Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
"Morre jovem o que os Deuses amam", escreveu Fernando Pessoa a propósito da morte do seu amigo Mário de Sá-Carneiro, que se tinha suicidado em Paris, a 26 de Abril de 1916. Uma vida veloz, mas suficientemente produtiva para nos legar a melhor poesia do seu tempo.
Mário de Sá Carneiro viveu com a brevidade dos génios, como um Shelley, como um Rimbaud, nascidos na glória do talento e vocacionados para a desgraça. Terá sido, juntamente com Pessoa, o mais completo dos poetas, desdobrando-se nos vários "ismos" que compunham a arte moderna. Apenas não alcançou o zénite do talento por desaparecido tão cedo.
Sensível e apaixonado, renegado e incompreendido, desenvolveu uma poética particular e dinâmica. Da arte finissecular soube adaptar as várias fórmulas: o culto da arte pela arte, o decadentismo, o alheamento, a evasão. Talvez o mais apurado dos estetas, onde a silhueta de Baudelaire, Verlaine e Rimbaud não deixam de reflectir influência. Elegante, dândi, excêntrico, pessimista, introspectivo, deixou um lastro de dúvidas e de mistério. Alimentou a incongruência dos afectos e as dúvidas, numa mesma ânsia do protagonista de "A Confissão de Lúcio".
O seu suicídio não deixa de ser sintomático, como Antero, Camilo, Manuel Laranjeira, Trindade Coelho, a morte de Sá Carneiro preenche o ciclo da decadência nacional e a própria morte de um mundo que não tão cedo recuperaria o fôlego.
Terá esgotado toda a capacidade de identificação do real. Como escreveu no poema "Apoteose": "- Ó pantanos de Mim - jardim estagnado..."
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.