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O ano lectivo

por henrique pereira dos santos, em 23.08.20

Luis Aguiar-Conraria tem sido incansável na desmontagem dos argumentos dos que querem evitar a normalidade presencial do ano lectivo.

Na Sexta-feira, 21, na RTP3, por volta das 22 e 20, e sobretudo no fim do seu segundo comentário, diz claramente que os senhores jornalistas, em vez de perguntarem que medidas deve o governo tomar para responder à crise económica que se instala perante os nossos olhos e a nossa indiferença, devem parar de assustar as pessoas com informação falsa sobre a epidemia que, isso sim, seria um bom contributo para retoma económica.

Dá dois exemplos claros e recentes, o da forma como foi tratada a morte de um bebé de quatro meses que é registado como uma morte covid, mas que tem uma patologia grave desde o nascimento e, sobretudo - ele diz acaloradamente que é inadmissível e eu só posso concordar - a forma como toda a imprensa repetiu títulos sobre um estudo que demonstraria que as crianças são tão ou mais infecciosas que os adultos e, lendo o estudo, é claríssimo que que os autores dizem que não estudaram a transmissibilidade mas apenas cargas virais.

Por coincidência, uma pessoa que não conheço, e que pela conversa me pareceu professor, veio argumentar comigo que "se há várias dezenas de milhares de professores com mais de 60 anos é de esperar que para alguns a doença ataque mais fortemente e que alguns morram".

Este tipo de terrorismo argumentativo, que felizmente muitos professores não usam, mas que caucionam com o seu silêncio e com a passividade com que deixam o espaço público aos que não querem normalizar o ensino presencial, tem excessiva expressão no jornalismo, que raramente perde tempo a demonstrar que isto não são argumentos para manter escolas fechadas, isto é puro terrorismo argumentativo.

Vamos aos factos.

Não sabemos quantos professores existem em grupos de risco.

Os estudos sobre o envelhecimento da classe debruçam-se sobre os professores com mais de 50 anos, não tendo muita informação sobre a estrutura etária (ou melhor, na rápida pesquisa que fiz não encontrei a estrutura etária, deve haver com certeza, eu é que não tenho tempo agora para procurar mais) que permita saber quantos professores existem entre os 60 e os 70 anos.

Dito isto, as pessoas entre 60 e 70 não estão, por essa razão, nos grupos de risco que, do ponto de vista etário, são definidas a partir dos 70 anos.

É verdade que dentro dos grupos de risco estão muitas pessoas que têm mais de sessenta anos e que têm outras patologias que as tornam parte desses grupos de risco.

Algumas dessas patologias não dependem de comportamentos individuais, mas duas das mais espalhadas, o excesso de peso e a tensão alta, são, em grande medida, controláveis por comportamentos individuais, isto é, quem se sinta em risco porque tem mais de sessenta anos e a tensão alta ou excesso de peso pode, na maior parte dos casos (não em todos, é certo) reduzir esse risco adoptando comportamentos individuais que diminuam o seu peso ou a sua tensão arterial.

Exigir o fecho das escolas para que estas pessoas possam manter comportamentos individuais de risco não diminui o risco de morte destas pessoas, que continuam com mais de sessenta anos, peso a mais ou tensão arterial alta, mas a alteração dos seus comportamentos individuais ajuda a protegê-las da doença, com ou sem escolas abertas.

Acresce que os professores em grupos de risco podem adoptar comportamentos de defesa perfeitamente praticáveis, o principal dos quais é o distanciamento físico das outras pessoas. A OMS recomenda um metro, se quiserem podem duplicar para dois metros, e dar aulas mantendo uma distância permanente de dois metros em relação a terceiros é perfeitamente viável. Podem reforçar essa defesa própria com uma máscara adequada para esse efeito (não estas coisas que usamos por serem obrigatórias em alguns sítios, mas as que protegem mesmo a pessoa em causa) e lavar as mãos frequentemente.

Tudo isso cumpre perfeitamente a necessidade de defesa de grupos de risco, sem pôr em causa o direito dos alunos, em especial dos mais pobres e frágeis, a ter uma educação que atenue a diferença de oportunidades para quem nasceu em berços mais dourados.

Um professor que se recusa a contribuir para fazer funcionar o elevador social através da educação porque se recusa a adoptar comportamentos individuais que podem reduzir o seu risco face à covid não é um professor que eu respeite.

Acresce que toda a informação que existe sobre escolas - sim, há países em que as escolas ou sempre funcionaram, ou rapidamente foram postas a funcionar, mesmo durante a epidemia - não demonstra problemas de maior de gestão da epidemia, ou de crescimento de risco para os professores, decorrentes do contexto escolar presencial.

Claro que com os jornalistas a insistir em falar nas escolas que fecham imediatamente depois de recomeçar o ensino presencial será sempre difícil combater a paranóia dos contágios.

Lembro-me de uma notícia que dizia que já havia sete escolas fechadas, se não me engano, na Alemanha, e depois percebia-se que em apenas numa havia uma ligação a um surto ligado à comunidade, nem sequer ao contexto escolar, o resto eram medidas precaucionistas da paranóia dos contágios e, ainda assim, a notícia omitia que sete escolas é um número residual, sem qualquer expressão.

Lembro-me de se focar a atenção, por exemplo, nas dez escolas que fecharam em Portugal (existem cinco mil escolas em Portugal, se não em engano), omitindo que algumas nem sequer tinham caso nenhum, declara-se um surto no lar de terceira idade e a câmara decide fechar as escolas, o que torna difícil combater a paranóia dos contágios.

Se há um teste positivo (e já nem discuto a questão de nos concentrarmos nos doentes, e não em resultados de laboratório) numa escola, o que há a fazer é isolar esse caso, testar os contactos mais próximos, isolar quem deva ser isolado, e continuar a vida da escola normalmente.

Mesmo que assim não seja, eu não entendo os professores que não dizem, alto e bom som, que mais vale ter cem escolas a abrir e fechar ao ritmo da paranóia dos contágios e testes, e as outras 4 900 abertas e a funcionar normalmente, a ter tudo fechado, com medo de que algum professor seja contagiado na escola.

Que me perdoem os professores que não o merecem, mas o silêncio de tantos professores perante as campanhas absurdas contra a abertura de escolas, é imperdoável.

Os professores têm a obrigação moral de estar na primeira fila da defesa da importância social da escola presencial - e, já agora, da importância social da sua profissão - e, mesmo que tenham medo, compreender que ali ao leme são mais eles próprios, são uma das principais garantias e alavancas de uma sociedade mais rica e mais justa.

Que os jornalistas não ajudem os professores de boa vontade a sair do armário, é deprimente.


13 comentários

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De Carlos Sousa a 23.08.2020 às 12:04

O que é mais deprimente é saber que nunca se fizeram testes a assintomaticos, nem na gripe das aves, nem na gripe do ano passado, e este ano haver uma histeria colectiva com números incomparáveis. 
E também é deprimente esta pseudo pandemia estar a ser gerida por pessoas que, de manhã dizem uma coisa e de tarde o seu contrário. O caso das máscaras, que no início pouco ou nada serviam, e agora como há excesso já ponderam a obrigatoriedade ao ar livre.
Como é que me podem tranquilizar e dizer que se preocupam com a saúde das pessoas se os efeitos secundários desta criminosa gestão estão a provocar um aumento brutal de mortos com outras patologias?
Acho que está na altura de parar. O facto de admitir um erro e mostrar disponibilidade para o corrigir dignifica não só a pessoa como a entidade que representa.
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De Samuel B. ilva a 23.08.2020 às 12:23

Este homem nao para.... ha dias dizia que cita quem sabe
Ou seja... nao só costuma "opinar" sobre o que nao percebe NADA como agora cita quem está no mesmo nivel


Um professor de economia a dar palpites sobre o regresso às aulas ?
No inicio comentas sobre "as informação falsas sobre a pandemia"... nunca me enganaste !!!! Nunca.... cada vez mais mostras ao que vens. Disfarçado de opinador.   Esforça-te mais henrique. Dessa maneira nunca passarás de ser um mero blogger 
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De Anónimo a 23.08.2020 às 12:27

De que se espanta? As reivindicações dos professores são sempre em função dos seus aumentos salariais, progressões das carreiras,  a sua carga horária, etc. etc. Talvez por ser uma classe profissional já não muito jovem, parece-me um pouco acomodada. 
Nunca dei conta de que alguma vez tivessem dado a primazia  aos alunos, ou prioridade ao seu direito a aprender.  Também não me parece que as suas greves tenham em consideração o incómodo ou perturbação causada  a alunos e famílias,  basta ver a calendarização, quase sempre em épocas de avaliações ou em pleno período de exames nacionais.
Mas em última instância, acima dos professores, está o M. Educação que é quem devia definir o melhor e mais conveniente para os alunos. Eles são o futuro e isto não é um cliché.
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De Anónimo a 23.08.2020 às 12:40

 "se há várias dezenas de milhares de professores com mais de 60 anos é de esperar que para alguns a doença ataque mais fortemente e que alguns morram".



Caro Senhor


A frase que acima transcrevo, e que é a base da argumentação do Sr. Nogueira do sindicato dos professores, seria válida se esses ditos milhares de professores tivessem a seguinte atitude:
1- Não andavam de automóvel, ou, fazendo-o, não excediam a velocidade de 30 Km/h
2 -Não andavam de avião ( nem para o Porto Sr nogueira) pois existem riscos de acidentes com aeronaves
3- Não saiam à rua sem se terem protegido com capacete e proteções para as quedas, que são mais prováveis em pessoas com essa idade.
4- Não comiam alimentos ( marisco) passíveis de envenenamentos e toxicidade perigosos ( ameijoas na carne de porco de porco à alentejana) sem ter confirmação da sua qualidade por parte das competentes autoridades sanitárias ( Instituto R Jorge ?). Já houve óbitos reportados... causados por bivalves e marisco.
...
...
E assim por diante, não faltaria inúmeros exemplos de actividades de risco que os professores ( e até sindicalistas ) correm na sua vida diária e normal.


O que é profundamente revoltante na argumentação do sr. Noggueira e seu ( quer dizer, do PCP) sindicato, é a ideia de que o ensino é algo que é indiferentemente ser feito através de trabalhos de casa ou de um ecrã de computador. Um professor ( o sr nogueira não se pode lembrar; há 30 anos que não entra numa sala de aulas: onde se ensina!) vale muito mais do que isso e tem muito maior participação na educação e formação das crianças.


O Sr Nogueira afinal tem um profundo desprezo pelo ensino, pelos professores, e sobretudo, pelos alunos ( sendo os mais pobres os mais castigados com esta situação).


Cumprimentos.


Vasco Silveira


Vasco Silveira 
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De Anónimo a 23.08.2020 às 14:02

"Jornalistas"??!!
Generosidade a sua, caro Engenheiro.


JSP




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De voza0db a 23.08.2020 às 18:57


A parte MAIS DIVERTIDA desse estudo de faz-de-conta é esta


"Our study is limited to detection of viral nucleic acid, rather than infectious virus,". fonte (https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/2768952)



Está tudo dito. Numa sociedade com ~99% de Ignorância não há nada que impeça os salafrários no "Poder Democrático" de fazerem o que bem quiserem.


Tal e qual como no glorioso tempo da Ditadura!


Afinal TANTOS temos tantos escravos boçais com formação superior mas na prática continuam ignorantes.
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De Anónimo a 23.08.2020 às 22:45

Felicito-vos. O Martins foi de férias. Graças a Deus. Ele não aguentava estes tempos.
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De voza0db a 23.08.2020 às 23:21


E desde quando é que a idade é factor de risco?


Apenas é um problema para os animais que não sabem cuidar do seu próprio organismo! Aliás se a idade fosse factor de risco TODOS os velhos e velhas tinham morrido... Como é facilmente verificável tal não aconteceu!


Toda esta argumentação em torno de uma FRAUDE é em si mesma inútil...
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De Anónimo a 24.08.2020 às 10:50


Um professor que se recusa a contribuir para fazer funcionar o elevador social


Erro grande do Henrique, que mostra que ele não tem filhos em idade escolar.


A maioria dos professores, meu caro Henrique, não só não quer contribuir para fazer funcionar o elevador social como, de facto, faz tudo o que pode para que o elevador social não funcione.


A maioria dos professores esforça-se denodadamente para que somente os alunos com pais cultos, ricos e com tempo, ou para fazer os trabalhos de casa dos seus filhos, ou para pagar a "explicadores" que lhos façam, possam ter sucesso.


A maioria dos professores não pretende ensinar os alunos, pretende que somente os alunos que tenham pais com tempo, saber e experiência para lhes fazer os complicadíssimos trabalhos que encomendam possam vencer na competição escolar.


A maioria dos professores não ensina nada, antes diz aos alunos para irem procurar o ensino na internet, coisa que, naturalmente, na prática serão os pais dos alunos a fazer, aliás só poderão mesmo ser eles, porque os trabalhos encomendados são tão difíceis, tão difíceis, que somente os pais, e mesmo, dentre estes, somente os pais educados e cultos, poderão executá-los.


Atualize-se, Henrique. Essa da educação como elevador social foi coisa de quando você era jovem.
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De Anónimo a 24.08.2020 às 12:15


o excesso de peso e a tensão alta, são, em grande medida, controláveis por comportamentos individuais


Não são, não. Ou, pelo menos, o excesso de peso não é. Basta ver a quantidade de pessoas que tentam perder peso, sem o conseguirem, e a quantidade de livros que há no mercado sugerindo diversas formas de o fazer, para ver que não é lá muito fácil perder peso.
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De henrique pereira dos santos a 25.08.2020 às 08:58

Ser fácil ou ser controlável por comportamentos individuais, são coisas diferentes.
É controlável por comportamentos individuais (salvo casos excepcionais) mas a generalidade das pessoas não está para mudar de vida para o conseguir, o que é legítimo.
O que não é legítimo é negar o direito dos alunos à escola porque eu não quero mudar de vida para me proteger.

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