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Nove em cada dez

por henrique pereira dos santos, em 29.03.20

Esta reportagem do Observador sobre os lares merece ser lida.

Desde o princípio que sabíamos quais os grupos de maior risco em caso de infecção por coronavírus e a seu tempo se discutirão as responsabilidades que nos cabem a todos, não apenas de quem tem de decidir nestas matérias, frequentemente com opções mínimas face aos recursos e ao contexto.

O que me interessa aqui, neste post, é a frase com que arranca, porque é mais ou menos o que todos dizemos: “Os lares de idosos são as grandes bombas-relógio”.

Agora saiamos do nosso conforto e entremos na pele de um dos utilizadores desses lares que, como é frequente nessas condições, todos os dias vê televisão e todos os dias é massacrado com as reportagens dos camiões de caixões de Bérgamo, sem que ninguém lhe explique que são os cuidados no tratamento dos corpos que os justificam, e não a quantidade de pessoas mortas.

Todos os dias é massacrado com a ideia de que se alguém com mais idade for infectado, é desgraça certa.

E, de repente, dizem-lhe que a peste entrou no seu lar.

Quando se declara uma infecção no seu lar, não só já está instalada no seu espírito uma enorme intranquilidade, como ainda acentuamos a ideia de que não há nada a fazer, vai morrer toda a gente.

E, no entanto, na pior das hipóteses, nove em cada dez infectados nos grupos de risco não morre da doença.

Não sabemos bem se é assim, porque não sabemos quantos infectados já houve antes, no momento em que se fazem os testes, o simples facto de que cada vez que se testam todas as pessoas ligadas ao lar, porque há um caso conhecido, se revelar uma enorme taxa de infecção, sugere que é bem provável que a taxa de mortalidade seja, afinal, bem mais baixa daquela que neste momento se aceita, mas saltemos por cima disso e aceitemos como boa a taxa de mortalidade de 9%, 10 para facilitar as contas.

Claro que é uma taxa altíssima, claro que se for eu o décimo, não me vale de muito saber que os outros nove não vão morrer, mas o que devemos nós fazer a quem, na mais absoluta fragilidade e dependência dos outros, vê a morte de frente?

Continuar a insistir que vai tudo morrer, sendo mentira e ampliando a angústia e o desespero, isolando toda a gente, impedindo o contacto com quem se ama para mitigar o contágio de pessoas de muito baixo risco?

Ou estar lá, ir buscar a nossa humanidade onde ela estiver, dizer que há risco sim, mas que nove em cada dez pessoas naquelas condições não morrem, mesmo que infectadas, e aceitar o baixo risco da infecção para a generalidade das pessoas, para que se possa dar um fim de vida mais tranquilo ao tal décimo, ou ajudar os outros nove a lidar com o desamparo do momento?

Não conseguimos antecipar o problema dos lares e falhámos aos mais frágeis, é certo, e de certeza que é possível encontrar formas de mitigar os riscos sociais do contacto com os infectados (é o que fazem todos os dias os que lidam profissionalmente com a doença), mas ainda que não fosse possível, temos mesmo o direito de obrigar à solidão os mais frágeis numa altura destas, e de lhes roubar toda a esperança ao mesmo tempo, só porque estamos nós próprios assustados?

Ensinaram-me que o inferno era a ausência de esperança, é por isso que acho desumano voltar a faltar a estas pessoas, condenando-as ao inferno em vida.


5 comentários

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De Anónimo a 29.03.2020 às 10:26

os lares são depósitos de quem foi gente
vivó social-fascismo da eutanásia e outras causas fracturantes e facturantes
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De Anónimo a 29.03.2020 às 16:45


Diós vino a libertar a los cautivos....


"O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque ele me ungiu para levar boas novas aos pobres.
Enviou-me para anunciar a liberdade aos cativos
restituir a vista aos cegos,
pôr em liberdade os que estão oprimidos,
 e para proclamar o tempo do favor de Deus.”


lucas 4:17-19

O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração,
A pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do Senhor.

Lucas 4:18,19 (https://www.bibliaonline.com.br/acf/lc/4/18,19+)
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De sam a 29.03.2020 às 12:31

Espanha: em Tomelloso (Ciudad Real), no lar da Fundación Elder, registam-se já 40 mortes, que corresponde a um quarto dos ocupantes. E a contagem vai continuar.
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De Anónimo a 29.03.2020 às 23:38

Precisavamos saber quantas pessoas recuperadas tinham mais de 60/70/80 anos. Não percebo como menciona os 9% ou 10%. Neste momento, o rácio de letalidade da doença, com os dados que existem é de 73%: temos 162 casos concluídos com 43 recuperados e 119 óbitos. No total em todo o mundo (https://www.worldometers.info/coronavirus/ (https://www.worldometers.info/coronavirus/)), temos 184821 casos concluídos com 150918 recuperados e 33903 óbitos (18%). À data de hoje é o que há.
Esperamos todos que os casos se concluam com cada vez mais recuperados... mas para já, acreditando dentro do possível, onde parece que a situação está mais controlada (China) e onde tínhamos uma grande amostra, temos 4% (https://www.worldometers.info/coronavirus/country/china/ (https://www.worldometers.info/coronavirus/country/china/))
Contudo, olhando para a Itália, Espanha e EUA, onde de facto diria que podemos confiar nos números, o caso parece ser mais assustador: 45%, 32% e 35%.
Vamos ver.
2% 3% 9% ou 10% é que não me fazem sentido nenhum...
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De henrique pereira dos santos a 30.03.2020 às 06:41

Enquanto partir do princípio de que os casos confirmados têm a mais leve relação com os casos infectados, chegará às conclusões de que fala.

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