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O combate dos chefes

por henrique pereira dos santos, em 26.03.25

Já terei escrito algures que me parece que Ventura tinha um objectivo estratégico muito bem definido: ter mais um voto que o PSD e, com isso, chegar ao Governo, a partir do qual tencionava tornar o Chega a força dominante da direita.

Os ventos eram favoráveis a esta hipótese, com o PS a alimentar o Chega numa manobra de tenaz sobre o PSD, com Montenegro, que não entusiasma ninguém, à frente do PSD e com a falta de credibilidade e influência da imprensa, que permitia a Ventura dizer o que lhe era útil em cada momento, sem grandes custos políticos.

A forte votação do Chega e a fraca votação do PSD (a votação do PSD é maior que a do Chega, mas para os padrões de um e de outro, a percepção é que o Chega teve um grande resultado e o PSD um péssimo resultado) permitiam ao Chega pressionar o PSD para entrar no Governo, quer para garantir estabilidade, quer para permitir a aplicação de um programa político verdadeiramente diferente do programa do PS (saúde, habitação, educação, segurança, imigração e fiscalidade poderiam de facto cavar as diferenças para o PS).

Montenegro, aparentemente, intuiu muito cedo o risco que ligação ao Chega representava para o PSD - se o Chega tivesse mais um voto que o PSD, em qualquer momento, o risco do PSD desaparecer ou tornar-se secundário era bem real - e optou por uma estratégia de risco que consistia em queimar todas as pontes com o Chega, usando a governação para reposicionar o PSD e alterar a relação de forças na Assembleia da República, tanto mais que ninguém conseguiria garantir que o Chega não roía a corda no momento em que lhe fosse mais favorável.

Ao que me parece, e é uma percepção muito pouco fundamentada em factos verificáveis, Montenegro terá optado não tanto por tentar ganhar votos mobilizando o eleitorado tradicional de Cavaco, mas por ir respondendo ao eleitorado moderado do Chega (que existe) e ao eleitorado moderado do PS (que também existe), ao mesmo tempo que deixava de dar razão aos eleitorados radicais dos dois partidos para se mobilizarem, adormecendo-os.

Ventura respondeu a esta estratégia radicalizando o seu discurso sobre Montenegro, procurando criar condições favoráveis a uma futura aliança Chega/ PSD sem Montenegro.

A queixa de Montenegro sobre os cartazes do Chega, um cartaz que me parece muito favorável a Montenegro (um ataque pessoal sem ponta por onde se lhe pegue, em que o contraponto a Montenegro não é Pedro Nuno Santos mas Sócrates, só pode beneficiar Montenegro), só pode explicar-se por este braço de ferro, com Montenegro a dar visibilidade ao cartaz e, ao mesmo tempo, reforçar a estratégia de queimar todas as pontes com Ventura, seguindo o velho princípio napoleónico de nunca impedir o avanço de um inimigo quando ele está a cometer um erro.

Veremos o que nos reserva o futuro, mas a mim parece-me que estamos mais longe de um PSD sem Montenegro, como pretendia Ventura, que de um Chega sem Ventura, como única forma de permitir desbloquear a conversa à direita.


4 comentários

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De cela.e.sela a 26.03.2025 às 08:56

ontem Chega-Ventura esbracejava alegando que estavam a 'tentar matar o mensageiro' (sem mensagem). estou convencido que se bandarilhou a si próprio. com a credibilidade abalada está a fazer o possível 'por emalar a trouxa'.
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De Anonimo a 26.03.2025 às 08:56


a percepção é que o Chega teve um grande resultado e o PSD um péssimo resultado


Não é percepção, é realidade. Porque isto de "ganhar" é mais que ficar à frente... Se o FCP ficar em 3º e o Arouca em 4º, o FCP ficou à frente, mas tem um péssimo resultado final.
O Chega era um partido residual em termos de presença parlamentar, deixou de o ser. Factos. O PSD era (é) um partido de poder, que teve quase uma década de maioria absoluta parlamentar, deixou de o ser. Factos.
Agora, esta subida do Chega é sustentada? Duvido. Porque tal como o Bloco, é um partido de protesto, causas, o que queiram chamar. Quando obtém representação  suficiente para influencia o Poder, e tem-na neste momento, as pessoas esperam algo mais que barafustar e apresentar umas legislações para nichos. O Chega, tal como o BE, tem muito pouco a apresentar aos cidadãos, para lá das larachas do costume. Uns resolvem os males do mundo se os banqueiros desaparecerem, outros é com imigras.
Faz muito bem Montenegro em não se aproximar dessa maralha (nem indo às questões éticas desse grupinho), até porque deu para perceber que, ao contrário de outros PM, não vende os seus valores por uma maioria parlamentar.
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De Anónimo a 26.03.2025 às 10:04

" Chega sem Ventura",  se tal acontecer o Chega desaparece e talvez recuperemos, pelos menos, alguma decência na politica portuguesa.
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De passante a 26.03.2025 às 10:18

a mim parece-me que estamos mais longe de um PSD sem Montenegro


"Olhe que não, olhe que não."


A subcorrente da "luta de classes" está bem entranhada na política portuguesa, e se houve alguns tribunos do PS e PSD que souberam dar uma de César e seduzir o "capite censi", não é o caso dos presentes incumbentes.


A coisa mortal para o PM não foi a negociata, foi ficar óbvio que é um dos bem aconchegados das famílias do regime. Até o CGP explica que, também sendo de Espinho, em rapaz só a trabalhar como caddy no golf via o Montenegro. Tilt.

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