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Esta reportagem do Observador sobre os lares merece ser lida.
Desde o princípio que sabíamos quais os grupos de maior risco em caso de infecção por coronavírus e a seu tempo se discutirão as responsabilidades que nos cabem a todos, não apenas de quem tem de decidir nestas matérias, frequentemente com opções mínimas face aos recursos e ao contexto.
O que me interessa aqui, neste post, é a frase com que arranca, porque é mais ou menos o que todos dizemos: “Os lares de idosos são as grandes bombas-relógio”.
Agora saiamos do nosso conforto e entremos na pele de um dos utilizadores desses lares que, como é frequente nessas condições, todos os dias vê televisão e todos os dias é massacrado com as reportagens dos camiões de caixões de Bérgamo, sem que ninguém lhe explique que são os cuidados no tratamento dos corpos que os justificam, e não a quantidade de pessoas mortas.
Todos os dias é massacrado com a ideia de que se alguém com mais idade for infectado, é desgraça certa.
E, de repente, dizem-lhe que a peste entrou no seu lar.
Quando se declara uma infecção no seu lar, não só já está instalada no seu espírito uma enorme intranquilidade, como ainda acentuamos a ideia de que não há nada a fazer, vai morrer toda a gente.
E, no entanto, na pior das hipóteses, nove em cada dez infectados nos grupos de risco não morre da doença.
Não sabemos bem se é assim, porque não sabemos quantos infectados já houve antes, no momento em que se fazem os testes, o simples facto de que cada vez que se testam todas as pessoas ligadas ao lar, porque há um caso conhecido, se revelar uma enorme taxa de infecção, sugere que é bem provável que a taxa de mortalidade seja, afinal, bem mais baixa daquela que neste momento se aceita, mas saltemos por cima disso e aceitemos como boa a taxa de mortalidade de 9%, 10 para facilitar as contas.
Claro que é uma taxa altíssima, claro que se for eu o décimo, não me vale de muito saber que os outros nove não vão morrer, mas o que devemos nós fazer a quem, na mais absoluta fragilidade e dependência dos outros, vê a morte de frente?
Continuar a insistir que vai tudo morrer, sendo mentira e ampliando a angústia e o desespero, isolando toda a gente, impedindo o contacto com quem se ama para mitigar o contágio de pessoas de muito baixo risco?
Ou estar lá, ir buscar a nossa humanidade onde ela estiver, dizer que há risco sim, mas que nove em cada dez pessoas naquelas condições não morrem, mesmo que infectadas, e aceitar o baixo risco da infecção para a generalidade das pessoas, para que se possa dar um fim de vida mais tranquilo ao tal décimo, ou ajudar os outros nove a lidar com o desamparo do momento?
Não conseguimos antecipar o problema dos lares e falhámos aos mais frágeis, é certo, e de certeza que é possível encontrar formas de mitigar os riscos sociais do contacto com os infectados (é o que fazem todos os dias os que lidam profissionalmente com a doença), mas ainda que não fosse possível, temos mesmo o direito de obrigar à solidão os mais frágeis numa altura destas, e de lhes roubar toda a esperança ao mesmo tempo, só porque estamos nós próprios assustados?
Ensinaram-me que o inferno era a ausência de esperança, é por isso que acho desumano voltar a faltar a estas pessoas, condenando-as ao inferno em vida.
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