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O meu amigo João Eduardo Ferreira faz aqui uma crónica sobre o filme "O bom patrão".
Sobre o filme, não sei, não vi, mas sobre o primeiro parágrafo da crónica, sim, quero dizer qualquer coisa.
"Digamos que calha mesmo bem estrear esta comédia desabrida numa altura em que tanto se fala de liberalismo e de bons patrões que recebem incentivos estatais e depois, muito natural e voluntariamente, vão distribuir os lucros assim conseguidos (quais robins dos bosques!), pelos diligentes e afanosos operários. A sociedade prospera, o sol brilha e ficamos todos felizes".
Esta caricatura do liberalismo é muito, muito popular, até porque como caricatura é boa.
A verdade é que o liberalismo é de entre as ideologias políticas mais correntes, a que menos acredita na bondade, seja de quem for, como penhor de bom funcionamento da sociedade, pelo contrário, não tem grandes ilusões sobre a natureza humana.
É por isso que é das mais renitentes a intervenções externas às empresas para impedir que vão à falência, das que mais defendem a necessidade de garantir que os patrões sejam responsáveis pelas consequências das suas opções, das que mais se esforçam por garantir a impossibilidade da criação de monopólios, e outras posições dominantes no mercado que se possam tornar abusivas, de modo a impedir que os patrões se transformem nas caricaturas que deles fazem os que não gostam da iniciativa privada.
E é também por isso das que mais se preocupam com a definição das regras, e com a sua aplicação real, de forma que nos torne a todos iguais perante a lei, mas também perante as oportunidades, como o acesso a ensino de qualidade para todos.
Como qualquer ideologia, tem muitas dificuldades de aplicação em opções reais e concretas.
Por exemplo, a Iniciativa Liberal esforça-se por contestar a carga fiscal sobre combustíveis e eu, que a apoio quando posso, tenho as maiores dúvidas de que essa seja uma boa opção do ponto de vista da sustentabilidade.
A ideia de que o liberalismo é sobretudo a defesa dos mais ricos é uma caricatura absurda, pelo contrário, uma das principais razões para eu apoiar políticas liberais, pelo menos nas condições concretas de Portugal, é por achar que o elevador social está encravado em Portugal e é preciso pô-lo a funcionar para permitir que os filhos dos mais pobres não tenham de ser, como acontece actualmente de forma excessiva, pobres como os seus pais.
A liberdade de escolha na educação, por exemplo, não é a defesa da privatização do ensino (uma questão marginal, é irrelevante quem é o dono das paredes da escola ou quem paga o ordenado dos professores) mas sim a defesa da oportunidade dos mais pobres poderem andar nas mesmas escolas que os ricos, ter a mesma qualidade do ensino, terem oportunidade de criar redes sociais diferentes das dos seus pais.
Não há patrões bons que tomam atitudes bondosas nas suas empresas (há, com certeza, mas não é assim que se equilibram as relações dentro das empresas), o que há são contextos de funcionamento das empresas que as incentivam a funcionar melhor e serem mais favoráveis para os seus trabalhadores e contextos em que existem incentivos inversos.
Não há maior poder negocial dos trabalhadores que aquele que lhes é dado pela possibilidade de mudar de patrão com facilidade e vantagem, o que só se consegue em ambientes economicamente saudáveis e onde as relações contratuais são, tanto quanto possível, livres.
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