer, um economicista tranquilo tende a olhar para o investimento necessário para que haja uma alternativa ferroviária entre Lisboa e Porto (nem falo das mais duvidosas entre Lisboa ou Porto e Barcelona) e discutir o seu custo de oportunidade, isto é, se os mesmos recursos, aplicados à outras fontes de emissões (que, recordemos, são responsáveis por mais de 90% das emissões) não conseguem maiores reduções de emissões.

Se, como é o meu caso, o economista tranquilo for também liberal, tenderá a achar que a forma mais eficiente de fazer essa discussão não é no âmbito das discussões sobre políticas públicas, mas aumentando a liberdade de fixação do preço das diferentes possibilidades, deixando aos mercados - e os mercados são as pessoas, convém ir sempre repetindo - o desenvolvimento das melhores soluções.

É que o risco dos decisores políticos decidirem proibir as deslocações de avião dos ricos (é assim que serão sempre apresentadas) apenas para não perder os votos dos muitos milhares de donos de cães e gatos, mesmo que proibir os vôos dos ricos seja uma solução menos eficiente (isto é, obriga a um maior uso de recursos para obter um resultado menor), é muitíssimo grande, muito maior que deixar ao mercado - e o mercado são as pessoas - a procura das soluções que, em cada momento, permitem alocar recursos à acções que permitam uma maior diminuição de emissões consumindo menos recursos.

E é por isto que insistem em me acusar de economicismo, achando que me estão a insultar, quando na verdade eu acho que é um grande elogio que me fazem.


19 comentários

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De lucklucky a 27.11.2023 às 08:48

Alta velocidade ferroviário um giantesco investimento em algo fixo, dependente de uma única rota geográfica, de um único sistema de poder e de uma única  tecnologia.


O contrário da flexibilidade necessária ao desenvolvimento tecnológico rápido.
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De urinator a 27.11.2023 às 09:14

nas viagens profissionais fora desta lixeira já pensei em ir a pedibus calcantibus 
ou viajar no mundo da utopia
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De Anonimo a 27.11.2023 às 09:15


Comboios, cães e gatos.
Não me parece que a analogia seja credível (já aquela entre os direitos dos touros, e os dos animais transaccionados em lojas, ou da defesa dos ecossistemas e introdução de espécies não nativas como animais de companhia...), mas adiante.
Dois pontos: a gratituidade dos transportes públicos diminui ou não o uso do carro. Há países onde tal acontece, é ver os dados (não os sei), mas uma coisa é certa, apenas funciona se os transportes públicos responderem. Há uns anos com a crise, uma delas, as pessoas viraram-se em Lisboa (que é um caso à parte no país nesta área) para o transporte público, e a coisa rebentou. Portanto, de pouco valerá colocar os mesmos de borla, quando a resposta é ineficiente. No meu caso pessoal, usei-os em Lisboa por uma questão de comodidade, e porque respondiam às minhas necessidades, não por uma questão ecológica. Não o fiz quando residi em Coimbra, em que a alternativa era 15 minutos de carro vs meia hora de autocarro(s), com sorte.
Ferrovia, da qual sou adepto. Depois de anos de "investimento" na Linha do Norte, que de nada serviram, a opção é a alta velocidade? Não sou perito, mas parece-me mais uma daquelas calinadas que no fim vai ser um sorvedouro, e que nada servirá a "coesão territorial". Estou mesmo a ver o total abandono da Linha do Norte, de modo a promover esta. Não vejo aqui uma prioridade, quando a linha do Oeste é uma miséria, em parâmetros albaneses, e as linhas que servem os eixos Litoral-Interior não valem um chavelho. Seria provavelmente mais importante uma linha Lisboa-Madrid, que permitisse rápido acesso ao resto da Europa. Mas aposto que o Governo, ainda mais com o PNS, tem um plano ferroviário a nível nacional.
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De Anónimo a 27.11.2023 às 09:16

Portanto está de acordo com a taxação de carbono na aviação para diminuir as emissões? É que isso não existe.
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De balio a 27.11.2023 às 09:32

Que emissões prejudiciais ao clima é que os cães e gatos promovem?
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De Anonimo a 27.11.2023 às 13:07

Um dos partidos em ascensão na Nederlândia é o BBB, de matriz rural e que defende a agro-pecuária contra as restrições que querem impor ao número de vacas, devido aos gases e aos nitratos. Podem ser aliados do Dr Wilders no Governo.
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De aleitao a 27.11.2023 às 18:54

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De Alberto Mendes a 27.11.2023 às 10:59

"An average-sized cat can produce 310 kilograms (https://www.zerosmart.co.uk/post/the-average-carbon-footprint-of-a-pet) (CO2e) annually. An average-sized dog generates 770 kg of CO2e, and an even bigger dog can emit upwards of 2,500 kilograms of CO2e, which is twice as much as the emissions deriving from an average family car per year. "


https://earth.org/environmental-impact-of-pets/#:~:text=An%20average%2Dsized%20cat%20can,average%20family%20car%20per%20year.


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De urinator a 27.11.2023 às 12:41

10 milhões peidam metano porque comem melhor que milhares de portugueses
deviam desccontar para a SS ou  Schutzstaffel Escuadrón de protección do governo
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De Albino Manuel a 27.11.2023 às 10:32

Por acaso ando desejoso da vinda do comboio Lisboa-Madrid. Parece que lá para meados de 2024/2025 já haverá um - da Renfe, claro, a CP está descalça - que poderá fazer o trajecto em 4/5 horas. Como abomino o aeroporto de Lisboa, é quase uma carta de alforria. O que tenho lido, sem perceber do assunto, é que para distâncias até 600 km o comboio de alta velocidade tem vantagem sobre o avião. No caso de Lisboa falta ver o impacto no aeroporto e no seu hub. Diria que para voos intercontinentais o melhor seria tomar o comboio e embarcar num aeroporto da vero, Adolfo Suarez.


Quanto às preocupações ambientalistas, digamos que acho (sim, acho) que têm muito que se lhe diga; veja-se o caso de Sines. Bem que os ambientalistas podiam encomendar uma missa anual de acção de graças em Fátima. Quem pôs na lei a exigência de estudos de impacto ambiental para tudo deu-lhes um maná que faria inveja a Moisés. Basta pensar: qualquer intervenção humana afecta o ambiente. É árido? Há um lagarto único, uma poeira que faz bem aos pulmões. É húmido? E as minhocas que enriquecem a terra? ...segue-se o protesto, o aviso, a imprensa, o parecer, a litigância sobre o parecer. Uma mina (cheia de morcegos).
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De G. Elias a 27.11.2023 às 16:42

Ainda estou para perceber como é que a renfe vai fazer 4 ou 5 horas entre Madrid e Lisboa se actualmente o trajecto Madrid Badajoz leva 4h40m.
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De Albino Manuel a 27.11.2023 às 16:54

Estão a electrificar a linha. Actualmente parece a nossa CP: comboios avariados, atrasos, ar condicionado kaputt (no Verão deve ser uma sauna). Badajoz para eles é uma coisa perdida e atrasada, tipo vizinhos do lado.
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De G. Elias a 27.11.2023 às 19:21

Electrificação não é necessariamente sinónimo de maior velocidade.
De qualquer forma, mesmo que façam 5 horas de Lisboa a Madrid isso corresponde a uma velocidade comercial de... 120 km/h - isto não é bem AV...
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De Anonimo a 27.11.2023 às 14:08


É difícil defender o transporte público ferroviário quando as soluções apresentadas são aquele passe nacional, que não passa de um embuste.
Depois lá aparece o argumento de que não vale a pena investir, porque as pessoas não aderem... são comodistas, não vivem sem o popó, não gostam do meio ambiente...
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De G. Elias a 27.11.2023 às 16:41

As pessoas usam o popó porque as pessoas querem autonomia, a qual dificilmente conseguem com os transportes públicos existentes.
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De balio a 27.11.2023 às 17:32


gostam muito de malhar nos vôos de ligação relativamente próxima


Já há em operação na China táxis aéreos, nos quais as pessoas são transportadas por ar de um lado para o outro de uma cidade.


Quando isso cá chegar (se chegar, claro) os ambientalistas terão ainda muito mais em que malhar.
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De marina a 28.11.2023 às 02:54

não fazia ideia. fui ver, taxi drone, sem piloto e elétcricos, altamente.
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De vasco Silveira a 27.11.2023 às 20:23

"Depois da extensão, a contenção (https://corta-fitas.blogs.sapo.pt/depois-da-extensao-a-contencao-8082430)"


Foi dia 13 a sua publicação. Já se esqueceram dos benefícios da Contenção?
Não façam as contas: Contenham-se! 
Se conseguirem ...

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