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Não sei como sair deste sufoco

por henrique pereira dos santos, em 16.06.21

"Assim, o novo parque verde com os respetivos equipamentos infantis e desportivos vai abrir, prevendo-se que gradualmente infraestruturas de apoio como a cafetaria e os quiosques entrem também em funcionamento", repetem vários jornais, ecoando o que diz a Câmara de Lisboa, dona da obra que inauguraram no Domingo.

Para fazer esta crónica, dei-me ao trabalho de ir ler, ouvir e ver peças jornalísticas feitas sobre a inauguração deste jardim, para confirmar que a impressão que eu tinha não tinha sido apenas o resultado de uma leitura apressada de notícias em dias anteriores.

Com esta descrição e as notícias, eu, que sou um optimista, resolvi ir hoje ao tal jardim, aceitando perfeitamente que quiosques e tal estivessem ainda em obras, mas pensando que era um sítio razoável para cinco dos meus netos que iam comigo e estão instalados não muito longe, pensando eu, como dizem os jornais citando a Câmara, que os equipamentos infantis estariam disponíveis.

Nunca, mas mesmo nunca, me passou pela cabeça ver o que vi, acharia sempre que a Câmara teria um mínimo de vergonha em fazer a inauguração naquelas condições, acharia sempre que se o fizesse, todos os jornais a denunciariam a fraude da inauguração em si e a evidente mentira de que os equipamentos desportivos e infantis estão utilizáveis. As minhas netas mais velhas que iam comigo, que têm entre os três e os cinco anos mas são arraçadas de cabras, ainda insistiram em andar pelo ar em equipamentos de cordas por terminar, mas mesmo elas acabavam a chamar por alguém que as tirasse dos becos a que as cordas as conduziam, sem ligação entre aparelhos e sem ligação utilizável ao chão que lhes permitisse sair airosamente dos assados em que se metiam, que é o que costuma acontecer.

Mesmo os caminhos estão abruptamente cortados e sem aviso, desembocando em frentes de obra activas, não há qualquer continuidade de circulação e única parte minimamente apresentável é um relvado encharcado - como é inevitável por se tratar de tapetes de relva recentemente colocados que nem me parece que devessem ser sujeitos a pisoteio antes de enraizados com sucesso - pontuados por árvores cujo tronco, na base, foi cercado de vasos com plantas para a inauguração.

No fundo trata-se de uma obra que ocupa uma área imensa, onde se movimentam equipamentos pesados e veículos que, irresponsavelmente, alguem achou útil e seguro misturar com um uso público de lazer.

A Câmara faz uma inauguração que só se explica pela ausência completa de vergonha na cara, a imprensa reproduz mentiras evidentes do comunicado da Câmara sobre o assunto e nós, sim nós, encolhemos os ombros, dizemos que vai ficar bonito e que não vale a pena ser bota-abaixo, sempre é melhor estar o que está que o que estava antes.

Confesso que não sei como sair disto.

O que todo este processo terceiro-mundista demonstra é a fraquíssima qualidade das nossas instituições, que não têm brio, não têm honra, não têm pejo nenhum em apregoar mentiras aos quatro ventos, porque sabem que não têm escrutínio nenhum.

Se por acaso, com acontece aqui e ali, há uma coisa que corre mal e tem custos políticos, é acenar e sorrir, não se passa nada, amanhã é outro dia que aproveitaremos para desviar as atenções para coisas menos desagradáveis.

E nós, sim, nós, achamos que isto é que é saber governar, que mais vale votar assim que assado, até porque os outros não seriam muito diferentes e mais vale estes, que são espertos e já os conhecemos.

Não sei como se sai disto, não sei mesmo.


7 comentários

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De Marta a 16.06.2021 às 23:24

Não se sai. Nem mesmo saindo do país se sai disto, parece que vem agarradinho à pele.

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