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O anti-imperialista de sofá

por henrique pereira dos santos, em 05.12.18

Com a mania de andar de transportes públicos, lá ia eu pela Rodrigo da Fonseca abaixo para a paragem da Joaquim António de Aguiar, quando sou barrado pelas cancelas da polícia.

Pergunto porque não posso passar, respondem-me que está uma alta individualidade no hotel e eu, na minha irritação, protesto, inútil e infantilmente, em altos brados "Abaixo a ditadura chinesa, liberdade para o povo chinês, liberdade para o povo do Tibete", pensando que depois lá iria fazer os 280 metros a subir e descer, em vez dos 120 metros planos que me separavam da paragem do autocarro.

Só que o senhor graduado da PSP resolve mandar-me calar a meio. Naturalmente pergunto-lhe por que razão me está a mandar calar, responde-me que é para não incomodar os vizinhos, replico que às dez da manhã dificilmente a minha voz isolada viola a lei do ruído, responde-me que tenho de me calar porque o senhor graduado me está a dizer que esteja calado e eu, naturalmente, repeti em altos brados "Abaixo a ditadura chinesa, liberdade para o povo chinês, liberdade para o povo do Tibete" porque estou como o Pinheiro de Azevedo, não gosto que me dêem ordens ilegais, é uma coisa que me chateia.

Lá vem um empurrão, doutro agente ali ao lado, eu pergunto porque me está a empurrar, o agente manda-me seguir, empurrando-me, eu pergunto-lhe a que propósito me está a empurrar, responde-me que eu não estou a acatar as instruções que me deram, respondo que quero saber qual é a norma legal que estou a infringir, dê-me a sua identificação, está aqui senhor guarda, senhor guarda não que isto não é a GNR, é senhor agente, três horas depois (fui ter a reunião que tinha de ter e depois voltei, não estive ali três horas) estava a apresentar uma queixa crime por abuso de autoridade numa esquadra próxima.

Eu compreendo que os senhores agentes estejam de saco cheio com o que devem estar a ouvir de há dois dias para cá por causa da paranoia securitária de um ditador. A única razão para eu apresentar queixa é a convicção de que é inaceitável que na cultura organizacional da PSP ainda caibam oficiais que não saibam que uma pessoa qualquer, num sítio público, tem todo o direito de dizer, em altos brados "abaixo a ditadura chinesa, liberdade para o povo chinês, liberdade para o povo do Tibete".

O meu problema não é com aqueles agentes em concreto, o meu problema é com o comando da PSP que não conseguiu, até hoje, incutir na cabeça de todos os seus oficiais, o respeito por direitos básicos dos cidadãos: se eu quisesse estar o dia inteiro, naquele espaço público, a gritar "abaixo a dituadura chinesa, liberdade para o povo chinês, liberdade para o povo do Tibete", poderia ser o maior dos idiotas, mas estava no meu direito fazê-lo (enfim, tenho dúvidas que fosse mais idiota que os anti-imperialistas que se manisfestam contra as visitas de Merkel ou de um presidente americano, mas dos quais não se ouve o menor murmúrio perante a vassalagem do estado português a um ditador como o presidente chinês).

Depois, na longa hora que me demorou estar a fazer a queixa percebi que o problema central é ainda mais fundo: se o Estado português investisse tanto na eficácia e modernização das polícias, como tem investido na eficácia e modernização da máquina fiscal, Portugal era, seguramente, um país muito mais decente.


11 comentários

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De The Mole a 07.12.2018 às 18:21


Não, não foi (nem isso fizeram...).


Foram vendidas para tapar uma (muito) pequena parte do buraco deixado pelo Sócrates, pelo seu Nº2 (Costa), e pelos Pinhos, "Jamais" e outros que ainda por aí andam...

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