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O Chega e eu

por henrique pereira dos santos, em 29.12.23

Não é que seja muito de espantar, mas o meu post anterior, sendo sobre o que me parece ser o efeito prático do voto no Chega e os objectivos dos seus dirigentes, suscitou dois tipos de comentários frequentes sobre o Chega: os que se escandalizam porque acham o Chega um partido diferente dos outros, perigoso, ameaçador, boçal, infrequentável, etc., e os que se escandalizam porque acham o Chega um partido diferente dos outros, que vai acabar com a casta, a corrupção, os esquemas, etc..

Ora o post que fiz parte de um pressuposto diferente, o pressuposto de que o Chega é um partido como os outros e deve ser avaliado pelo que é normal avaliar qualquer partido.

Para mim, o Chega não tem interesse nenhum.

No médio/ longo prazo, é um partido que essencialmente quer mudar políticos e não tanto políticas, ou seja, um partido assente na certeza da superioridade moral dos dirigentes e militantes do Chega face aos restantes (neste sentido, é um partido muito próximo do BE).

E é exactamente por isso que me parece que o Chega não quer saber se governa o PS ou outro qualquer (prefere o PS porque é mais fácil federar votos de protesto com governos tão maus, mas tirando isso, tanto faz ser um ou outro partido, o que interessa aos dirigentes é acederem eles próprios ao poder), quer apenas ser o partido maioritário da direita para aceder ao poder em posição dominante, isto é, quer ser o PS da direita.

Ao contrário da Iniciativa Liberal, que é um partido ideológico, o Chega defenderá as políticas que lhe permitirem ganhar votos em cada momento (como tem vindo a fazer, basta olhar para a grande mudança do seu programa económico inicial, mal Ventura se apercebeu de que o liberalismo económico é pouco popular em Portugal), sejam elas quais forem, tal como faz o PS, há anos.

É verdade que o PSD não anda muito longe disto mas, neste momento, não me interessa muito discutir a qualidade das alternativas ao PS o que me interessa é parar a degradação institucional, o que só se consegue removendo o PS do poder.

Interessam-me opções mais liberais e menos estatistas, opções mais institucionais e menos cesaristas e opções mais abertas e menos opacas, o que me teria feito votar tranquilamente na Iniciativa Liberal, não se desse o caso da sua actual direcção ter optado pela predominância da eficácia partidária do centralismo democrático contra a criatividade da liberdade individual. 

Como o Chega está mais interessado em ser o partido maioritário da direita que na qualidade das instituições, o Chega não me interessa também no curto prazo.

Resumindo, focando-me neste meu objectivo de remover o PS do poder (a frase das fraldas não será de Eça de Queiroz, mas é uma frase verdadeira quando se pretende reforçar as instituições), resta-me não votar ("são todos iguais", dizem uns, "todos fazem asneiras", dizem outros), votar AD ou Iniciativa Liberal (porque no distrito em que voto a Iniciativa Liberal elege deputados, noutros distritos, nas actuais circunstâncias, apenas me restaria votar AD ou não votar, o que inclui votos brancos e nulos).

Como a Iniciativa Liberal resolveu, no meu círculo eleitoral, privilegiar a confiança política em relação à qualidade política, usando um processo vergonhoso para o fazer, não me apetece premiar essa forma de lidar com a liberdade individual, e votarei AD, onde ao menos não tenho desilusões, já sei do que a casa gasta, acho é que, apesar de tudo, o que a casa gasta é institucionalmente mais positivo que manter o PS no poder.


19 comentários

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De urinator a 29.12.2023 às 11:16

pm costa lembra Alberto Caeiro:
«Não deve ter a cegueira que faz fazer sentir. Amei, e não fui amado, o que só vi no fim,. Porque não se é amado como se nasce mas como acontece ..»
«Como um ruído de chocalhos Para além da curva da estrada, Os meus pensamentos são contentes. Só tenho pena de saber que eles são contentes, Porque, se o não soubesse, Em vez de serem contentes e tristes, Seriam alegres e contentes »



ps de sempre:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
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De anónimo a 29.12.2023 às 11:49


"...o que interessa aos dirigentes é acederem eles próprios ao poder),...". 
Exacto, "eles próprios", arrebanhando lotes de "militantes" todos com semelhantes apetites pelo poder, aliás um traço comum na natureza humana que a literatura clássica bem desenvolveu.

Com eleições uninominais teríamos esses líders, sempre sequiosos de poder, em confronto directo na AR, entre eles, mas ao mesmo nível: um homem um voto. Com o actual sistema um deles, e só um deles, é maioria. Caricato.
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De César a 29.12.2023 às 12:00

"Para mim, o Chega não tem interesse nenhum."

Para um partido que não tem interesse nenhum para si...já vai no segundo post.
Calma...não desespere. 

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De balio a 29.12.2023 às 14:28

Bom comentário!
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De aleitao a 29.12.2023 às 14:30

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De João Brandão a 29.12.2023 às 12:21

Do Chega, a gente não gosta, do que a gente gostava era dos votos dos eleitores do Chega.
Mas cá aferradíssimos em afastar os socialistas, pois ...
 
Não sei ao certo em quem vou votar e nem estou preocupado com isso, ainda. 
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De Anónimo a 29.12.2023 às 12:40


" Para mim, o Chega não tem interesse nenhum "
NOTA-SE !!!!!!
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De JPT a 29.12.2023 às 13:42

A confiança é uma qualidade política.
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De aleitao a 29.12.2023 às 14:55


Nos meus 84 já deu para ver na m$rda que isto se tornou e para mim já... Chega

Venha a novidade, chega de velharias, pelo menos temos um Tribuno com 'eLLes' em "El Sítio"
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De O apartidário a 29.12.2023 às 18:25

Ouvi hoje que alguns elementos do IL estão a passar para o Chega, devido ao facto do IL estar tomado pela agenda woke-lgbt (ou pelo menos será uma das razões). Portanto, o IL está a concorrer com PSD nas questões da economia e afins, e com o bloco de esquerda nas liberalidades sociais e culturais. 
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De Sérgio Gonçalves a 29.12.2023 às 15:04

Henrique, 
Partilho destas suas dores. A IL está-se a revelar uma grande desilusão. Se teve o mérito de trazer para a discussão pública a necessidade de reduzir impostos, não encontrou ainda forma de dizer à custa de que é que o pode ou irá fazer. Neste aspeto, o Chega é mais direto pois como quem nos governa é corrupto subentende-se que será possível baixar impostos ou despesa porque eles (do Chega) são mais honestos. É uma forma simplista e pouco séria de apresentar as coisas mas tem adesão. Não crítico, mas eu duvido que assim seja. Com a fusão do CDS ao PSD, que em teoria apoio, fico sem possibilidade real de votar em consciencia. A AD é claramente um mal menor. Tenho de acreditar que os escolhidos da AD serão de bom nível mas isso poderá ser irrelevante se não tiverem maioria absoluta. E isto torna o futuro ainda mais sombrio pois do outro lado estará um bloco de extrema esquerda com cerca de 35% dos votos (provavelmente terá mais). Qualquer país é inviável assim. Apesar dos meus 41 anos, família já constituida e muito bons rendimentos, sinto que estas serão as últimas eleições em que votarei para este país. É muito provável que faça as malas e saia daqui.
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De Anonimo a 29.12.2023 às 15:50

O Chega não me interessa para nada.
Parece o meu vizinho, não quer saber da ex mulher para nada, mas segue-a no facebook e instagram


A racionalização do voto é coisa bonita. 
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De Carlos Sousa a 29.12.2023 às 16:31

Só fico admirado como é que pessoas minimamente inteligentes acreditam piamente na linguagem do chega.
Não há dúvida porque é que tantas pessoas caem no conto do vigário. 
Por aqui se vê porque é que as eleições são o que são. 
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De Anonimo a 29.12.2023 às 17:50

Fica?
Conheço uns que votam, ou dizem votar. Porque têm "problemas" que as Entidades competentes não resolvem. Ao fim de anos, muitos anos, aparece um que diz que faz. Pode ser mentira, mas há que tentar. 


Tem no razão em cair no conto do vígaro, o PS lá vai tendo muitos votos.

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