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O livro é de 2008, e o autor é Pascal Bruckner. Acabo de saber da sua existência e ainda não o li. Mas o título estava nas minhas notas para uma futura análise ao que se passa com a Europa e com os Estados Unidos, neste tempo em que eu vivo. Pensei sempre que há um complexo de culpa neste ocidente, desde o pós-segunda guerra mundial e que explica estes valores em que vivemos. Esta tirânia da compaixão pelas minorias e a tolerância com tudo o que soe a desfavorecido, quer o seja ou não. Olha-se para o Médio Oriente e o que se vê são os judeus ricos e os palestinos pobres, logo não há uma dúvida em que lado se está. A culpa leva a que os Europeus se projectem nas minorias e nos desfavorecidos. Os ocidentais só se sentem bem na identificação com os "fracos e oprimidos".
A paz e o bem estar no mundo ocidental criou um complexo de culpa na Europa tal (com o epicentro em França) que lhe deu para esta caridade por tudo o que mexe, e que vê tudo o que é diferente ora com paternalismo (uma soberba do avesso) ou com desconfiança pelo o que lhe soa superior. É uma forma de expurgar a culpa, parece-me, esta identificação com as causas das minorias. Assim assistimos ao exagero de ver em cada banqueiro um bandido e em cada emigrante (e quanto mais ilegal melhor) um mártir e santo. Em cada pessoa bonita, loira, bem sucedida, e inteligente recai sobre ela uma série de desconfianças. Já as minorias são imediatamente imaculadas. É o resultado de um complexo de culpa histórico.
Sempre achei isso e sempre achei que os Estados Unidos imitaram a Europa nessa mentalidade de ver tudo pelos olhos dos injustiçados. Este Ocidente que só consegue ver injustiça nos pobres e culpa nos ricos, injustiça nos diferentes e culpa nos comuns, é um Ocidente que se apaixona pelos supostos fracos e oprimidos e culpa os bem sucedidos. Há chavões e palavras criadas para condenar quem não alinha com estes valores.
Mas há uma tirania nesta visão deturpada. Por exemplo, se alguém se levanta a pedir para se ser mais rigoroso na recepção de emigrantes, atiram-lhes logo com as acusações violentas de xenofobia. É quase a fogueira dos tempos modernos a intriga e má língua. Mas quando se olha para categorias e não para pessoas há o risco de se ser cego aos detalhes.
Fomos assistindo a uma Europa que quer ser outra coisa, que quer ter outra pele, que recusa o passado.
O Ocidente despreza facilmente o cristianismo em que foi construído para se apaixonar e adoptar imediatamente um budismo. O Tibete faz as delicias deste Ocidente culpado, pois tem todos os ingredientes para fazer os ocidentais sentirem-se identificados e compreendidos.
Voltemos ao livro. O autor deste livro, tem outro que se chama A Tirania da Inocência, o que também é um título interessante.
Sobre «O complexo de culpa do Ocidente». O que diz o resumo do livro de Pascal Bruckner? «Todo o mundo nos odeia e eles têm toda a razão: é esta a convicção da maioria dos europeus e, a fortiori, dos franceses. Desde 1945 que o nosso continente vive dominado pelo tormento e pelo arrependimento. Martirizando-se com as atrocidades do passado, as guerras constantes, as perseguições religiosas, a escravatura, o fascismo, o comunismo, a sua História não foi senão uma longa cadeia de carnificinas, o que culminou nas duas Guerras Mundiais, ou seja, num suicídio fanático. Face a este sentimento de culpa, uma elite de intelectuais e políticos entrega os seus títulos e vota-se à manutenção da chama dessa culpa, à semelhança do que fizeram os guardiães do fogo: deste modo, o 'Ocidente' passou a estar em dívida para com tudo o que ele não representa, a ser suspeito em todos os acontecimentos, condenado a reparar todos os males. À medida que se vão remoendo, os países europeus esquecem-se que eles, e só eles, fizeram esforços para vencerem, reflectirem e se isentarem desta barbárie. E se o acto de contrição não fosse senão a outra face da abdicação?»
Voilá. Alguém já escreveu esse livro que eu um dia imaginei ao de leve.
P.S. Há apesar de tudo uma diferença entre a Europa e os EUA. Enquanto a Europa é hipócrita, porque defende as minorias em público e em privado continua a ser a mesma snob de sempre, os Estados Unidos levam a sério a defesa das minorias e são elas que dominam hoje, a política, a indústria da música, o cinema. Os Estados Unidos são hoje o paraíso das minorias.
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