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O anonimato das fontes

por henrique pereira dos santos, em 16.04.24

"O anonimato e o "off the record" só existem para proteger a integridade e liberdade das fontes, não são formas de incitamento à irresponsabilidade das fontes". (livro de estilo do Público)

"A confidencialidade é uma forma de proteger a integridade e a liberdade das fontes e não pretexto para recados, ajustes de contas ou mera intriga. O uso de fontes confidenciais destina-se a fazer chegar à sociedade factos, dados e declarações relevantes e de manifesto interesse público que, de outra forma, ficariam em documentação reservada ou no silêncio dos gabinetes". (livro de estilo da Lusa)

"O recurso às fontes anónimas pode legitimar-se no direito à informação. No entanto, só se pode manter a justificação do procedimento se este for de uma necessidade não só inquestionável mas também excepcional ... "Todas as pessoas e organizações citadas em notícias e reportagens do DN são identificadas, excepto quando se trate de proteger a sua intimidade e bom nome."". (Provedor do leitor do Diário de Notícias, citando também o livro de estilo do jornal)

Poderia estar a citar dezenas de sítios onde esta regra de ouro - o anonimato das fontes é excepcional e apenas aceitável para protecção da fonte que fornece informação de interesse público, quando existem riscos reais para o autor dessa revelação - mas não vale a pena, por duas razões: 1) a regra é da mais chã vulgaridade e encontra-se em qualquer canto e esquina; 2) nenhum orgão de informação que eu conheça a respeita seriamente, e é, portanto letra morta, em termos práticos.

Miguel Santos Carrapatoso, jornalista especialista em intrigas várias e conversa de porteiras, como é frequente nos jornalistas de política, faz uma boa demonstração da completa inutilidade desta regra do jornalismo, numa peça sobre a interessantíssima entrevista de Passos Coelho que está no Observador e que o Observador resolveu boicotar "interpretando", "descascando respostas", "procurando nas entrelinhas" e essas coisas habituais pelas quais a secção de política do Observador substitui o jornalismo que se recusa a fazer.

Vale a pena ler a peça, tendo em atenção a regra de ouro do jornalismo que é uma espécie de alquimia inversa: a regra é de ouro, mas boa parte dos jornalistas transformam-na em vulgares pedras sem valor.

Os únicos factos verificáveis (as declarações de Passos que o jornalista escolhe, omitindo as partes seguintes que contrariam a tese do jornalista e as declarações de Hugo Soares) contrariam claramente a tese do jornalista, e tudo o que o jornalista apresenta para justificar a sua tese de que a "direita" (que não sabemos o que seja), não compreende o "plano" (qual plano?), é baseada em gente que conhece bem "os bastidores" (qual gente?), em "núcleos duros" (quem?), em coisas que "sabe o Observador" (como?), em desabafos de um "destacado dirigente social-democrata" (quem?), em questões que se repetem "nos bastidores" (quais bastidores?), etc., etc., etc..

Não há mais que isto, interpretações do jornalista assentes em fontes anónimas interessadas em "recados, ajustes de contas ou mera intriga" como, com propriedade, o livro de estilo da Lusa caracteriza isto.

Não admira que mestres da intriga, dos ajustes de contas, dos recados, como António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa ou Paulo Portas, tenham a proeminência que têm no espaço mediático em Portugal, mas que os reformadores, como Cavaco Silva ou Passos Coelho, o sejam sistematicamente contra, ou pelo menos ignorando, a imprensa.

Por mim, fico satisfeito que a única resposta de Montenegro à inventona mediática do IRS tenha sido a de dizer que vai cumprir as suas promesas eleitorais e tem mais que fazer que governar em função do que aparece na imprensa.

Mas tenho pena, porque o resultado para a imprensa só pode ser um, que a imprensa persista no hara-kiri quotidiano de ignorar regras de ouro da sua actividade, mais ou menos como se um projectista de pontes resolvesse projectar pontes ignorando a lei da gravidade.


9 comentários

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De a. almeida a 16.04.2024 às 10:19

Subscrevo.
E talvez seja por isso que gente com qualidade e com idade suficiente para os conhecer de ginja, tenha escrito isto
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De balio a 16.04.2024 às 10:42

Uma vez ouvi no Observador o comentador/jornalista Rui Pedro Antunes a dizer que o resultado da eleição em congresso da nova direção da Iniciativa Liberal (IL) iria depender dos núcleos e das "quotas" da IL. Escrevi um email ao Observador dizendo que os núcleos da IL em nada poderiam influenciar tal resultado, e que não havia quotas nenhumas, dado que na IL todos os membros participam (ou podem participar) nos congressos com igual direito a voto. E remeti-o para os estatutos da IL, os quais se encontram disponíveis online. O jornalista respondeu-me, agradecendo, penalizando-se pelo seu erro e aproveitando para mandar umas "bocas": que a sala onde a IL reúne o congresso deveria ser muito grande, para poder ter lá todos os milhares de membros da IL, e que iria aproveitar a leitura dos estatutos da IL para fazer um programa crítico sobre eles.
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De Anonimo a 16.04.2024 às 11:11


O anonimato da fonte é irrelevante.
Qualquer fonte tem que ser verificada. Isto se for numa notícia ou reportagem, se for um cochicho, qualquer coisa serve.
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De M.Sousa a 16.04.2024 às 14:43

A imprensa vive no clássico ambiente de intriga política de "côrte"; quais cortesãos de um qualquer reino decadente ...
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De Albino Manuel a 16.04.2024 às 18:07

"especialista em intrigas várias e conversas de porteiras"...


"Mestres da intriga, dos ajustes de contas, dos recados"...


O que vale é que este blog é alfobre de via recta e santidade.
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De O apartidário a 16.04.2024 às 18:20

3.º assalto: enganei-me no IRS, mas o culpado és tu
O director do Expresso foi um pouco infantil, como nas desculpas de criança apanhada com um erro grosseiro numa prova: “Ó Senhor Professor, a culpa é daquele menino, que me passou uma cábula errada.”

15 abr. 2024, 00:14 no Observador

Estamos numa fase totalmente nova em Portugal: a liderança da oposição está na comunicação social. Sem imparcialidade, nem isenção, sem independência, nem objectividade, punhos levantados e trombetas sempre assestadas.
No ringue do boxe político e mediático, os assaltos sucedem-se a ritmo intenso. 1.º assalto: o logótipo – o combate partiu de um primeiro desafio de Ricardo Costa, no palco da SIC. 2.º assalto: o livro – a “guerra cultural” foi aberta por uma peça matinal no Expresso, ampliada, ao fim do dia, pela grosseira distorção das palavras de Pedro Passos Coelho, nas “reportagens” das televisões. 3.º assalto: enganei-me no IRS, mas o culpado és tu – um caso que agita o Parlamento, mas tem fonte na imprensa.
Este quadro em que a comunicação social se envolve, ela mesma, no jogo tem muito que se lhe diga. Quem nos dá as notícias, se a imprensa é parte da notícia? Quem medeia, se estão todos comprometidos? Vale mais o Expresso ou o Tik-Tok? Quem garante contra as fake news, se todos veiculam fake news? Quem defende contra o populismo, se todos molham a sopa no populismo? Onde fica a independência e a isenção, se todos tomam partido sobre tudo? Onde sobra a imparcialidade, se todos são partidários?

Neste começo de ciclo, os três assaltos consecutivos – logótipo, livro e falso embuste – falam por si. Não é bonito de ver. Não nos “populistas”. Mas nos doutores de sapiência. ( do artigo a seguir linkado) https://observador.pt/opiniao/3-o-assalto-enganei-me-no-irs-mas-o-culpado-es-tu/
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De Anonimus a 16.04.2024 às 19:17

É wokismo. E superioridade intelectual. E soberba.
Já me aconteceu pessoalmente, em várias "discussões " factuais, mesmo confrontados com o erro, viram o bico ao prego. À falta de melhor, recorrem a um "és facho", "estás apresentado " ou "estamos conversados". Até porque é lex que a última palavra vence.
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De O apartidário a 17.04.2024 às 14:02

Mania e presunção de superioridade moral e intelectual isso sim. 
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De passante a 16.04.2024 às 19:01

tem mais que fazer que governar em função do que aparece na imprensa.


Deviam perguntar à camarada Liz Truss como se deu com isso, como PM do Reino Unido com maioria absoluta no parlamento.


"Os mercados" armaram-lhe uma canzoada nos jornais, e estava dali para fora em três semanas.

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