Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Não li nenhuma das peças processuais sobre o caso Odair Moniz, portanto não sei exactamente o que está descrito na acusação.
Este post não é, consequentemente, sobre a substância do caso, mas sobre os vampiros que caem sobre uma tragédia para dela retirar dividendos, isto é, para fazer avançar as suas agendas sociais (sejam elas partidárias ou não).
Do que li, parece-me evidente (volto a dizer que não tenho acesso a informação primária) que há uma tragédia para todos os directamente envolvidos.
Em primeiro lugar para Odair Moniz e a sua família, evidentemente, porque a morte é sem remissão, mas também para o polícia que faz os disparos e que tem a sua vida profissional profundamente afectada e carregará para o resto da vida o peso de uma morte pela qual é responsável e que, de acordo com o que li, teria sido evitável.
Parece-me claro que há uma situação perigosa que se descontrola, nem Odair, nem o polícia queriam, evidentemente, o resultado que acabou por acontecer, e é normal que a justiça procure atribuir responsabilidades e a sociedade discuta como se podem reduzir os riscos de situações deste tipo se descontrolarem.
O que não entendo, não entendo mesmo, e me faz não ter o menor respeito pela quantidade de agentes políticos e sociais que cavalgaram esta situação para fazer progredir as suas agendas, sejam elas de limitação da capacidade da polícia (ou do seu reforço), de anti-racismo, anticapitalistas ou de mera sinalização de virtude.
De entre os muitos que usaram, e usam, esta tragédia para fazer avançar as suas agendas, escolho o exemplo de Joana Gorjão Henriques, uma activista a quem o Público entrega espaço para contrabandear propaganda anti-racista disfarçada de jornalismo.
O Observador descreve (não sei com que rigor, não li a acusação, mas parece-me que com alguma plausibilidade), a situação da seguinte forma:
"Já com os dois PSP fora do carro, os agentes rodearam Odair com a intenção de algemá-lo, mas tiveram resistência. “Os dois agentes da PSP tentaram imobilizar Odaír Moniz e o arguido empurrou-o”. É então que acontecem as primeiras bastonadas. Na sequência da tentativa falhada de imobilizar o fugitivo, o agente que acompanhava o PSP constituído arguido, “com recurso a um bastão extensível”, desferiu um golpe nas pernas de Odair. O golpe de bastão seria repetido pelo agente que disparou depois, ao que o fugitivo respondeu com um pontapé nas costas.
Foi nesse momento, já depois de Odair se ter afastado, que o polícia fez dois disparos, para o ar. Os tiros de aviso não travaram o fugitivo, que acabou por aproximar-se do agente que ainda tinha a pistola na mão. Os dois envolveram-se num confronto e, depois de ser esmurrado na cabeça por Odair, o agente atingiu, pela primeira vez, o cabo-verdiano “na zona anterior esquerda do tórax”, a uma distância entre “20 e 50 centímetros”.
Tendo Odair permanecido de pé, o agente, a uma distância entre “75 centímetros e 1 metro”, fez um novo disparo que atingiria o cabo-verdiano “na zona genital e na perna direita”. O segundo tiro provocou a queda de Odair, que ainda viria a ser atingido, com um bastão, pelo agente que acompanhava o autor dos disparos".
Mesmo dando de barato alguma estranheza na forma como alguns pormenores são descritos, parece claro que há uma tentativa de detenção, Odair resiste violentamente, agride os polícias, e no calor do confronto, há os disparos mortais.
Vejamos agora como a activista Joana Gorjão Henriques descreve a mesma situação, a partir dos mesmos documentos, no que o Público acha que é informação de referência:
"Nestes 43 segundos, de acordo com o que é descrito na acusação do Ministério Público, Odair Moniz foi empurrado duas vezes, levou duas bastonadas, foi agarrado para ser manietado duas vezes e foi alvo de dois disparos; por sua vez, enquanto tentava libertar-se de ser manietado, deu um pontapé e um murro ao polícia, agora arguido".
De acordo com Joana Gorjão Henriques, os 43 segundos que refere é o tempo que vai de Odair ter começado a oferecer resistência violente (fugir da polícia e não acatar ordens não são formas de resistência que podem envolver violência e risco, parece sugerir Joana Gorjão Henriques) até ser baleado e, pela sua descrição, o que se passou foi que dois polícias andaram a empurrar e bater num senhor que, ao tentar libertar-se, deu um pontapé e um murro num dos polícias, tendo havido dois tiros, um dos quais mortal, sabe-se lá porquê.
O que eu queria dizer era mesmo só isto: não tenho o menor respeito, mas o menor respeito, por quem usa tragédias para ter ganhos de causa no que defende, não tendo o menor problema em ajeitar os factos para que sirvam os seus preconceitos.
Nenhum respeito.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
É claro que responder a quem não faz ideia de que ...
"Here’s a True Believer insisting it’s *no big dea...
Primeiro: O Governo de Passos, foi mau. Como todos...
a CS é toda ela social-fascista e tem vergonha de ...
Os resultados da austeridade foram tão bons que a ...