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O clima exemplar

por henrique pereira dos santos, em 27.09.23

Antes do escrito: a última página do Público de hoje é dedicada à defesa da violência terrorista com um argumento clássico "É que há atos de protesto, caracterizados como sendo violentos, que pretendem travar situações de superior violência ... Quem quiser apreciar a validade das intervenções distanciado daquilo que as legitima poderá fazê-lo. Mas salvo melhor opinião, é um exercício curto". Não me parece possível responsabilizar a autora, Carmo Afonso, porque para haver responsabilidade é preciso que o responsável pelo acto tenha capacidade para compreender os efeitos do que diz ou faz e, ainda assim, decida fazê-lo, mas a responsabilidade do jornal Público em aceitar como cronista quem defende a violência terrorista, essa eu não gostaria de deixar passar em branco.

Andreia Sanches, no editorial do mesmo jornal, expressa uma opinião diferente, mas o que me levou a este post é isto: "A Grécia, que teve este Verão um inferno de chamas, alega, na sua resposta ao processo [do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos], que os efeitos das alterações climáticas não parecem afectar directamente a vida e a saúde" humanas".

Esta frase, que sugere que os fogos da Grécia deste ano são uma demonstração de alterações climáticas, é antecidada de uma ideia que a torna mais clara: "vemos as alterações climáticas a mudarem dramaticamente a nossa vida, sem freio" e é como exemplo disso que Andreia Sanches escreve sobre a ligação entre alterações climáticas e os fogos na Grécia.

Andreia Sanches reflecte a posição largamente dominante no jornalismo actual, um jornalismo em que as causas têm mais importância que os factos.

Por um lado, comete o erro vulgar, frequente, largamente dominante nas redacções dos jornais, que consiste em confundir meteorologia ("o estudo e o conhecimento da atmosfera nos seus diferentes aspectos, designadamente quanto aos fenómenos físicos e químicos que nela ocorrem" em cada momento) com clima (o estudo dos padrões de ocorrência dos fenómenos meteorológicos). Até pode haver incêndios que têm na testa o sinal das alterações climáticas, como dizia Paulo Fernandes há tempos, dando o exemplo de Pedrogão (no sentido em que a probabilidade de ocorrência é de tal forma baixa que é difícil admitir que ocorressem sem que esteja a haver uma alteração do padrão dos fenómenos meteorológicos a que estão associados, interpreto eu), mas não faz o menor sentido associar automaticamente os fogos de um determinado ano, numa região, a alterações climáticas, só porque decorreram de fenómenos meteorológicos de baixa probabilidade, mas que sempre existiram.

Por outro lado, muito mais relevante para a discussão, ao concentrar atenções num dos eventuais factores que influenciaram esses fogos, esquece todos os outros factores de evolução do padrão de fogo, em especial a acumulação de combustíveis finos que resulta das opções de gestão do solo (incluindo a opção pelo abandono), que podem ter uma impostância muito maior que as alterações climáticas na evolução dos padrões de fogo que conhecemos.

Ora isso significa omitir a questão central que deveríamos estar a discutir, que é a questão da forma como podemos lidar com os problemas que existem, incluindo o problema das alterações climáticas, como se parar emissões fosse a única opção possível.

Infelizmente, o simplismo de textos como o deste editorial, que na verdade repete a convicção dominante nas redacções dos jornais, não ajuda na gestão de processos complexos.


15 comentários

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De balio a 27.09.2023 às 14:10

O combate contra as alterações climáticas, que se transformou numa obsessão britânica (ou não fosse esse povo obsessivo a discutir o tempo que faz), está a seguir o mesmo padrão terrorista que, antes dele, foi assumido pelo combate pelo bem-estar animal - outra obsessão britânica.
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De urinator a 27.09.2023 às 15:16


sem desprezar o que se passa e é encarado sem realismo


sobre o clima
até confundem monção com a localidade do mesmo nome.tudo leva a crer que o deserto do Saara e o petróleo da Arábia ocorreram na última década.


fogo
muito importante a presença da mão humana


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De Bomba protestativa e preventiva a 27.09.2023 às 17:11

Sempre alguma esquerda e outra direita defendeu a "meia dúzia de safanões a tempo podendo evitar mal maior".
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De anónimo a 27.09.2023 às 19:14

As alterações climáticas são uma nova Fé. Ou enchendo páginas fúteis. Ou papagueadas por "jornalistas", comentadores e/ou cientistas com interesses afins. Tudo no mesmo tom e profundidade das homilías tonitroadas dos  párocos de antanho nas paróquias, com a sua congregação. A estes as passagem pelo seminário deixou um irrevogável modo, sagrado, de ver e esplicar o mundo. Tudo bem. Àqueles bom, a vida custa muito a ganhar hoje em dia. Tudo bem. Entretanto a caravana passa.  
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De Antonio Maria Lamas a 27.09.2023 às 23:07

 É inaceitável que aqueles (como Carmo Afonso) que têm responsabilidades sociais, que querem viver numa sociedade livre e sem medo, venham defender actos de vandalismo, à pala de uma "luta justa"
Estes vandalos têm que ser pesadamente punidos. Se em vez de tinta, fosse um ácido, ou uma bomba? 
Estas acções perpetradas por gente hipócriita, que não prescindem dos seus telemóveis fabricados nos países mais poluentes do mundo. Aí, nunca vi quaisquer acções.
Sr querem ajudar à transição energética, discutam com seriedade todas as soluções e escrutunem as soluções. 
Discutam o nuclear, a mais limpa das energias, escrutunem as chamadas renováveis, os seus custos de produção e os custos de reciclagem. 
Não podem os países com as democracias mais sólidas, a arcar com toda a responsabilidade pela "limpeza" do planeta, quando, ainda por cima serão os menos responsáveis. 
O clima virou um negócio muito rentável para alguns. Um nicho de mercado com sucesso garantido. Facilmente manipulador, com a cumplicidade dos OCS, e até, pasme-se por aqueles que deveriam defender a ordem e a legalidade. 
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De Filipe Costa a 27.09.2023 às 23:23

Senhor Henrique, adorei a descascadela que deu hoje no contra-corrente, bem haja.
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De lucklucky a 27.09.2023 às 23:55

O Publico jornal Neo-Marxista segue ou talvez até esteja a copiar directamente a BBC que há uma semana também defendeu a violência política como terror num programa. 

É no bom lembrar que muitos revolucionários que usaram a guilhotina acabaram nela. E fica legitimo fazer violência contra o Publico se os argumentos do jornal passarem a ser lei.
Note-se que o artigo do jornal ainda deve dar para enquadrar no discurso do ódio.
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De lucklucky a 27.09.2023 às 23:59

https://www.telegraph.co.uk/tv/0/chris-packham-is-it-time-to-break-the-law-review/


Chris Packham: Is It Time to Break the Law? BBC Channel 4




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De Marta a 28.09.2023 às 00:04

Só que encarar a questão central torna escandalosamente evidente o vácuo da religião das alterações climáticas e há toda uma indústria da desgraça que precisa de ser alimentada. E implica lidar, de facto, com problemas concretos e tomar decisões e lidar com a incerteza. Tomar decisões implica correr riscos e assumir responsabilidades... 
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De JPT a 28.09.2023 às 10:01

Cinco dias depois de um grupo de grunhos ter invadido e perturbado a apresentação de um livro "inclusivo", outro grupo de grunhos invadiu e perturbou um evento da indústria da aviação. No primeiro caso, as televisões (as que eu vi) entrevistaram a autora do livro "inclusivo" e não os grunhps, no segundo caso, entrevistaram os grunhos (ou melhor, as grunhas) e não os organizadores do evento da indústria da aviação. Acho que está tudo dito.
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De lucklucky a 29.09.2023 às 02:31

Ora bem é aliás significativo a comparação da indignação com o beijo do Espanhol - uma violação da área privada de uma pessoa -e a falta de indignação  ao ataque com tinta ao ministro não só  violação da área privada como um ataque intimidatório aos direitos civicos de uma pessoa.

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