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O ambientalismo silencioso (parte dois)

por henrique pereira dos santos, em 26.09.22

Talvez seja útil confrontar as declarações do Senhor Secretário-Geral da ONU com os dados existentes, como forma de começar este post.

Disse António Guterres, a propósito das cheias no Paquistão, que terão provocado à volta de 1500 mortes: "I have never seen climate carnage on the scale of the floods here in Pakistan."

Agora os dados de um século para o conjunto de desastres naturais, incluindo cheias.

Deaths-from-disasters-bubbles-1.jpeg

E comecei por aqui porque esta é a outra face da visão moralista e conspirativa do mundo, a da pura manipulação.

Não tenho nenhuma dificuldade em aceitar que a afirmação de Guterres seja sincera e verdadeira: nunca terá visto cheias maiores e mais letais que as do Paquistão neste ano.

Guterres sabe perfeitamente que o que vê é uma pequeníssima parte do mundo, no espaço e no tempo, e sabe perfeitamente que ninguém, na posição dele, trabalha apenas com o que vê, sendo impossível que desconheça as estatísticas que estão acima.

O que está em causa, no movimento ambientalista - o movimento ambientalista está longe de ser monolítico, é tão diverso que até me inclui a mim, sempre que nestes post escrever "movimento ambientalista", estou a generalizar a partir daquilo é que a sua corrente dominante -, sempre existiu no mundo e pode ser muito bem avaliado a partir da evolução do marxismo e suas evoluções.

Rosa Luxemburgo é uma das fundadoras do partido social democrata alemão,  mas já nesse momento de fundação pertencia à sua corrente mais radical, que a levou a afastar-se e a morrer assassinada, depois de uma vida dedicada à revolução.

À medida que a complexidade da realidade se impõe no quotidiano de quem tem de tomar decisões, há sempre quem considere, uma vez ou outra com razão, todos os desvios em relação ao mundo ideal como cedências "aos interesses".

Esse foi o caminho que levou ao grupo Baader-Meinhoff ou às Brigadas Vermelhas, e a muitos outros grupúsculos radicalizados, a maior parte dos quais sem consequência de maior para a sociedade, felizmente.

É impossível não ver sombras deste processo nisto: "“Para que é que estamos a ir às aulas, se não temos um futuro?”, pergunta Teresa Núncio, questionando o statu quo que se vive, em que se estuda e trabalha como se o futuro estivesse assegurado, apesar da progressão actual das emissões de CO2 (se nada for feito, a temperatura média da Terra facilmente aumentará três graus, com consequências devastadoras). “O absurdo é a normalidade”, constata. Porquê? “Porque é um sintoma de que as pessoas não estão conscientes em relação ao estado da crise climática”, diz a estudante, que também está a ajudar a preparar a ocupação no estabelecimento de ensino que frequenta, a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa."

Está cá tudo: a infantilização da argumentação ("para quê estudar se não temos futuro"), a troca da racionalidade cartesiana pela emoção, a crítica aos que não seguem a "linha justa" e a conclusão de que é preciso agir, mesmo que temporariamente contra a maioria, para benefício de todos.

Estamos ainda longe da defesa da violência sobre alguns como forma de atingir a felicidade para todos, mas os passos que o movimento ambientalista está a dar, estão a ir nesse sentido: "Neste contexto e tendo em conta as limitações das greves enquanto forças de mudança, o manifesto publicado no The Guardian anunciou uma nova táctica: a ocupação de escolas e universidades feita por estudantes durante os meses de Outono."

E, naturalmente, há opções a fazer.

A minha opção é claramente diferente da de António Guterres.

"No entanto, de 2020 para cá, as emissões de CO2 voltaram aos valores pré-pandémicos, catástrofes naturais, como as mais recentes cheias no Paquistão, continuaram a suceder--se e a invasão russa da Ucrânia produziu uma guerra e uma crise energética que, nos próximos meses, ameaça tornar-se uma crise social europeia de grandes proporções. Ao mesmo tempo, as grandes empresas petrolíferas arrecadaram tamanhos lucros que, no início de Agosto, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, acusou-as de uma “ganância grotesca”."

No que conseguir e me for possível, tenciono manter-me no campo da racionalidade cartesiana e dos factos, matéria para o terceiro post sobre este assunto, entre outras razões por ter visto até onde nos levou a manipulação da informação como instrumento para obter um valor maior, praticado de forma sistemática pelos defensores dos amanhãs que cantam.



18 comentários

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De pitosga a 26.09.2022 às 10:16


Claro, estimado HPS, que o tó — desde o pântano até à foto com água pelos joelhos e de fato completo — é um palhaço. Pena que no Coliseu dos Recreios já não haja circo, saltimbancos nem palhaços.

Augusto Luciano da Silva Nobre foi um notável Faz-tudo no Coliseu dos Recreios.


Para ver como o tipo se afunda: https://earthjournalism.net/stories/why-this-time-cover-is-a-disgrace-to-the-climate-realities-of-pacific-islanders


Abraço
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De Anónimo a 26.09.2022 às 10:16

Bom dia HPS
Muito bom.
António Cabral
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De Anónimo a 26.09.2022 às 11:15

gugu da ó nu repete o que considera que lhe dá  prestígio
devia dizer « quando respiro emito CO2; logo existo »
aos 8 mil milhões a emitir CO2 pela boca e metano pelo outro extremo do tubo digestivo, acrescente mais de 150 milhões de vacas sagradas da União Indiana
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De balio a 26.09.2022 às 11:20


a invasão russa da Ucrânia produziu uma guerra e uma crise energética


Não foi a invasão russa da Ucrânia que produziu a crise energética. O que produziu essa crise foi a reação descabelada da União Europeia a essa invasão. Se a União Europeia tivesse reagido de forma mais moderada, não teria havido crise energética nenhuma, porque a Rússia teria continuado a fornecer energia.
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De lucklucky a 26.09.2022 às 18:11

A crise energética foi provocada pelas Esquerdas e Direitas do Ocidente (excepto Trump) que estiveram no poder no Ocidente e bloquearam polticamente a exploração de energias fosseis e nucleares. 
Incluíndo o bloqueio do crédito a países em desenvolvimento.
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De Anonimo a 26.09.2022 às 11:22


Temos de mudar.


A geração da Greta pode começar por colocar de lado os telemóveis (reduz o consumo de energia e de metais raros para baterias)


A geração acima, não há mais viagens de avião. Descarbonização total. Claro que não podem mais "conhecer mundo" e "influenciar" a partir da praia das Maldivas, mas todos temos que fazer sacrifícios.


À geração idosa (aka, a que destruiu isto), cabe baixar o consumo de água. Já abandonei o leite de amêndoa e o abacate, e só tomo banho de 2 em 2 semanas. Vamos todos ajudar.
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De JPT a 26.09.2022 às 14:19

Tomar banho de duas em duas semanas, num clima como o nosso (em especial de Abril a Outubro), não faz mesmo nada bem ao ambiente. Aliás, já tive que informar mais de um jovem colega desse facto (e não é uma conversa fácil).
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De balio a 26.09.2022 às 16:28


Tomar banho não faz propriamente grande coisa para eliminar os maus cheiros. Esses maus cheiros provêem mais frequentemente da roupa (usada durante vários dias sem ser lavada) do que diretamente do corpo.
Para eliminar os maus cheiros do corpo, há práticas mais eficazes do que tomar banho. Em particular, aparar os pelos das axilas e besuntá-las com uma gordura (por exemplo, óleo de amêndoas doces, ou banha de porco). Isso, conjuntamente com lavar a roupa com frequência, é mais eficaz a melhorar o ambiente do que tomar banho.
(Outra coisa importante, claro, é não comer alho cru.)
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De Anonimo a 26.09.2022 às 17:47


-- óleo de amêndoas doces,



Amendoeira consumem muita água


-- ou banha de porco


isso vai contra o veganismo. Acabar com pecuária é preciso



-- Isso, conjuntamente com lavar a roupa com frequência


Consumo de água E electricidade?? Estamos a tentar salvar o planeta ou quê? Quando muito no tanque, sem detergentes, e só quando chover
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De balio a 26.09.2022 às 16:33


A geração da Greta pode começar por colocar de lado os telemóveis


Eu diria antes, colocar de lado os carros elétricos.


E a propósito de carros elétricos, quem os tem na Europa Central deve agora estar a arrepender-se de os ter comprado, pois o preço da eletricidade subiu muito mais do que o da gasolina.


Sempre me pareceu que esta moda dos carros elétricos, além de má para o ambiente (devido aos materiais nas baterias), é perfeitamente estúpida em termos económicos, pois que para gerar eletricidade são precisos combustíveis fósseis. Como agora se está a tornar dolorosamente evidente na Europa Central.
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De Anónimo a 26.09.2022 às 11:52

"(se nada for feito, a temperatura média da Terra facilmente aumentará três graus, com consequências devastadoras).


Na China e na Índia antes de tudo, presumo.
O próprio Acordo de Paris lhes dava larga margem para continuarem a poluír até 2030 enquanto "se adaptavam" e depois a curva deles parava ali, não havia "day after" evidente.
Eu sempre defendi que não há planeta B mas isso incluí o facto de que os grandes poluidores, com 1/3 da população mundial, também estão no mesmo planeta que nós.
É então assim que o mundo se vai tornando mais igualitário por efeito das dificuldades que os povos mais ricos encontram ao adaptar-se  voluntáriamente às limitações que o combate implica enquanto noutras paragens continua tudo mais ou menos na mesma. 


Não se faz nada? Claro que tem que se fazer e muito.
Mas não ao sabor das campanhas promovidas por cientistas variados que arranjaram um nicho de mercado que lhes vai garantindo uma vida confortável até à reforma, sempre metidos em aviões para reuniões em locais longínquos e turísticos e sempre apoiados por governos que só querem ficar bem na fotografia ainda que por trás pouco façam, a realidade da vida dos povos é que a maioria quer comer amanhã.
A ONU estaria numa posição privilegiada para coordenar ideias mas não actuações, não está lá muita gente que tenha experiência de terreno.

Infelizmente é mais o contrário que se vê, com equipas aqui e ali para mostrar serviço e algumas vagas, burocráticas e naturalmente inexequíveis normas ao nível global.



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De Antonio Maria Lamas a 26.09.2022 às 12:39

António Guterres está cada vez mais parecido com uma Miss Mundo. 
Cada vez mais me convenço que os lugares ditos importantes atribuídos aos portugueses são para gozar connosco e nos ridicularizar 
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De lucklucky a 26.09.2022 às 18:12

Pior. Guterres transformou-se num fanático e está a fabricar ódio.
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De Anonimo a 26.09.2022 às 13:36


Portugal deve caminhar de cabeça erguida e consciência limpa. A central a carvão, responsável por 28,643% das emissões globais, fechou e não será reaberta, com ou sem guerra, com ou sem seca.
Sinto o planeta mais limpo, obrigado Costa.
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De Jorge a 26.09.2022 às 16:14

Estes lunáticos e fanáticos da nova religião ambientalista não descansam enquanto não levarem os jovens de regresso ao mundo pré histórico....como o Pol Pot fez no Cambodja e o Mao na China. Acabar com a escola e com os professores e intelectuais...e tudo para o campo cavar e comer insectos se a colheita não chegar. Com a ajuda dos media subservientes ao poder politico estão a formatar as futuras gerações na ignorância e na crendice. Não existe nenhuma crise ambiental o que existe é uma crise energética
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De lucklucky a 26.09.2022 às 18:14

Os media não são subservientes, são parte essencial do movimento.
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De Zé Manel Tonto a 26.09.2022 às 20:56

Sempre que um destes imbecis dos ambientalismos radicais começa a verborreia peço-lhe que me mostre o telemóvel. E depois de olhar para o bonito smartphone com ecrã táctil pergunto se sabe onde são as minas dos metais raros que são usados nesses ecrãs, quantos quilómetros por navios a queimar nafta têm que fazer até chegar às fábricas na China, quantos quilómetros noutros navios a queimar nafta até chegarem à Europa...

É perguntar a esses meninos a que países já foram de férias. Conheço uma radical das alterações climáticas que correu meia Europa.

Conheço outra radical das alterações climáticas que liga o aquecedor assim que a temperatura exterior se aproxima dos 10 ºC, e que pega no carro para fazer 800 metros para ir ao supermercado.

A maioria dos radicais do ambiente não conseguiria viver num mundo em que as emissões fossem reduziadas 10%.

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