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O drama, o horror: ele tem uma empresa

por henrique pereira dos santos, em 16.02.25

Os conflitos de interesse são uma coisa séria, mas não substituem a lei.

Agora é porque Montenegro tem uma empresa que no seu objecto social tem uma actividade que, em tese, pode beneficiar de uma alteração à lei.

É possível que a empresa beneficie disso? É.

É plausível que a empresa beneficie disso? Não.

Não, por várias razões, algumas directamente relacionadas com a natureza da lei (aplica-se a uma percentagem ínfima de terrenos, em circunstâncias muito condicionadas, com processos de decisão complexos e abertos, envolvendo muita gente), outras com a dimensão do escrutínio a que é sujeito Montenegro (e a generalidade dos políticos com mais notoriedade), que transformaria qualquer tentativa de beneficiar da lei numa actividade de elevadíssimo risco (uma imprudência, portanto).

Para além de que o facto que pode gerar mais valias já existia (a transformação de solo rústico em urbano é trivial no processo de planeamento), apenas se alteraram alguns (poucos, na minha opinião) procedimentos, dispensando burocracia inútil.

Dir-se-á que o conflito de interesses não depende de se materializar, é um risco que tem de ser acautelado.

Sim, é verdade, é por isso que não é ilegal haver conflito de interesses, pode ser politicamente desastroso, pode ser eticamente discutível, pode ser desaconselhado em circunstâncias concretas, mas o conflito de interesses não pode ser levado a um extremo tal que um agricultor seja impedido de ser ministro da agricultura, o que deve acontecer é que o conflito de interesses deve ser explícito, tão transparente quanto possível, mas só a materialização real ou com elevada probabilidade, é que deve ser sancionada.

Infelizmente, em Portugal, frequentemente os populistas não gostam de empresas e empresários e basta a mera posse de uma empresa para desqualificar alguém para o exercício de cargos públicos, com base em descrições de ligações que, frequentemente, são meros devaneios.

Elvira Fortunato é das cientistas portuguesas mais premiadas e consideradas, com uma grande capacidade de mobilização de recursos para as suas equipas de investigação (isso não é um defeito, é uma grande qualidade).

Temporariamente foi ministra, com a tutela da área da ciência (ainda bem, à partida, eu ficaria mais preocupado se a tivessem nomeado ministra das finanças).

No exercício do cargo tomou decisões que, evidentemente, em tese, podem beneficiar os seus grupos de investigação (por exemplo, se forem reforçadas as verbas para a investigação, em tese, os seus grupos de investigação aumentam as probabilidades de ter mais recursos).

Depois do exercício do cargo, voltou tranquilamente para a sua carreira de investigação.

Há conflito de interesse?

Sim, parece-me uma evidência.

Isso deve impedir ou condicionar fortemente a sua escolha para ministra com a tutela da ciência?

Não, parece-me uma evidência.

Que se escrutine as decisões de tomou e que se avalie em que medida os seus grupos de investigação (e, consequentemente, ela própria) foram desproporcionalmente beneficiados, acho natural e benéfico.

O que não faz o menor sentido é fazer coisa diferente quando em vez de ser um académico, um funcionário, ou um jornalista, está em causa uma pessoa que tem actividade privada ou faz (ou investe) em empresas.

Ou melhor, faz sentido para os populistas, para mais ninguém.


39 comentários

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De Anónimo a 16.02.2025 às 16:39

Da dor-de-corno e das suas insondáveis ramificações...populistas...
Juromenha
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De JPT a 16.02.2025 às 19:51

Concordo. No entanto, diria que, na mesma semana em que sai a acusação do "Tutti Frutti" (apesar de quase todos os media terem, certamente por acaso, optado por falar de quem não foi acusado), e em que Portugal aparece a par com países africanos (os avançados, por enquanto) nos índices da percepção da corrupção, o Sr. Primeiro-Ministro ter convidado para o seu governo (para substituir um autarca investigado por mau uso de dinheiros públicos) o presidente da câmara que adjudicou 200 mil euros em ajustes directos ao seu escritório de advogados (que não é uma Morais Leitão, PMLJ, VdA, ou Sérvulo), parece-me que limita o interesse do "post". Se o Sr. Sr. Primeiro-Ministro conhece o conceito de "conflito de interesses" (o que não é líquido, porque, em Portugal, o mesmo é contra-intuitivo), então evidencia a mesma consideração por esse conceito, que o Dr. Ferro Rodrigues exprimia pelo de "segredo de justiça". 
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De henrique pereira dos santos a 17.02.2025 às 09:14

O post não é sobre essa escolha, mas sobre o drama e o horror do senhor primeiro ministro ter tido, e transferido para a família, uma empresa.
Qual é o conflito de interesse envolvido no facto de se nomear para o governo uma pessoa que há anos atrás fez um ajuste directo que já foi escrutinado e sobre o qual há pouco a dizer?
Quantos escritórios de advogados conhece que sejam contratados, seja por quem for, por concurso, para funções deste tipo (há concursos, internacionais, até, para assessorar privatizações, fusões e coisas desta dimensão, mas pergunto, para trabalhos do mesmo tipo, quantos conhece)?
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De JPT a 17.02.2025 às 09:47

Dito por outros palavra: a troca de favores ao arrepio das regras sobre conflito de interesses (o exemplo dos advogados aplica-se a empresas de meios e comunicação, de consultoria, de construção civil, e até, como se sabe, de troca de lâmpadas), se for institucionalizada ou generalizada, e não tiver enquadramento penal, está bem, e não mina absolutamente nada o regime, mesmo feita assim, "à descarada". Sei que o post não é sobre esta escolha, daí começar por concordar com ele, mas parece-me "assobiar para o lado".
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De henrique pereira dos santos a 17.02.2025 às 10:48

Qual troca de favores? Pode ser mais explícito?
A menos que esteja a alinhar pela tese de João Miguel Tavares, que a mim me parece completamente absurda, de que a nomeação (em segunda instância, visto que foi uma nomeação de substituição de outro escolhido primeiro) de uma pessoa para um cargo governamental é a paga de um favor ocorrido há anos, favor esse que é uma adjudicação directa sem qualquer contorno de excepcionalidade e numa altura em que não seria possível saber que, anos mais tarde, poderia existir essa retribuição.
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De JPT a 17.02.2025 às 11:05

A mera aparência de troca de favores devia ser suficiente para o Sr. Primeiro-Ministro ter excluído essa nomeação. Nomear um ex-cliente (o autarca, não a autarquia, que parece que continua cliente) para um cargo prestigiado e bem remunerado cria essa aparência. Tal como cria essa aparência (e constitui um óbvio conflito de interesses) um autarca do PSD escolher um escritório de um  destacadíssimo militante do PSD para prestar serviços ao seu município. Mas, claro, "sempre foi assim, dizem sempre foi assim", e, não só não há sinais de que venha a ser diferente, como não há quaisquer preocupações a esse respeito, mesmo na era da Internet e do base.gov. E é esse o problema.
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De henrique pereira dos santos a 17.02.2025 às 11:33

Uma nomeação de um secretário de estado, anos depois, parece-lhe uma troca de favores por uma adjudicação directa de um serviço prestado normalmente?
O cliente é a câmara, mas mesmo que diga que é um ex-cliente, isso quer dizer que Montenegro não poderia nomear o presidente da PT por ter um contrato MEO?
Não falo já no facto de considerar que ocupar uma obscura secretaria de estado é ter um cargo prestigiado (tem a certeza?) e bem remunerado (tem a certeza?).
Tem mesmo a opinião de que as câmaras de um partido devem excluir de todas as contratações os militantes do partido a que pertence um presidente de câmara (excepto se estiverem em empresas suficientemente grandes como no caso de Rangel)? É que, mesmo que tenha essa opinião, ela é inconstitucional, portanto, na mesma circunstância, não a poderia usar como justificação da sua decisão.
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De JPT a 17.02.2025 às 15:08

Inconstitucional? Que um autarca de um partido seja impedido de adjudicar contratos, por ajuste directo, ao escritório de um advogado que é militante desse partido (com exercício de cargos dirigentes e de elevada exposição pública)? Seria assim, se o autarca estive a defender o seu interesse privado (como provavelmente esteve, aliás), mas estando em jogo interesse público e dinheiros públicos gostaria de saber qual a norma ou princípio constitucional que é lesada por esta restrição à contratação (numa situação de óbvio conflito de interesses).
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De henrique pereira dos santos a 17.02.2025 às 17:23

O que é inconstitucional é proibir a adjudicação seja do que for a alguém por ser do partido A ou B
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De lucklucky a 17.02.2025 às 14:51

Qualquer advogado - boa parte dos ministros  e deputados - que faça leis poderá beneficiar do aumento legislativo que tanto gostam de fazer.
Estranhamente isso não é conflito de interesses.
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De Anónimo a 17.02.2025 às 09:37

Muito antes desse conflito de interesses tínhamos o caso do ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Rangel, que é um dos principais advogados da sucursal em Portugal da principal sociedade de advogados europeia (a Cuatrecasas), a qual já fez imenso dinheiro em ajustes diretos com Câmaras Municipais portuguesas.
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De JPT a 17.02.2025 às 10:51

Há um contra-senso nessa frase. Se, como refere, a Cuatrecasas é a "principal sociedade de advogados europeia", é natural que o Estado contrate os seus serviços, mesmo em ajuste directo, tal como é normal que, como referi acima, contrate os serviços de uma "Morais Leitão, PMLJ, VdA, ou Sérvulo". Já não é tão natural que contrate, com todo o respeito, o escritório do Dr. Montenegro. Será cruel esta conclusão, mas é mesmo assim.
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De Anónimo a 17.02.2025 às 09:32


Antes de Elvira Fortunato já um outro cientista fôra ministro da Ciência: Mariano Gago. E pode-se argumentar que enquanto tal beneficiou particularmente o seu grupo de investigação (o LIP). Apesar disso, é unanimemente considerado o melhor ministro da Ciência que Portugal já teve.
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De Anónimo a 17.02.2025 às 09:33


os populistas não gostam de empresas e empresários


Um exemplo: o populista André Ventura apodou Montenegro "magnata do imobiliário".
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De Anónimo a 17.02.2025 às 12:08

Na ciência, o financiamento é distribuído através de concursos competitivos avaliados por juris, frequentemente internacionais, com base em critérios objetivos e de mérito. Nas empresas, os ajustes diretos são frequentes e não existem mecanismos suficientemente claros que evitem o tráfico de influência e retorno de favores. Portanto que uma cientista seja ministra e depois regresse à sua profissão não configura qualquer conflito de interesses pois o sistema está munido de suficientes corta-fogos para evitar que tal retorno tenha como consequência uma vantagem nos concursos competitivos onde se distribuem fundos (muitos dos quais internacionais diga-se). A comparação, não, pronto qualquer utilidade. 
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De henrique pereira dos santos a 17.02.2025 às 12:52

Sim, toda a gente sabe que na ciência não há endogamia, compadrio, corrupção e afins (não sei se alguma vez ouviu falar de um tal Boaventura Sousa Santos, por exemplo, que se fartava de ganhar concursos internacionais de financiamento) e que na gestão camarária não há escrutínio, oposição, obrigações legais de transparência, etc..
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De Anónimo a 17.02.2025 às 15:25

Mandar bojardas é barato, de facto. A endogamia que refere faz-se ao nível do recrutamento. Essa existe na academia como em todos os níveis da administração geral do Estado. O financiamento de projetos é algo diferente. Faz-se em concursos competitivos, com juris independentes, frequentemente internacionais. A Elvira Fortunato prescindiu, como é público, de financiamento do ERC (European Research Council) quando assumiu a tutela do Ministério por incompatibilidade. Estes são projetos europeus com taxas de aprovação entre 3-6%. Os painéis de avaliação são multinacionais com até 15 membros. Acresce à avaliação dos painéis uma avaliação externa com até 6 revisores independentes (muitos deles de fora da Europa). Se tem alguma indicação que há corrupção ou qualquer tipo de favoritismo nestes painéis, ou, já agora, em painéis análogos  da FCT, avance lá então com essas indicações. Caso contrário, é uma mera conjectura difamatória de quem procura construir um argumento com pés de barro por teimosia ou ideologia. Em qualquer caso, é muito pouco honesto. 
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De henrique pereira dos santos a 17.02.2025 às 17:25

Não sei se opta por fingir que tudo na academia se passa em concursos limpos, ou se opta por confundir a minha afirmação (definição de políticas públicas) com concursos internacionais voluntariamente.
Qual é a percentagem que os concursos ERC representam na totalidade do financiamento para a ciência que existe, pode dizer-me?
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De Anónimo a 17.02.2025 às 18:16

O ERC é um exemplo relevante pela pessoa concreta que deu como exemplo, mas o financiamento nacional competitivo emula o mesmo modelo de painéis independentes e revisores externos internacionais. Volto a dizer que se tem algo de substancial para dizer, além de levantar suspeitas infundadas sobre sistemas de avaliação que seguem preceitos internacionais, diga. Tudo o que passe pela FCT segue estes procedimentos. De resto, eu não tenho opinião sobre o assunto Montenegro, pois não o estudei, mas colocar em pé de igualdade a Elvira Fortunato, os supostos conflitos de interesse que incorreria ao regressar à academia depois de ter sido ministra da tutela, com eventuais tráficos de influência que existem entre políticos, empresas e municípios (onde os procedimentos de avaliação e adjudicação de financiamentos são substancialmente mais opacos e menos independentes), é procurar branquear estes últimos. Não tem comparação possível, independentemente da substância, ou falta dela, das acusações feitas a Montenegro. Estas terão de ser analisadas com base nas particularidades do caso. Mas a analogia feita não é mais que uma cortina de fumo. 
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De henrique pereira dos santos a 18.02.2025 às 07:02

Falei da Elvira Fortunato para dizer, exactamente, que embora proveniente da ciência (e, consequentemente, receptora directa de recursos que dependem de decisões dos governos) e voltando no fim do processo para o mesmo sector (e, consequentemente, receptora directa de recursos que dependem de decisões dos governos) isso não deveria condicionar a sua escolha para ministra.
Foi isto que disse em em nenhum momento sugeri, insinuei, o que quer que seja, que Elvira Fortunato estivesse envolvida em qualquer esquema menos claro. O que disse é que, evidentemente, há um conflito de interesses, no sentido em que beneficiará (ou será prejudicada, acrescento agora) de decisões tomadas pelo governo, mas que esse conflito de interesses teórico se resolve com transparência e informação, mas não pode ser critério para a criticar alguém nas mesmas circunstâncias.
Vejo que evitou explicar que o orçamento da FCT representa uns 16% do orçamento para a ciência que consta do orçamento do estado, e que portanto é uma perda de tempo andar a discutir a integridade dos processos de decisão da FCT (e, por isso, nem os discuti, quem os discute, e na praça pública, são muitos dos agentes envolvidos, mas não vou entrar no ninho de vespas que é o mundo da ciência e das relações cruzadas num mundo fortemente endogâmico e opaco, sobre o qual não tenho qualquer interesse relevante).
Não consigo perceber por que razão achar que os eventuais tráficos de influência entre políticos (sujeitos a um escrutínio público muito mais alargado que os investigadores), empresas (sujeitos a um condicionamento público e obrigações de reporte muito superiores aos da academia, que até tem regras excepcionais de contratação que lhe permitem nem sequer cumprir as regras de contratação pública do resto da sociedade) e autarquias (sujeitas a mecanismo de controlo público muito maiores que as direcções de universidades e institutos de investigação, sujeitas a meras de regras de escrutínio por pares), são forçosamente menos claras e íntegras que as do sistema de ciência.
Se me quiser esclarecer, agradeço.
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De Anónimo a 18.02.2025 às 10:54

Continua a misturar alhos com bugalhos ao procurar uma equivalência que não existe. Qualquer cidadão é afetado pelas decisões do governo. É como dizer que um ministro da educação terá sempre conflito de interesses quando deixa o governo porque a decisão dos próximos governos afetará a função social do Estado na educação, deste modo afetando o serviço prestado à sua família. Ou que um ministro da saúde terá igual conflito de interesses porque o serviço nacional de saúde poderá ser melhor ou pior, deste modo beneficiando-o. As decisões do governo com afetação sobre a ciência são, na sua maioria, genéricas. Afetam todo o subsistema de ciência nacional, financiando bolsas, centros de investigação, laboratórios do Estado, etc. Regra geral todos estes financiamentos são sujeitos a avaliação externa por pares e raras vezes, muito raras vezes, são estratégicas ou discricionárias (por exemplo o caso das Universidades Americanas que receberam e continuam a receber verbas avultadas fora dos sistemas nacionais de avaliação por pares). A parcela que vai para equipas de investigação no país, como refere na sua contra-resposta, é pequena. E como digo, e não rebate, esta parcela é distribuída seguindo critérios de avaliação independentes extremamente rigorosos e muito dificilmente passíveis de manipulação por qualquer pessoa externa aos painéis de avaliação (onde o governo nunca está). Portanto, dizer que a Elvira Fortunato, ou se quisermos afastar-nos da fulanização, o atual Ministro da Educação e Ciência que também é académico, incorre num conflito de interesses quando regressa ao seu posto de trabalho prévio a ser ministro porque o governo poderá decidir em benefício ou prejuízo do sistema científico nacional é um disparate que só serve para lançar fumo sobre a questão dos conflitos de interesse na política. Aqui sim faz sentido discutir se um Ministro que toma decisões favoráveis a uma empresa e depois sai para trabalhar para essa empresa quando deixar o governo está ou não a violar um código de ética. Ou se é legítimo que um político sem funções executivas que recebe favores (ler ajustes diretos) de outro camarada no ativo, deverá poder retribuir o favor promovendo-o na hierarquia política. Podem-se discutir estas questões sobre diversos ângulos, mas estabelecer as equivalências como as que estabelece é verdadeiramente confrangedor. Todos sabemos que não dará o braço a torcer pois nunca dá. Mas fica o registo do contraditório para aqueles que não conhecendo a realidade dos financiamentos científicos mais facilmente engoliriam a sua demagogia.  
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De henrique pereira dos santos a 18.02.2025 às 12:24

Do seu ponto de vista, um ministro que tutele a ciência, não é um político, é uma ideia um bocado bizarra.
Exactamente, o exemplo que dei, de Elvira Fortunato, poderia ser dado com muitas outras pessoas (não deve ter reparado que usei exactamente um metáfora semelhante às suas, ao referir que um agricultor não poderia ser ministro da agricultura), a razão pela qual usei Elvira Fortunato é por ser um exemplo que não levanta nenhumas objecções, não há uma única dúvida sobre o seu percurso.

O resto são preconceitos seus sobre empresas e políticos, que decorrem dessa sua ideia de que um ministro, desde que tutele a ciência, é apenas um anjo que toma decisões desinteressadas, e não um político igual aos outros políticos, onde há bons e maus, venais e íntegros, como em qualquer sistema.
Tomar decisões sobre uma empresa e depois ir para a empresa é um evidente conflito de interesses que deve ser sancionado (a lei impede-o, durante algum tempo, até), igualzinho a tomar decisões sobre laboratórios colaborativos nos quais de participa depois.
Ora ter tido um ajuste directo, em condições perfeitamente normais e escrutinadas e investigadas, há dez anos, ser impeditivo que nomear o presidente de câmara que, há dez anos, tomou essa decisão, seja para o que for, é uma tolice.
Aliás, considerar que um ajuste directo é forçosamente um favor, é típico de cabecinhas pequenas que não conhecem mundo, a não ser o seu pequeno mundo, tão pequeno que nunca ouviram falar de sistemas cheios de revisores, como o sistema de publicações científicas e, surpresa, cheios de fraudes, algumas voluntariamente feitas exactamente para demonstrar a fragilidade dos sistemas de verificação.
O mais extraordinário de tudo é que me limitei a usar o exemplo de Elvira Fortunato num sentido pedagógico e positivo, sem ter posto em causa a integridade de Elvira Fortunato, a senhora é que resolveu ficar ofendida com a simples menção de falta de integridade do sistema científico, como se o sistema científico fosse feito por anjos e não por pessoas.
E com base nisso, resolveu fazer um processo de intenções dizendo que eu não quero discutir os conflitos de interesse na política, que é exactamente o que o post faz, discutir os conflitos de interesse na política.
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De Anónimo a 18.02.2025 às 15:25

Esta é minha última resposta pois é evidente o que está em causa: a Ministra antes de ser Ministra era funcionária pública. Professora e investigadora de uma universidade onde desenvolveu uma carreira autónoma e amplamente reconhecida. Depois de ser Ministra, regressou ao mesmo posto de professora. A única diferença face à situação anterior é que perdeu, porventura para sempre, os financiamentos europeus que tinha obtido antes de ser Ministra. Nesta movimentação não houve qualquer alteração da situação profissional, remuneratória, ou outra. Não há qualquer opacidade, nem sequer existe um benefício tangível do exercício do cargo político. Portanto não há qualquer conflito de interesses, tão somente o exercício normal da cidadania. A simples sugestão de que isto é equivalente à dança das cadeiras, opacidade entre funções públicas e privadas de decisores políticos, e troca de favores entre políticos (é preciso ser idiota para comparar a transparência e robustez dos processos de avaliação internacional com os ajustes diretos que se fazem nos municípios deste país), é demagógica e desonesta. Fico-me por aqui.
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De henrique pereira dos santos a 18.02.2025 às 15:48

Cara senhora, a ideia de que um funcionário público não tem interesses, mas um empresário tem, é uma ideia muito generalizada, mas bastante estúpida.
Fazer uma empresa não tem qualquer benefício tangível, coisa que tem dificuldades em perceber porque nunca fez nenhuma, pelo que percebo.
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De Anónimo a 18.02.2025 às 17:47

Caro Henrique. Vocês gosta mesmo de desconversar, não é?
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De henrique pereira dos santos a 18.02.2025 às 18:00

Não, pelo contrário, tenho tentado fixar-me no essencial.
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De henrique pereira dos santos a 18.02.2025 às 07:04

Além disso, eu assino o que escrevo, recuso-me a recorrer um anonimato que impede o escrutínio dos interesses de quem escreve.
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De Anónimo a 18.02.2025 às 11:02

Assina porque é autor do blog. Era só o que faltava que não assinasse. Eu não preciso de assinar porque não sou autora do blog mas não será difícil concluir que faço parte do sistema científico nacional o que, ao contrário do autor, me permite falar do que sei. 
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De henrique pereira dos santos a 18.02.2025 às 12:13

Eu não sei o que é, para si, fazer parte do sistema científico nacional, mas a ideia de que apenas quem é pago directamente pelo sistema científico é que sabe o que se passa nesse sistema, não deixa de ser uma coisa curiosa.
Eu, que por acaso fiz um doutoramento no sistema científico, e que tenho dezenas de familiares e amigos estreitamente ligados ao sistema científico, na sua opinião, não tenho maneira de saber o que se passa nesse sistema científico.
Eu assino aqui, ou noutro lado qualquer, é muito raro escrever alguma coisa anonimamente, em qualquer lado.
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De Anónimo a 18.02.2025 às 14:59

É muito interessante esta sua nova linha de argumentação de querer discutir a autoria dos comentários a este blog. Não recordo que o tenha feito noutra altura. De todos os modos é muito simples. Se o incomoda diga aos gestores do blog que retirem essa opção. 
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De henrique pereira dos santos a 18.02.2025 às 15:22

É uma verdadeira especialista em desviar conversas. A mim não me incomoda o seu anonimato, mas se começa a fazer processos de intenções, como fez, e julgamentos morais sobre mim, acho normal saber com quem estou a falar.
Agora se quer continuar, anonimamente, a atacar terceiros, siga, não serei eu que a irei impedir.
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De Anónimo a 18.02.2025 às 15:32

Você passa a vida a espalhar lama no ventilador e depois está preocupado com o nome dos que lêem e comentam os seus escritos públicos? Era só o que faltava.
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De henrique pereira dos santos a 18.02.2025 às 15:50

Não estou nada preocupado com o nome de quem escreve, até poderia ser a própria Elvira Fortunato, o que digo é que eu escrevo sempre o meu nome e, seguramente, não faço ataques pessoais como os seus, sem assinar por baixo.
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De Anonimo a 17.02.2025 às 12:56

Nao se percd bem, realmente...
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De Anonimo a 17.02.2025 às 13:06

... fazer coisa diferente quando em vez de ser um académico, um funcionário, ou um jornalista, está em causa uma pessoa que tem actividade privada ou faz (ou investe) em empresas.
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De Anonimo a 17.02.2025 às 17:01

ou comentários não publicados...
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De henrique pereira dos santos a 17.02.2025 às 17:26

Toda a gente tem actividade privada, é por isso que é pago e é por isso que o seu ordenado é seu, gasto como entender.
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De Anonimo a 18.02.2025 às 07:59

Exacto 
Tem a razão totalmente do seu lado neste assunto. Como habitual, aliás 
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De Manuel a 17.02.2025 às 15:23

Boa tarde Sr. Henrique Pereira dos Santos,
Primeiro agradecer as suas sempre interessantes partilhas, sou um leitor assíduo.
Segundo, quanto ao que aqui descreve, estou totalmente de acordo, contudo, há uma outra questão levantada pelo jornal “PÁGINA UM”, que essa sim me parece merecer um escrutínio minucioso pois aparenta evidenciar/evidencia um “modus operandus” de muitos dos nossos Políticos… Partilho de seguida o link da notícia:
https://www.paginaum.pt/2025/02/16/so-em-consultas-empresa-familiar-de-montenegro-facturou-650-mil-euros-em-dois-anos (https://www.paginaum.pt/2025/02/16/so-em-consultas-empresa-familiar-de-montenegro-facturou-650-mil-euros-em-dois-anos)

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