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Já usei este título (penso que a recorrência com que me lembro dele vem de Cesário Verde), e é provável que volte a usar como forma simples de perguntar: quem define o que quer dizer este "nós" (no caso de Cesário Verde é fácil, é da sua família, dos dele que fala, sensatamente não pretende falar pela humanidade).
Lembrei-me disto quando li as peças do Público (algumas, confesso que cada vez ligo menos a este tipo de circos) de balanço da COP26 sobre o clima.
Uma das peças consistia em comparar as expectativas com o que realmente se conseguiu.
Patrícia Carvalho (tenho boa impressão do seu trabalho e inclusivamente apresentei no Porto o livro que escreveu para a Fundação Francisco Manuel dos Santos) fala das expectativas, da vontade pré-existente, do que se pretendia, sem em nenhum momento se perguntar, de quem são essas expectativas, quem tem essa vontade, quem pretende isso.
Note-se que a mais mediática das alterações de última hora foi proposta pela Índia e teve o apoio da China e dos EUA.
Seguramente metade da população dos EUA tem vontades diferentes das grandes ONGs mundiais de ambiente em relação à COP26, duvido que mais de metade da população da Índia tenha grandes vontades sobre o assunto - não conheço nenhuma grande organização de origem indiana, nem um grande movimento político indiano que incorpore a visão, por exemplo, da Comissão Europeia, sobre o assunto - e da China, sendo uma ditadura feroz, é ainda mais difícil saber o que pensa a sua população, mas tenho as maiores dúvidas que entre os principais interesses políticos e sociais do chinês médio esteja a regulamentação do artigo 6º da convenção sobre o clima.
O que estamos a assumir como a vontade da sociedade sobre a COP (e não falo da pequena minoria que faz muito barulho atrás de Greta, porque esses são muito claros sobre o que pretendem para o futuro: "no more blah, blah, blah", como não se cansaram de repetir) é na verdade a vontade dos investigadores que trabalham no assunto, das grandes ONGs mundiais (que são todas baseadas em sociedades ocidentais), dos funcionários diplomáticos de alguns governos, e mais umas quanta pessoas mas, muito provavelmente, não chegam para garantir, nem de perto, nem de longe, a representação da vontade da maioria da população mundial.
Estes grandes processos negociais internacionais são o que são e têm importância, são um exemplo típíco em que a mediação é fundamental para se chegar a uma espécie de vontade colectiva para fazer isto ou aquilo.
O que convém é não confundir a vontade dos que pensam como eu com a vontade do mundo.
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