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Eu compreendo todas as Isabel Moreira tão bem como compreendi todos os Sérgio Sousa Pinto. Perante o vazio de ideias da esquerda, perante a sua venal opção por um capitalismo de estado que enriquece alguns e leva todos à falência (mas de que nunca se arrepende), perante a vacuidade do credo «social» e «para as pessoas», eu compreendo bem que optem por se pôr em bicos dos pés fracturantes. Foi o aborto, é a co-adopção, há-de ser a eutanásia e, depois, a bestialidade, porque, no fim de contas, também pertence ao «mundo dos afectos». E compreendo bem que venham sempre exaltados e aos gritos, apodando de bárbaros todos os que os contrariem e de retrocesso civilizacional todos os caminhos diferentes. Estar num beco sem ideias produz estes destemperos obsessivos.

Desta vez, foram travados.

Apesar de uma trapalhada que se deveu sobretudo à interpretação abusiva que alguns deputados centristas e social-democratas fizeram do grau de liberdade que os eleitores (não) lhes dão, apesar da trapalhada que corrigiu essa trapalhada original, os «fracturantes» foram travados. Podem gritar e esbracejar, invocar bullyings e inconstitucionalidades, mas foram travados.

Agora, convém corrigi-los.

Não, ao contrário do que diz Isabel Moreira, a «esta Assembleia» não foi outorgado um mandato sem limites ou contornos . O povo -- os eleitores -- vota em programas e práticas políticas. Talvez compreenda com um exemplo simples: nem os deputados do PCP representariam mais o seu eleitorado se, de súbito, perfilhassem Hayek, nem os deputados do PSD representariam mais o povo se, repentinamente, perguntassem «Que fazer?» e adoptassem o ideário leninista. É o mesmo com a co-adopção, para cuja aprovação não tinham nem pedido, nem apoio, nem mandato, nem licença.

E não, ao contrário do que diz Paulo Rangel, os deputados não são livres nestas «questões de consciência». O que vale para os eleitores é, repito, o programa e a prática política do partido por que foram eleitos. A «consciência» dos deputados não vale mais do que a consciência de quem os elegeu, e a quem eles não se apresentaram individualmente, e que não os conhece nem tem que conhecer enquanto o sistema eleitoral for este.

Contam Moreira, Pinto, Rangel, Leal Coelho e todas as declarações de voto contra o referendo da co-adopção com o geral apoio da imprensa? Sim, contam com uma campanha unanimista, saloia e revoltante. Deliciem-se com a cobertura dessa imprensa pouco séria, manipuladora, obscenamente parcial, anti-democraticamente tendenciosa, indignamente omissa em toda a opinião que contradiga a festa. Entretanto, foram travados.


9 comentários

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De Vítor Augusto a 17.01.2014 às 15:58

De acordo. Cada vez me sinto mais ultrajado, enxovalhado, insultado por este sistema político em que não me revejo minimamente. E o problema é que não me restam opções visíveis. A Sra. deputada do PSD e todos os que apresentaram declaração de voto deveriam imediatamente abandonar o lugar que ocupam na assembleia. Isso é que seria terem coragem e dignificarem a sua consciência. Gostaria também de conhecer o posicionamento político oficial do CDS sobre o assunto.
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De tric a 17.01.2014 às 19:31

"Gostaria também de conhecer o posicionamento político oficial do CDS sobre o assunto."

.
o posicionamento oficial do CDS foi bem patente no momento da votação e aprovação na generalidade da Lei da Isabel Moreira!! foi vergonhosa!!! Com o actual CDS no poder a defesa dos valores da Cristandade Portuguesa é uma nulidade TOTAL !!! o CDS serve-se dos Cristãos para eleger Maçons, Pro-Gays, etc para depois estes se servirem do partido para atacar os valores de quem os elegeu!! é um partido actualmente dominado por intrujas!!! ainda no ultimo congresso atacaram o lobby do catolicismo tradicional português...um partido Cristão!!!??? é mas é um partido maçónico...
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De Anónimo a 17.01.2014 às 17:19

Afinal, os referendos não passaram de um instrumento para no passado fazer bonito. Os portugueses servem para eleger os deputados, comer e calar. De onde se conclui que as discussões sobre os círculos uninominais não passam de uma fantochada que de vez em quando vem à baila para se ir entretendo o zé pagode. Esta gente caga-se nos portugueses.
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De Pedro a 17.01.2014 às 19:56

Uma perguntinha: O que tem a dizer sobre a posição do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem quando acusam Portugal de estar em incumprimento na matéria? 

Desconfio que ultrapasse os seus ódios locais e mesquinhos. 

Outra perguntinha: já interpretou o artigo 115º da CRP, sobre o referendo? Acredito que já o tenha lido, mas duvido que o tenha percebido. 

Posto isto, deixo-a com os quebra-cabeças para o fim-de-semana. 
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De José Mendonça da Cruz a 18.01.2014 às 00:52

Como se sabe que este comentário é de esquerda?
Pela presunção do costume.
Quem não concorda com o que eu digo sofre de «ódios locais e mesquinhos».
Quem discorda de mim que sou a Constituição e a verdade ou não lê ou, quando lê, não percebe.
Mas os pareceres do TEDH são, felizmente, discutíveis. São-no tanto aqueles sobre a co-adopção, hetero ou homoparental, como os sobre o relativismo moral que o TE quer impor à força e que o Vaticano critica.
E a CRP está, felizmente e apesar de tudo, está longe de ser unívoca. Ainda hoje dois constitucionalistas vieram dizer que não há inconstitucionalidade no referendo sobre a co-adopção homossexual.
A vida, felizmente, tem bem mais complicações e matizes do que julgam os unanimistas. E duas charadazitas auto-satisfeitas não estragam nem uma hora de um fim-de-semana. 
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De Rui Sousa a 17.01.2014 às 20:35

Nem todos os eleitores que votaram PSD têm de concordar com o seu próprio partido nesta questão. Eu votei PSD pelo seu programa político e económico, não para andar a meter-se em questões do foro privado das famílias e que em nada interfere no normal funcionamento da sociedade.
A partir do momento em que os deputados não podem ter "questões de consciência", sendo obrigados pela direcção a comer e calar, a sua função deixa de ter sentido. Passam a ser meras marionetas ao serviço de interesses pouco claros.
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De José Mendonça da Cruz a 18.01.2014 às 01:01

Não me leve a mal que eu conclua no sentido exactamente contrário com os seus exactos argumentos.
Eu também não quero que o PSD (e o PS e o PC e o CDS) se metam em questões do foro privado das famílias. E acho que é isso que o diploma da co-adopção faz, ainda por cima intervindo no normal funcionamento da sociedade.
E quero, sim, que os deputados obedeçam às respectivas direcções partidárias. Voto em programas e práticas, não em 230 disposições sortidas e imprevisíveis. E os deputados não ficam assim ao serviço «de interesses pouco claros». Ficam ao serviço, sim, de interesses claríssimos: os que foram a votos.
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De S. a 18.01.2014 às 19:33

Assim de repente: sabe o que é a co-adopção? Sabe o que significa e em que contextos é aplicada? É que isto é apenas uma questão de titular realidades já existentes, de dar cobertura jurídica a uma realidade que existe e com a qual convivemos. Só por curiosidade: parece-lhe bem deixar uma criança que viva com duas mães numa instituição porque a única mãe que o Direito lhe reconhece morreu?

Antes que se antecipe, não, não sou de esquerda. Sou uma daquelas - como é que diz? - "unanimistas" sociais-democratas que achou de uma nobreza sem nome a Dep. Teresa Leal Coelho ter abandonado a sala no momento da votação e que subscreveu os fundamentos das declarações de voto. E, olhe, curiosamente e já que aqui estamos, também acho que o que aconteceu ontem foi um "retrocesso civilizacional".
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De Mário Pereira a 20.01.2014 às 20:06

Nada a acrescentar. É sobre estas, e só sobre estas, matérias que o povo português deve ser chamado a intervir.

Não venham agora com a história que devia era fazer-se um referendo sobre as contas públicas, baixas de ordenados, etc. Meus caros, sobre essas matérias nem valia a pena referendar nada, já sabíamos qual seria a resposta do povo, espicaçado pelos populistas utópicos que nos querem governar. Se aqui fosse a Suíça, onde referendos sobre a subida de impostos ganham por larga maioria, valeria a pena chamar os portugueses. Só que o problema é que ninguém reconhece quando é preciso fazer mais um esforço, quando fazer um sacrifício 4 anos pode levar a riqueza durante 30. Enfim, todos os políticos conscientes que ainda nos aturam merecem uma estátua...


Não deixar os portugueses decidirem sobre esta matéria seria um dos maiores ataques democráticos pós 25 de Abril. Passo a explicar: que direito e que consciências superiores a nós têm os nossos políticos para decidirem sobre uma matéria tão sensível? Acham, sinceramente, que aqueles deputados têm o direito de, numa dita "matéria consciência", fazer valer a sua e somente a sua posição? Claro que não! O único problema é que foi o governo a propor o referendo, e então hoje em dia tudo o que o governo faz só tem sentido (muito à português): bota abaixo... Se tivesse sido o governo a propor o diploma gritavam por referendo. Assim como foi o contrário... Infelizmente já só sabemos reclamar por duas razões: por tudo e por nada.

E, meus caros e caras, se este referendo não poderia nunca existir então também NUNCA poderia ter existido o do aborto. São do mesmo índole de consciência e gravidade. 

Só para esclarecer, sou eleitor PSD desde sempre e sempre o serei, mas neste referendo votarei SIM, para proteger as crianças da falta de ética da nossa justiça. Nenhuma criança, adoptada por um elemento que depois vive maritalmente com outro do mesmo género, tem menos direitos que uma criança adoptada por um casal heterossexual. Só que acho, melhor tenho a certeza, que tenho o direito de me pronunciar nesta matéria tão sensível. 

Qual é o medo do referendo? Acham que a maioria não deixará passar a co-adopção? Acham que as pessoas não sabem já perfeitamente que o que importa aqui é defender as crianças? Têm medo que o NÃO ganhe? Meus amigos, se assim é, então não sabem viver em democracia, em que cada um tem direito à sua opinião. Se querem um regime desses, a China e a Coreia do Norte têm umas paisagens deslumbrantes... Também eu tenho medo, tenho pavor aliás, da maioria que em 2015, completamente cegos, incitados pelos populistas desvairados, vão votar José Seguro. Serão esses a destruir tudo o que se poupou nestes quatro anos, serão esses a precipitar a nossa ruína absoluta, a nossa saída do EURO, numa altura em que Portugal precisava de estabilidade e sentido de responsabilidade. Mas não é por isso que ninguém me vê a tentar cancelar as eleições de 2015...

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