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Antes do escrito: a última página do Público de hoje é dedicada à defesa da violência terrorista com um argumento clássico "É que há atos de protesto, caracterizados como sendo violentos, que pretendem travar situações de superior violência ... Quem quiser apreciar a validade das intervenções distanciado daquilo que as legitima poderá fazê-lo. Mas salvo melhor opinião, é um exercício curto". Não me parece possível responsabilizar a autora, Carmo Afonso, porque para haver responsabilidade é preciso que o responsável pelo acto tenha capacidade para compreender os efeitos do que diz ou faz e, ainda assim, decida fazê-lo, mas a responsabilidade do jornal Público em aceitar como cronista quem defende a violência terrorista, essa eu não gostaria de deixar passar em branco.
Andreia Sanches, no editorial do mesmo jornal, expressa uma opinião diferente, mas o que me levou a este post é isto: "A Grécia, que teve este Verão um inferno de chamas, alega, na sua resposta ao processo [do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos], que os efeitos das alterações climáticas não parecem afectar directamente a vida e a saúde" humanas".
Esta frase, que sugere que os fogos da Grécia deste ano são uma demonstração de alterações climáticas, é antecidada de uma ideia que a torna mais clara: "vemos as alterações climáticas a mudarem dramaticamente a nossa vida, sem freio" e é como exemplo disso que Andreia Sanches escreve sobre a ligação entre alterações climáticas e os fogos na Grécia.
Andreia Sanches reflecte a posição largamente dominante no jornalismo actual, um jornalismo em que as causas têm mais importância que os factos.
Por um lado, comete o erro vulgar, frequente, largamente dominante nas redacções dos jornais, que consiste em confundir meteorologia ("o estudo e o conhecimento da atmosfera nos seus diferentes aspectos, designadamente quanto aos fenómenos físicos e químicos que nela ocorrem" em cada momento) com clima (o estudo dos padrões de ocorrência dos fenómenos meteorológicos). Até pode haver incêndios que têm na testa o sinal das alterações climáticas, como dizia Paulo Fernandes há tempos, dando o exemplo de Pedrogão (no sentido em que a probabilidade de ocorrência é de tal forma baixa que é difícil admitir que ocorressem sem que esteja a haver uma alteração do padrão dos fenómenos meteorológicos a que estão associados, interpreto eu), mas não faz o menor sentido associar automaticamente os fogos de um determinado ano, numa região, a alterações climáticas, só porque decorreram de fenómenos meteorológicos de baixa probabilidade, mas que sempre existiram.
Por outro lado, muito mais relevante para a discussão, ao concentrar atenções num dos eventuais factores que influenciaram esses fogos, esquece todos os outros factores de evolução do padrão de fogo, em especial a acumulação de combustíveis finos que resulta das opções de gestão do solo (incluindo a opção pelo abandono), que podem ter uma impostância muito maior que as alterações climáticas na evolução dos padrões de fogo que conhecemos.
Ora isso significa omitir a questão central que deveríamos estar a discutir, que é a questão da forma como podemos lidar com os problemas que existem, incluindo o problema das alterações climáticas, como se parar emissões fosse a única opção possível.
Infelizmente, o simplismo de textos como o deste editorial, que na verdade repete a convicção dominante nas redacções dos jornais, não ajuda na gestão de processos complexos.
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