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Não sou grande conhecedor de sistemas de saúde, portanto é natural que diga muitas asneiras sobre o assunto, quando escrevo sobre isso.
Por essa razão, habitualmente sou bastante cauteloso e tento procurar informação fiável que me ajude a compreender isto ou aquilo (que é diferente de procurar gráficos que mostrem relações entre despesas de saúde e esperança de vida, como se a esperança de vida fosse primariamente função do sistema de saúde e não da globalidade das condições sociais, em especial nos primeiros anos de vida).
Sem excepção, apesar da minha posição ser a de que é irrelevante saber quem é o dono das paredes do centro de saúde, acabo a ter de responder aos estatistas mais emperdenidos, que passam o tempo a tentar demonstrar que olhar para a saúde como um negócio ou um perdócio faz uma grande diferença nos resultados finais.
Quando faltam os argumentos (o facto das PPPs terem dados os resultados que deram, liquida qualquer argumento que parta do princípio de que os privados são sempre mais caros e prestam cuidados piores), lá vêm os mitos sobre o sistema de saúde americano.
Vamos então por partes.
Os Estados Unidos gastam muito mais em saúde, per capita, que qualquer outro país desenvolvido (quase o dobro do segundo mais gastador, a Suíça) e boa parte dos resultados globais não são os melhores, nomeadamente havendo um sério problema de acesso aos cuidados de saúde para um pouco menos que um quinto da população, e haver indicadores sociais, como a esperança média de vida, que estão abaixo do que seria de esperar num país desenvolvido.
Os principais mitos que são criados à volta disto relacionam-se com:
1) a ideia de que isto é assim porque são os privados a impor os seus interesses e que o sistema é uma selvajaria liberal sem regras, em que o Estado não tem intervenção;
2) a ideia de que há pessoas a não ser atendidas numa emergência por não terem dinheiro;
3) a ideia de que os cuidados de saúde nos Estados Unidos são muito piores que nos outros países mais desenvolvidos
Nenhuma destas três ideia é verdadeira, começando pelo facto de haver um grande sector filantrópico nos cuidados de saúde (representará cerca de 10% das despesas, o que deve ser visto à luz do facto de 50% dos utilizadores serem responsáveis por apenas 3% das despesas de saúde nos EUA) e por haver uma forte intervenção de regulamentação no sector.
Por outro lado, o elevado custo na saúde nos EUA tem a sua origem nos preços mais elevados dos medicamentos, do trabalho dos profissionais de saúde e no maior custo administrativo.
Aparentemente (há quem o defenda, mas não sei se há demonstrações inequívocas) o resultado é que, sendo os medicamentos mais bem pagos, e os profissionais de saúde mais bem pagos, o sistema americano acaba por ser responsável por mais de 50% das patentes e inovações registadas no mundo, no sector da saúde, porque existem bastantes recursos para investigação, inovação e desenvolvimento.
O mais curioso, para mim, é que 1% dos utilizadores são responsáveis por 20% dos gastos e 5% são responsáveis por cerca de 50% dos gastos, sendo 50% dos utilizadores responsáveis por apenas 3% dos gastos, o que faz sentido porque grande parte da despesa é feita pelas pessoas em piores condições de saúde (já agora, 90% da população dos EUA qualifica-se como tendo boa saúde). Esta circunstância é potenciada pelo facto dos preços serem altos e haver mais diferenciação nos tratamentos, com tratamentos de ponta extremamente caros (já agora, um número entre 100 mil a 200 mil pessoas entram por avião nos EUA para tratamento médico, dos quais cerca de 24% provêm da Europa, e a principal razão parece ser o acesso a tratamentos mais avançados).
Ou seja, a discussão sobre privados ou Estado como fornecedor de serviços de saúde não pode ser feita comparando sistemas e sociedades totalmente diferentes (gostaria de saber, mas não faço a mínima ideia, se o sistema de responsabilização dos Estados Unidos, em que é muito mais fácil responsabilizar alguém por erro médico e tem custos astronómicos, o que obriga os profissionais de saúde a ter seguros elevados para diminuir riscos, tem alguma influência no preço final), a partir de indicadores globais, sem uma análise cuidadosa.
Quanto aos outros dois mitos, o segundo é fácil de responder: é proibido recusar tratamentos numa emergência, seja qual for a circunstância.
O terceiro não resiste a comparações sérias: há campos em que o sistema dos Estados Unidos será pior, há campos em que será melhor (reparei, por exemplo, numa referência à resposta a AVC, que será das melhores do mundo), mas quando se olha globalmente, não há diferenças globais entre os diferentes sistemas de saúde dos países desenvolvidos, no que diz respeito à intensidade de uso e à qualidade dos cuidados prestados.
Como digo, procuro informar-me (insisto que é diferente de ir à procura de qualquer que eu possa usar para apoiar as minhas convicções), mas não sei o suficiente disto para concluir mais que uma quase trivialidade: podemos discutir as vantagens e limitações da propriedade das paredes de um edifício no resultado final de um sistema de saúde, mas comparações de treta entre sistemas europeus e dos Estados Unidos, não é uma coisa que faça avançar muito a discussão.
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