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Um destes dias, estava eu (bem irritado, nunca mais aprendo a tratar suavemente as maiores alarvidades) a perorar na rádio Observador e disse que morria hoje muito menos gente de desastres naturais que há 50 ou cem anos (verificar os números aqui).
Poder-se-ia interpretar este meu dizer como sendo a negação do que dizem os cientistas (e são uma esmagadora maioria) sobre alterações climáticas que trarão mais fenómenos meteorológicos extremos.
Mas essa seria uma interpretação profundamente errada: não sabendo eu de clima o suficiente para ter opinião própria, naturalmente sigo a opinião esmagadora maioria das pessoas que sabem do assunto e, até ter razões para pensar que estão errados, não me ponho a inventar.
Onde eu me afasto de muitos desses cientistas é numa matéria que não é científica: uma boa parte destes cientistas raciocinam numa base malthusiana, isto é, olham para as tendências de hoje e projectam-nas para o futuro, assumindo que o mundo do futuro é igual ao de hoje.
É um erro clássico do movimento ambientalista.
Na verdade, hoje morre muito menos gente em desastres naturais, mesmo que haja mais desastres naturais, porque há modificações muito importantes em três aspectos: 1) na produção de informação; 2) na tecnologia (o principal erro apontado a Malthus, que não previu, nem podia prever, o impacto dos motores a vapor e de explosão); 3) no enquadramento institucional (para ser moderninho, deveria escrever "na governança" mas em português, este sufixo ança é aumentantivo, como em festança, e eu não gostaria de ter uma governança, mas um governinho melhor).
Concretizando.
1) O facto das nossas previsões meteorológicas serem muito melhores, ou seja, serem feitas com maior antecedência e mais seguras, permite o desenvolvimento de sistemas de alerta que salvam milhares de pessoas. Só isso pode representar milhares de vidas em furacões, cheias, tsunamis, etc., mesmo que em secas (a maioria de mortes de desastres naturais resultam de inundações ou secas) seja menos evidente. Ou seja, mais e melhor informação dá resultados diferentes com as mesmas circunstâncias naturais;
2) Hoje temos muito mais tecnologia que nos permite defender melhor dos elementos naturais, seja nas infraestruturas, seja nas casas, seja na contenção do risco de deslizamentos, etc., etc., etc.. Ou seja, mais e melhor tecnologia dá resultados muito diferentes, com as mesmas circunstâncias naturais;
3) Por último, quer no planeamento, quer nos modelos de decisão, quer nos sistemas de socorro, quer na cooperação internacional (especialmente importante no caso das secas, porque permite levar alimentos, e por vezes água, a zonas em que de outra maneira as pessoas morreriam) há diferenças muito grandes em relação ao passado. Ou seja, mais e melhor cooperação e processo de decisão dá resultados muito diferentes, com as mesmas circunstâncias naturais.
A grande discussão sobre como lidar com as alterações climáticas, com a perda de biodiversidade, com a destruição do solo, com a poluição global, etc., não se prende com o que podemos fazer para diminuir as tendências em que em cada momento consideramos negativas (nesse domínio também se faz muito, claro, uma lata de coca-cola usava qualquer coisa como 40gr de alumínio primário há uns anos e hoje usa 12, uma boa parte do qual, reciclado), mas com a melhor forma de nos organizarmos para responder ao que é inerente ao futuro: incerteza, incerteza e incerteza.
E a resposta assentará no que tem dado provas: mais informação, melhor tecnologia e organização social mais eficiente.
É por isso que não entendo quem dá importância a Greta Thundberg: não trouxe nada de relevante do ponto de vista da informação, é contra grande parte do desenvolvimento tecnológico e o que propõe, do ponto de vista da organização social, é um desastre.
E a responsabilidade não é dela, é normal que esse seja o contributo de uma adolescente, a responsabilidade é de quem acha que o radicalismo adolescente tem alguma hipótese de dar melhor resultado que "honesto estudo com longa experiência misturado", como recomendava Camões.
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