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Na vida vamos criando agendas e compromissos. Tal pode-nos condicionar, de modo consciente ou inconsciente. Por vezes, sobre certos assuntos, é difícil imaginar qual seria a posição de uma pessoa se fosse possível aferi-la “no vácuo” de uma mente virgem e pura. Ok, o conceito de “mente virgem e pura” não é o melhor porque é uma extrema abstração, ninguém vive no vazio. Pondo a questão de uma forma mais terrena, diria que por vezes é difícil saber qual seria a posição de uma pessoa se ela tivesse uma honestidade intelectual total.
No entanto, há casos em que conseguimos intuir qual a posição “verdadeira” da pessoa, se ela já a exprimiu num contexto em que estava completamente descomprometida. Este raciocínio, um pouco elaborado, ocorreu-me quando li hoje que o Governo, com os seus aliados à esquerda, equaciona a criação de mecanismos de maior rigidez no mercado laboral. Nesse contexto, lembrei-me de um livrinho que Mário Centeno, enquanto técnico e antes de abraçar a política, escreveu.
Centeno escreveu um livro intitulado “O Trabalho, Uma Visão de Mercado”, em que abordava o mercado laboral português. O livro é um daquelas pequenas brochuras da FFMS que se vendem no Pingo Doce. Já agora, a talhe de foice, diria que o nível geral dessas publicações é francamente bom.
Ora bem, nesse livro em que Centeno não tem compromissos políticos e que suponho que a sua agenda seja unicamente a da promoção de um país melhor, o autor defende tudo, menos mais rigidez para o mercado laboral.
A economia portuguesa precisa de descolar do torpor em que estava e que a crise pandémica acentuou. Neste cenário, tudo o que sejam mecanismos de rigidez e de combate às formas mais flexíveis de trabalho é má. Nesta fase é importante que quem possa criar postos de trabalho não tenha qualquer hesitação em o fazer. Eu não defendo um modelo de total flexibilidade, como existe nos Estados Unidos. Pelo menos não o defendo dissociado de um robusto sistema de segurança social, como existe na Dinamarca. As pessoas precisam de algum quadro de estabilidade, e confiança, para tomar decisões de impacto dilatado no tempo, como comprar casa, ou constituir família. No entanto, e como disse, nesta fase o esforço da economia portuguesa deve ser “por o avião no ar”, ou seja, criar empregos e riqueza. Servir bom catering a bordo, ou seja, a exigência de condições “mais complicadas” para a criação de riqueza e emprego, não pode ser a prioridade actual. Ela poderá acontecer quando a economia estiver mais robusta, com uma baixa taxa de desemprego e com a oferta de salários francamente melhores do que os que temos neste momento.
A ideia de uma recuperação conduzida fundamentalmente pelo Estado, de costas voltadas para as forças vivas da economia, como é plasmada no Plano de Recuperação e Resiliência, está, infelizmente, em sintonia com a receita que nos tem conduzido à mediocridade.
Conforme procurei demonstrar, por vezes as soluções técnicas até podem ser relativamente consensuais e quase de bom-senso. No entanto, é importante que uma visão política, ainda que legítima, não sacrifique totalmente a validade destas em nome de estratégias que tem como único objectivo a manutenção do poder e o desenvolvimento do ecossistema pantanoso em que estamos.
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