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O principal indicador para avaliar o impacto de um surto epidémico é a mortalidade excessiva, de tal forma as epidemias são complexas e têm efeitos tão diversos na sociedade.
Desde meio de Fevereiro que a mortalidade excessiva desapareceu em Portugal (e, já agora, em quase todos os países que são aderentes do Euromomo, o sistema de vigilância da mortalidade europeu que é usado, por exemplo, para avaliar os efeitos dos surtos gripais anuais ou o efeito dos extremos meteorológicos) e desde meio de Março que está mesmo abaixo dos quartis dos dez anos anteriores, isto é, estamos com uma mortalidade global abaixo do que seria de esperar para esta época do ano.
Pois bem, com mortalidades abaixo do que seria de esperar para esta época do ano, com os serviços de saúde dentro do que é normal (acho extraordinário que se pretenda que o país pare para que os serviços de saúde consigam trabalhar normalmente durante um surto epidémico, como se não fosse normal os serviços de saúde trabalharem excepcionalmente durante períodos sanitários excepcionais), continuamos concentrados em olhar para a árvore covid em vez de olhar para a floresta social, que tem árvores covid, com certeza, mas tem muitas outras coisas para que é necessário olhar.
Note-se que esta mortalidade abaixo do que seria de esperar nesta época do ano tem sido justificada com a vacinação covid, e em parte essa explicação será válida na medida em que a vacinação prevenirá grande parte da mortalidade que possa ser atribuível à covid (em qualquer caso, neste momento, anda bem abaixo dos 5% da mortalidade global), mas o mais natural é que se relacione com a elevada mortalidade excessiva de Janeiro, que levou muitos dos mais frágeis e mais susceptíveis.
Se assim for, o surto epidémico de Janeiro teve o efeito que seria de esperar numa doença cuja mortalidade se concentra nos grupos etários mais altos e mais fragilizados, antecipando em algumas semanas mortes que seriam de esperar ao longo do ano.
Espero que não me interpretem mal, seria bom que pessoas que morreram em Janeiro pudessem ter morrido antes em Outubro, pelo menos em grande parte dos casos, mas esqueçamos o argumento de que estamos a salvar vidas porque, na verdade, estamos a prolongar vidas (algumas com muito pouca qualidade de vida) por algumas semanas.
Há riscos no levantamento da generalidade das restrições que pretendem diminuir os nossos contactos sociais? Eu acho que não há muitos - as regiões do mundo que o fizeram não demonstram nenhuma relação forte entre esse levantamento de restrições e a evolução da epidemia - mas a minha opinião é irrelevante: mesmo que o risco seja razoável e eu esteja enganado, o facto é que as consequência sociais parecem ser marginais face às consequências sociais da situação actual.
A estratégia de abertura a conta-gotas, que nunca teve fundamentação científica e técnica sólida, parece não ter também fundamentação empírica, continuando a ser o que sempre foi: a gestão política de expectativas dos que mais se fazem ouvir na imprensa, à custa do sofrimento dos que não têm voz no espaço público.
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