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Já contei esta história muitas vezes, e irei contá-la muitas mais.
Um dia fui levar uma das minhas filhas ao aeroporto porque ia com a selecção nacional de surf não me lembro para onde.
Naturalmente, havia sempre o problema do transporte das pranchas, e alguns dos pais dos outros atletas (era uma das seleções dos mais novos, foi mesmo há muito tempo) pararam carros, por minutos, junto à entrada das partidas do aeroporto, para deixar as pranchas.
Era uma operação relativamente rápida, numa zona de paragem proibida, é certo, mas que não empatava o trânsito, mas mesmo rápida ainda deu tempo para que viesse a polícia mandá-los sair dali, não tendo manifestado a menor compreensão pelo facto de se tratar da selecção nacional (era de surf, era de miúdos, mas era a selecção nacional que ia representar Portugal numa competição qualquer).
Púrpuro acaso (gosto imenso deste trocadilho, que li num livro de quadradinhos há anos), no mesmo dia, viajava a selecção nacional de futebol, a dos homens grandes, mas nesse caso não tinham de se preocupar com minudências logísticas que a polícia não queria compreender, porque viajavam enquadrados pela polícia, com cortes de trânsito, zonas especiais de chegada previamente definidas e por aí fora.
Eu sei que fenómenos sociais são fenómenos sociais e eu não os desvalorizo, bem pelo contrário, espero pacientemente que passe uma procissão, um enterro, um desfile carnavalesco ou mesmo só a festa da aldeia, na estrada mais recôndita que exista no país, sem a menor irritação, e também sei distinguir um desporto sem grande expressão social, como o surf, do peso social do futebol masculino.
O que ultrapassa a minha capacidade de compreensão é o facto desse peso social chegar ao ponto a que chega, implicando fechar a feira do livro ou cancelar 150 iniciativas dessa feira, porque há um clube qualquer que ganha um campeonato que existe todos os anos e há uns milhares de pessoas que passam a comportar-se, para comemorar essa relativa trivialidade, como donos de espaço público, ao ponto de violar a lei em numerosas circunstâncias, sabendo que o Estado se demite de exercer a sua autoridade durante um período de tempo, e um espaço, sem grandes limitações.
Se há velhos, doentes, bebés e respectivos pais que precisam de dormir, isso é irrelevante para a flagrante violação da legislação sobre o ruído, durante uma noite inteira, numa área enorme à volta do Marquês de Pombal.
Eu não compreendo, e muito menos aceito, que eu seja impedido de ir comer farturas à feira do livro pelo simples facto do Estado se declarar incapaz de, com semanas de antecedência, programar a resposta a um facto perfeitamente previsível, controlar uma multidão de pessoas que acham adequado comemorar a vitória do seu clube desconsiderando os direitos de terceiros.
É claro que num país em que o Presidente da República arranja conflitos com os deputados porque quer ir ver os jogos todos da selecção num campeonato do mundo, e em que o ministro das finanças não percebe o ridículo de aparecer de cachecol da selecção no conselho de ministros europeu que é imediatamente a seguir à conquista de um campeonato de futebol, não tenho a menor esperança de que alguém esteja com intenções de discutir a demonstração da fragilidade do Estado que é a limitação da feira do livro, só porque o Estado é incapaz de garantir a segurança pública no espaço público.
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