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Hoje, no Observador, João Adrião tem um artigo que, no essencial poderia dispensar este post.
De maneira geral, João Adrião e eu temos opiniões que têm uma grande área de sobreposição, mas o João tem mais certezas que eu em relação a muita coisa, o que se nota especialmente nas discussões sobre alterações climáticas, visto que o João discute a substância da argumentação e eu limito-me a reconhecer a minha ignorância e, consequentemente, não discutir o clima do futuro.
De resto, esta é frequentemente a minha posição base em assuntos excessivamente complexos para a minha cabecinha, não me passa pela cabeça discutir se a Terra anda à volta do Sol ou a inversa, parto do princípio de que se a opinião científica sobre o assunto é esmagadoramente num sentido, e se eu não sei o suficiente do assunto para ter posições minoritárias que consiga sustentar, não faz sentido tentar discutir se a menor distância entre dois pontos é sempre uma recta ou não.
Questão diferente é a discussão social decorrente do que hoje se sabe (sim, eu sei, hoje há conquilhas, amanhã não sabemos), em que tenho algumas opiniões (que, de maneria geral, com eventuais nuances, coincidem com as de João Adrião em matérias relacionadas com a gestão da paisagem).
Na discussão das políticas relacionadas com o clima, há dois grandes grupos de políticas, as que dizem respeito à mitigação, isto é, à procura de limitação da dimensão das alterações climáticas (aquilo em que se baseiam os radicais como Greta Thundberg, que acha que vamos morrer todos assados nos próximos anos se não reduzirmos imediatamente a actividade humana para os níveis que ela acha adequados), e as que dizem respeito à adaptação, isto é, as que procuram ter em atenção eventuais alterações de contexto para desenhar políticas de adaptação aos novos contextos.
Quanto às políticas de mitigação, raramente me meto nessas discussões porque tenho uma opinião ideológica, muito clara para mim, que é muito minoritária, sendo razoavelmente inútil qualquer discussão porque as posições estão muito extremadas.
O que defendo é que os mercados e os mecanismos de preços associados são instrumentos muito mais poderosos de criação de eficiência que as medidas normativas centralizadas, como definir em tratados internacionais que não se pode ultrapassar este ou aquele limite disto ou daquilo.
Como sei que mercados perfeitos só existem em livros de economia, naturalmente não tenho problema nenhum em reconhecer o papel que os Estados, incluindo os tratados internacionais, podem ter para influenciar esses mercados, mas a questão central é que o assunto e as sociedades são demasiado complexas para que seja possível impor medidas radicais para a redução de emissões sem que isso acabe, forçosamente, por sacrificar a liberdade e a democracia.
O argumento a que é mais difícil de responder aos que criticam este meu distanciamento das discussões sobre mitigação é o argumento de que, mesmo considerando que as políticas de adaptação devem ter prioridade, o facto é que a adaptação é tanto mais difícil e cara (sob todos os pontos de vista, incluindo sociais) quanto maior for a necessidade de adaptação.
Ainda assim, o risco de asneira e a dificuldade de a corrigir, parece-me demasiado grande para confiar em acções centralizadas, globais e aplicadas coercivamente.
Assim sendo, interessam-me muito mais as políticas de adaptação, mantendo a minha ideia de que os mercados e as sociedades são mais eficientes a produzir soluções que os Estados.
O que se passou por estes dias em Valência, os fogos, a construção no litoral, as políticas de produção de alimentos e fibras (incluindo o regadio e a produção industrial de fibras), ganham em retirar da equação a conversa das alterações climáticas para nos centrar no essencial: com ou sem alterações climáticas, teremos sempre cheias repentinas, teremos sempre fogos, teremos sempre problemas relacionados com a ocupação do espaço, teremos sempre de produzir alimentos e fibras, etc., etc., etc..
E, em cada um desses assuntos, é muito mais útil discutir questões que conseguimos influenciar, a escalas que conseguimos controlar, como reduzir combustíveis finos, não ocupar leitos de cheia, desenvolver mecanismos de alerta precoce eficientes, etc., etc., etc., que andar sempre com a bengala das alterações climáticas na conversa que, além de razoavelmente inútil, tem o efeito perverso de desvalorizar responsabilidades pelas acções que realmente dão origem a problemas sociais graves.
Eu sei que os meus amigos mais radicais chamam a isto confiar excessivamente na tecnologia e nos mercados perfeitos, mas eu posso reconhecer os limites que em cada momento existem nas aplicações das tecnologias e sei muito bem que não existem mercados perfeitos, o que não compreendo é a alternativa de confiar excessivamente no Estado que, para mim, é sempre um instrumento repressivo nas mãos das classes dominantes, mesmo que não seja apenas isso.
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