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Por coincidência, no fim da semana passada (mas antes do fim de semana), deparei-me com duas profissões muito empenhadas em demonstrar que os seus clientes não prestam (saltemos por cima da generalização que, como todas as generalizações, é bastante abusiva).
Por um lado participei numa conversa interessante organizada pelo Luís Serpa (não vi todos os painéis, mas vi quase todos, embora um deles com algum atraso) e cuja gravação pode ser vista na página do facebook da Oficina da Liberdade (não sei se em mais algum sítio).
Por outro, alguém se lembrou de se indignar com uma coisa amovível que não se vê de lado nenhum que Ronaldo resolveu pôr na cobertura que tem num prédio (eventualmente sem respeitar a pesada burocracia que está associada a estas coisas e que dá origem à velha piada de que a melhor maneira de ter uma janela nova legalizada é abri-la e depois submeter um pedido de alterações para a fechar, que virá recusado, implicitamente legalizando a janela).
Ora na conversa acima estavam jornalistas em painéis e alguns desses jornalistas (não todos) foram claríssimos a explicar que o problema da imprensa era a falta de cultura de comunicação na sociedade, tal como vários arquitectos, na discussão sobre a coisa do Ronaldo (honni soit qui mal y pense), se lamentavam da falta de cultura arquitectónica da sociedade.
Os jornalistas devem ser a classe mais corporativa que conheço (dizem uns dos outros o que Maomé não disse do toucinho, mas ai de quem, de fora, resolva dizer um décimo disso) e nos arquitectos também há uma grande falange muito corporativa, pessoas que parecem aqueles chefs que perante o falhanço do seu restaurante não olham para a qualidade do servem, ou para a relação qualidade/ preço, ou mesmo para o desfasamento entre o que o Chef quer e o que os potenciais clientes querem, e preferem culpar a sociedade de não estar preparada para a originalidade do conceito do restaurante.
Não, não estamos a falar de um ministro de um país que tem uma companhia aérea com forte presença do Estado e apresenta prejuízos há anos sem fim, a dar lições de gestão de companhias aéreas a quem tem uma companhia aérea feita do nada, que tem lucros, que investe e contrata, isso é outro tipo de disfunção da relação que se tem com as empresas e o lucro.
Do que falo é mesmo de uma atitude que para mim é extraordinária: perante as dificuldades da empresa, o empresário conclui que o cliente não presta.
Aparentemente nunca interiorizaram que quando se perde uma guerra, a responsabilidade nunca é dos soldados, é sempre, sempre dos generais.
Nas empresas isto traduz-se na ideia de que se a empresa vai à falência, a responsabilidade é sempre, sempre do empresário, ou porque não soube ler os ventos de mudança que tornaram o negócio das luvas num negócio marginal, ou porque não soube ler os riscos da excessiva dependência das decisões de financiamento de terceiros ou de políticas públicas que mudam com os ciclos eleitorais, ou porque não soube interpretar o contexto em que a empresa operava, há milhares de factores envolvidos e falir não é vergonha, as probabilidades de falhar são muito maiores que as de ter sucesso, o que não faz sentido é responsabilizar terceiros por esses insucessos.
E, muito menos, revoltar-se contra os clientes e achar que os clientes não prestam, que a empresa é muito boa e é muito bem gerida, só tem mesmo o problema de trabalhar para uma sociedade que não sabe reconhecer a qualidade dos jornais, ou da arquitectura, ou do que quer que seja.
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