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Tiago Ramalho, no Público de ontem, gasta duas páginas a tentar demonstrar "O assalto da pseudociência à Casa Branca".
Gasta parte do latim com a nomeação de Robert Kennedy Jr., mas isso é matéria requentada que não vale um comentário.
O que me interessa é uma parte do resto, até porque desconheço grande parte dos nomes citados e o que pensam, o que me obrigaria a ir verificar as alegações do jornalista, coisa para que me falta a paciência (a compra de um jornal deveria servir para eu ler as verificações que os jornalistas fazem das alegações de terceiros, e não para me obrigar a mim a verificar as alegações do jornalista, como acontece no jornal que vive da caridade da família Azevedo).
Para o jornalista, Martin Makary (um cirurgião e professor universitário na John Hopkins, uma pessoa dedicada à pseudociência, claro) é inaceitável porque no tempo da Covid previu (incorrectamente, diz o jornalista) que a população ganharia imunidade natural rapidamente. Mais grave, digo eu interpretando o jornalista, mostrou-se crítico do uso de máscaras em crianças (confesso que esta alegação do jornalista é do melhor que tenho encontrado como argumento para demonstrar que alguém é negacionista e anti-ciência), dos confinamentos e das doses de reforço (camarada jornalista, e que tal procurar informação científica que demonstre que o senhor não tem razão? Eu gostava que conseguisse encontrar alguma coisa. Até hoje, depois do investimento maciço em investigação ligada à Covid, não encontrei qualquer artigo que tenha demonstrado, de forma clara, a utilidade da utilização de máscaras na contenção de uma epidemia, mas ainda não perdi a esperança, camarada jornalista).
Imagine-se que o senhor acha que os procedimentos sobre vacinação que existem há décadas não devem ser questionados de ânimo leve, uma atitude completamente anti-científica, acha o jornalista.
Senhor jornalista, conhece uma das razões pelas quais o seu jornal não consegue viver dos seus leitores e tem de andar a mendigar a caridade da família Azevedo? Eu explico-lhe, é que o retrato que fez de Makary é bastante menos preciso que o da wikipedia, que é à borla e tem ligações para o fundamento de cada uma das afirmações que lá são feitas: "During the COVID-19 pandemic, Makary was an early advocate for universal masking to control the pandemic and recommended vaccines for adults. He was also an outspoken opponent of broad COVID-19 vaccine mandates and, in late 2021 and early 2022, non-pharmaceutical interventions meant to reduce transmission in schools and universities".
E não é que o tempo lhe tem vindo a dar razão, pelo menos a julgar pela informação científica que tem sido produzida sobre o assunto?
Mehmet Oz, um médico formado em Harvard e professor emérito de cirurgia cárdio-toráxica da Universidade de Columbia (em 2022 a univesidade cortou os laços com ele e retirou todas as referências à anterior ligação, dada a sua propensão para o espectáculo televiso, em que fazia afirmações muito discutíveis), portanto, uma pessoa ligada à pseudo-ciência em universidades de vão de escada. Sim, é certo que tem opiniões estranhas sobre muitas coisas, não sendo claro que não tenha ligações igualmente estranhas com benefícios económicos associados, mas convenhamos que nada disso autoriza Tiago Ramalho a dizer o que diz sobre ele, porque escolhe umas partes, ignorando outras.
No entanto, o que verdadeiramente me levou a escrever este post é a inacreditável referência a Jayanta Bhattacharya que, em princípio, vai para o lugar que anteriormente foi de Anthony Fauci.
Para o jornalista (que, neste caso, tem o bom senso de evitar escrever que é um pseudocientista e negacionista do que quer que seja, embora logo depois diga, a propósito de outra senhora, que no caso da senhora não há registos de contrariar a ciência como nos outros, sugerindo que há algum registo de Jay Bhattacharya ter contrariado a ciência em algum lado), o senhor cometeu crimes gravíssimos: "defendeu a imunidade natural ou a infecção em massa para atingir essa imunidade de grupo - sendo também crítico dos confinamentos".
O jornalista não deve saber que a imunidade de grupo é uma coisa que toda a gente defende (não é uma teoria, é um facto verificável) e que para a atingir, o que é preciso é a exposição ao agente infeccioso, ou naturalmente, ou por vacinação. Quanto aos confinamentos, estamos como com as máscaras: tanto tempo passado não existe, que eu saiba, um único artigo científico que consiga relacionar a evolução da epidemia em qualquer lado com o grau de confinamento imposto, ou seja, aconteceu o que era previsível acontecer a partir do conhecimento da epidemiologia clássica, e não o que foi previsto pelos teóricos das medidas não farmacêuticas como questão essencial de controlo de uma epidemia.
O que Jay Bhattacharya fez, e bem, como o tempo veio de demonstrar, foi ser um promotores da Great Barrington Declaration, um oásis de bom senso na loucura da Covid, que o tempo e a avaliação de resultados que tem vindo a ser feita confirma em toda a sua extensão.
O problema é que o jornalismo alinhou acriticamente na lógica do pensamento único e tratou parágrafos de puro bem senso, como este "Current lockdown policies are producing devastating effects on short and long-term public health. The results (to name a few) include lower childhood vaccination rates, worsening cardiovascular disease outcomes, fewer cancer screenings and deteriorating mental health – leading to greater excess mortality in years to come, with the working class and younger members of society carrying the heaviest burden. Keeping students out of school is a grave injustice", como sendo gravíssimas declarações negacionistas feitas por pseudocientistas, e não, como o que realmente eram, meras diferenças de pontos de vista sobre a gestão de uma epidemia.
A OMS, os situacionistas da saúde, uns quantos académicos lunáticos ligados a computadores (já alguém foi pedir contas aos responsáveis pelas simulações absurdas que foram feitas?) resolveram inventar e tentar lidar com uma epidemia de uma forma totalmente nova, com base no desenvolvimento de duas tecnologias: a capacidade laboratorial para detectar a presença de vírus e a capacidade de simulação computacional, e o jornalismo embarcou nesta fantasia, ao ponto do Observador andar a fazer de bufo denunciando os padres que, ainda assim, celebravam missas (é completamente incompreensível como as igrejas aceitaram que os poderes públicos lhes limitassem administrativamente o culto, numa mais que evidente violação da liberdade religiosa).
Alguns académicos e algumas pessoas bem tentaram introduzir um mínimo de racionalidade na discussão, sendo a Great Barrington Declaration a cristalização dessa resistência à demência social.
Pelos vistos, ao fim deste tempo todo e de toda a informação posterior que confirma o essencial da epidemiologia clássica - é impossível controlar epidemias sem ser por imunização natural ou induzida por vacinação, e as medidas não farmacêuticas devem ser focadas nos grupos de risco e ponderadas face aos custos sociais que acarretam - há jornalistas que não aprenderam nada e continuam a dizer parvoíces, difamando terceiros, só porque não gostam de Trump e das suas nomeações.
Alguém que os informe que da vez que levou à invenção da expressão "não esqueceram nada e não aprenderam nada" a coisa não correu bem para os próprios.
“I’m going to make sure scientific safety studies and efficacy are out there, and people can make individual assessments about whether that product is going to be good for them,” he told MSNBC.
E assim será brevemente da Europa, se bons ventos soprarem.
Está na hora de as pessoas serem livres para decidirem.
em 2022 a univesidade cortou os laços com ele e retirou todas as referências à anterior ligação, dada a sua propensão para o espectáculo televiso, em que fazia afirmações muito discutíveis
Essas referências têm anos, e infelizmente muitos profissionais da área tentam há muito denegrir o Dr Oz, mas este corte só aconteceu quando formalizou uma candidatura ao Senado... pelo Partido Republicano. Coincidência.
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