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A defesa da imperfeição intelectual humana
começa por desautorizar a procura de ideais utópicos,
sejam eles revolucionários ou reaccionários,
porque as quimeras assentam na arrogância própria de quem se considera omnipotente ou omnisciente,
ignorando «a sua própria cegueira»
e as contingências inevitáveis que
sempre se abatem sobre a conduta humana.*
Sei que corro o risco de resgatar da completa irrelevância a entrevista dada por Joana Amaral Dias (JAD) a Nuno Ramos de Almeida publicada ontem no jornal i, que nas entrelinhas da ambiguidade em que mergulha a psicóloga e activista de esquerda, autora do livro recentemente publicado “O cérebro da Política“, não deixa de inquietar qualquer espírito livre e democrata.
Uma pessoa lê e relê o artigo e não acredita: partindo da consideração enunciada no seu livro de que o “posicionamento esquerda direita está ligado a uma estruturação psicológica que se dá por volta dos 18 meses”, que “as pessoas de esquerda e de direita tem personalidade, cognição e ambições diferentes” a entrevistada conduz-nos à conclusão cientifica de que “aquilo que nós sabemos (!) de uma maneira geral (!!!), é que a grande diferença entre os eleitores de esquerda e de direita é que os primeiros têm mais a capacidade de transformar aquilo que é inerente à condição humana, o ódio, o medo e a angústia, em laços com os outros – o tal poder para mudar”. Se restassem dúvidas, fica assim comprovada a génese e os sintomas da perversão de que padecem as pessoas que como eu têm tendências conservadoras e de direita. Mas deixa-nos mais descansados o facto de a psicóloga nos garantir esse defeito de carácter não constituir uma fatalidade pois que “essa estruturação é sempre passível de ser alterada”. “Sou psicoterapeuta e esse é em grande medida o meu trabalho.” Daí que desconfiamos que a propaganda política tenderá a breve trecho transitar dos discursos, debates e cartazes, para os infantários ou gabinetes do psicólogo. Subsidiado pelo Estado, esse Grande Irmão, está-se mesmo a ver.
Agora falando sério: na entrevista, JAD acaba por não se atrever a tirar grandes consequências de tudo isto, evitando até de forma habilidosa as soluções finais para as teses que defende, não concretizando “o tal caminho radical” para uma “transformação absoluta da sociedade” condicionada pela “política capitalista” na sociedade que temos.
Refere às tantas a ex-bloquista: "é pensar como é que educamos ou socializamos as pessoas que chegam ao mundo para ter um resultado diferente. Se as educamos assim, não podemos esperar que o resultado seja diferente” e "o que digo é que os primeiros anos do desenvolvimento têm estado arredados das questões políticas”. Mas pergunto eu, não serão tais “condicionalismos” de “uma estruturação psicológica infantil” em que JAD pretende a intervenção "terapêutica", a génese do individuo único e irrepetível, e manipular tal matéria por causa duma utopia política uma completa barbaridade? Trazer a interferência política para a infância precoce não será uma intromissão no plano mais íntimo das liberdades individuais e um descarado assalto à instituição famíliar? Se como defende a entrevistada a “questão racional na política são amendoins”, não manda a prudência sermos muito cautelosos na forma como desejamos implementar as nossas crenças?
Agora temos finalmente uma pista para entender o percurso de Joana Amaral Dias que, dos anos noventa, no auge do projecto “O Independente” e da revista K de Miguel Esteves Cardoso quando chegou a ser militante monárquica inscrita, chega aos nossos dias a cortejar a extrema-esquerda totalitária. Tal itinerário terá certamente sido percorrido com o auxílio de gabinetes de psicoterapia e psicanálise, espera-se que sem recurso a muitos expedientes farmacológicos. Porque nesse âmbito da saúde mental e psicológica navegam-se ainda mares pouco conhecidos e a prudência aconselha a que não se brinque com coisas sérias, sob o risco de se criar monstros.
*João Pereira Coutinho – “Conservadorismo” D. Quixote 2014 pp 153
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