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Está então na altura de olhar outra vez para as previsões feitas por lunáticos, por académicos convictos de que é o comportamento do hospedeiro que controla a dinâmica do vírus e pelo porteiro do hotel Alcazar.
Comecemos por aquilo que é o verdadeiro padrão para avaliar surtos e epidemias, a mortalidade excessiva.
Estamos portanto com uma mortalidade excessiva na Europa que é da ordem de grandeza dos surtos gripais de anos anteriores e, tal como os surtos gripais, tem variações geográficas muito relevantes cujas razões conhecemos mal.
Veremos como evolui, é claro que podemos voltar a ter picos como o que se verificou com a entrada de uma doença nova na Primavera deste ano, mas haver essa possibilidade não nos diz nada sobre a probabilidade da sua ocorrência. O que podemos presumir, com base na teoria, é que a entrada de uma nova doença, para a qual existem defesas menores, provavelmente se traduz num pico mais relevante, sendo raras as segundas e terceiras épocas da mesma doença com maiores impactos que a primeira, por razões que me parecem tão claras que me escuso de enunciar porque este vai ser um post ainda mais comprido que o habitual.
António Diniz, do grupo da ordem dos médicos, uma seccção muito activa dos lunáticos da covid, previa, por volta de 9 ou 10 de Novembro e para agora, a entrada de 125 pessoas por dia em cuidados intensivos. Ontem até diminuíram os internados em cuidados intensivos, mas como um dado não faz uma tendência, o que se pode dizer é que houve alguns dias em entraram por volta de 25 internados em 24 horas, embora a média a sete dias seja razoavelmente inferior.
Não vale a pena ligar nenhuma ao que diz a fortíssima falange dos que prometem sempre o apocalipse para amanhã, primeiro para poupar a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde, depois para manter a pressão sobre a mola, depois para eliminar a actividade do vírus na origem e, por fim, quando o eterno retorno das doenças respiratórias se verificou no Outono/ Inverno, retornam à defesa do Serviço Nacional de Saúde como justificação para as mesmas medidas que defendem há meses, independemente do contexto. A única adaptação ao contexto é a utilização de diferentes argumentos para defender as mesmas medidas, ou seja, mera retórica.
O resultado prático do discurso do apocalipse sobre o futuro imediato não é uma melhoria do desempenho desses serviços, que suponho que é o que se pretende, mas sim a substituição de prioridades por emergências nos critérios de decisão, o que normalmente se traduz numa diminuição de eficiência grande que, no caso, tem sido paga com a exaustão dos profissionais de saúde que acabam a fazer das tripas coração para manter o apoio aos doentes.
Por estas e por outras, o bastonário da Ordem dos Médicos, a 24 de Novembro (caramba, bastava olhar para a média a sete dias para perceber que era segura a tendência de estabilização, basta olhar para o gráfico abaixo) não punha de parte a necessidade de um confinamento mais agressivo (que é o que estão sempre a propor).
Manuel Carmo Gomes (e a sua equipa) previa, também por volta de 9 ou 10 de Novembro, 10 mil casos de covid por dia, no princípio de Dezembro, 530 internados em UCI uma semana depois e uma mortalidade à volta das cem pessoas por dia na primeira quinzena de Dezembro.
Ao longo do tempo, de forma clara e transparente, a sua equipa foi alterando a previsão, em função da evolução da epidemia, como é de boa prática, na lógica dos meteorologistas, que naturalmente estão sempre a rever as previsões para as horas e dias seguintes em função do que realmente se verificou nas horas e dias anteriores.
Pouco tempo depois, quer o próprio Manuel Carmo Gomes, quer Carlos Antunes, da mesma equipa, falavam em diminuição de casos em princípio de Dezembro (ou seja, dentro de dias), ou num pico, já à vista (a 19 de Novembro) com cerca de sete mil casos em média e a ocorrer entre 25 e 30 de Novembro, para agora (ontem), finalmente identificar o pico dos contágios algures na semana passada, entre 18 e 21 de Novembro, com médias na ordem dos 6 200 casos (não sei a que diz respeito esta média, a média a sete dias, que está no worldmeter é um bocado mais baixa, mas não é muito relevante a discussão dessa diferença).
Tandis que moi, oui moi, vestiaire à l'Alcazar, dizia que numa semana, por volta do meio de Novembro, estaríamos a parar o crescimento do número de casos diário (no gráfico acima eu leio que essa quase paragem de crescimento se verifica a 9 de Novembro, tendo continuado a subida, ligeira, até 19, mas admito que haja alguma distorção por causa correcção feita uns dias antes), o que na verdade está, e sempre esteve, muito mais próximo da realidade.
Significa isto que sei mais que as outras pessoas citadas, tenho melhor informação e coisas que tal?
Não, não significa nada disso, significa apenas que a abordagem que fiz à informação disponível, neste caso (não diz nada sobre o caso geral) se revelou mais acertada.
O que é diferente na minha abordagem é que não acredito que seja o comportamento do hospedeiro a ter o maior peso na evolução da actividade viral, não acredito que qualquer diminuição de contactos entre hospedeiros e hospedeiros potenciais represente diminuição de contacto entre o vírus e o potencial hospedeiro (que é a questão central do contágio) e estou muito mais interessado numa abordagem climatológica que meteorológica do assunto, isto é, estou muito mais interessado em compreender padrões gerais que em prever os números de amanhã.
Note-se que isso não é retirar importância à meteorologia, longe de mim cometer esse erro, para quem tem de executar, por exemplo, um fogo controlado, a meteorologia é muito mais importante que o clima, só me parece estulto planear um programa de queimas controladas entre Maio e Outubro só porque existe a possibilidade de haver um ou outro dia favorável, num meio de um padrão genericamente desfavorável a essa prática.
O que me espanta é a falta de atenção a esses padrões na discussão de um assunto em que na verdade andamos todos aos papéis e a tomar decisões que afectam profundamente a vida de milhões de pessoas sem ponderar devidamente as diferentes opções.
Por exemplo, quando comecei a reparar que a Alemanha, um dos faróis da boa gestão da epidemia na Primavera, estava agora a ter uma mortalidade maior que nessa altura, como se no tempo entretanto passado tivessem desaprendido de gerir contactos entre hospedeiros e hospedeiros potenciais, resolvi procurar perceber o padrão geográfico da epidemia na Alemanha.
Como não quero perder muito tempo com o assunto, o que encontrei não é o que gostaria, mas serve minimamente para responder à minha pergunta inicial: fazendo a Alemanha fronteira com a Europa central que tinha tido uma pequena afectação na Primavera e agora tinha uma grande afectação, com a Austria e Suíça que representavam o padrão intermédio de duas ondas médias, com os Países Baixos fortemente afectados na primeira onda e medianamente na segunda, e com os nórdicos sistematicamente referidos como exemplos de controlo (nem falo na Suécia, saco de pancada de lunáticos vários que são incapazes de ver as enormes diferenças dentro do país, com Estocolmo a ser completamente diferente de tudo o resto), essas divisões seriam visíveis na distribuição espacial da infenção no interior da Alemanha?
Sem surpresa, o que o mapa sugere é que na proximidade dos países nórdicos o comportamento da Alemanha de aproxima deles, na proximidade da República Checa e da Áustria o comportamento da Alemanha se aproxima deles e por aí fora.
Não sei o suficiente, nem tenho os dados, para tirar conclusões gerais de indícios deste tipo, mas parece-me absolutamente legítimo perguntar por que razão continuamos a usar os países como unidade geográfica base para esta discussão quando, em muitos lados, podemos facilmente descer às Nut 2 e 3 para ganhar aderência ao padrão geográfico de evolução da epidemia?
Tenho poucas dúvidas - é uma convicção, não é nenhum resultado de um processo científico - de que essa aproximação geográfica nos levaria rapidamente a uma abordagem por padrões de surtos e rapidamente deixaríamos de dar ouvidos aos profetas do apocalipse que olham para a epidemia a partir das salas de cuidados intensivos, sem fazer o menor esforço para se porem no lugar das pessoas comuns, aquelas que vêem a epidemia circular à sua volta, com pessoas infectadas e recuperadas, com pessoas acima dos 90 anos a passar pela infecção sem problemas de maior e, sim, também há, com uma ou outra pessoa a ser internada e mesmo alguns, poucos e em condições de saúde precárias, a morrer.
Ao mesmo tempo que olham, bem assustadas, para a tempestade social que estamos a alimentar com medidas mal desenhadas, não escrutinadas e com fundamentação e eficácia da treta.
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