Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Uma das coisas mais estranhas que o debate público sobre a epidemia tem trazido à superfície é a mediocridade das elites da nação.
Henrique Oliveira, abundantemente ouvido na imprensa como especialista na epidemia não contesta um único dos seus argumentos, limitando-se a dizer: "Vou dizer isto com muita calma. O Henrique Barros não sabe nada disto". Na sequência, outra pessoa frequentemente ouvida sobre a epidemia a título de especialista acrescenta: "Tanta estupidez junta num momento tão perigoso. Dizer que agora se pode abrir mais depressa do que em Maio, quando o Rt está a subir e vai em 0,92!". Neste comentário já há um esboço de argumento, mas assente num valor de R(t) que é calculado pelo próprio e que está bastante longe do R(t) que todas as semanas o Instituto Ricardo Jorge publica, diferença que já antes tinha motivado comentários destes dois especialistas sobre a incompetência das pessoas que trabalham no Instituto Ricardo Jorge.
Ainda na sequência, uma deputada - Sandra Pereira - que tinha estado numa audição sobre a epidemia a quatro especialistas em análise de dados, pergunta: "Quem é o Henrique Barros???!!!".
Pois bem, cara Sandra Pereira, Henrique Barros é o presidente do Conselho Nacional de Saúde e investiga epidemias há um ror de anos, ao contrário destes analistas de dados que descobriram há um ano o que era uma epidemia.
Com todos os cuidados nas comparações entre os h-index de investigadores de diferentes áreas científicas, a melhor resposta à sua pergunta está num outro comentário que li por aí: "Um matemático com 18 publicações e h-index=5 diz que um epidemiologista com 572 publicações e h-index=52 é "ninguém" [esta observação não é rigorosa, o que o matemático diz é que o epidemiologista não percebe nada de epidemiologia, quem diz que é ninguém é a senhora deputada] no que toca a epidemiologia. Um outro matemático com CV apenas um pouco melhor que o 1º acrescenta "tanta estupidez"".
Isto não passaria de uma típica conversa de porteiras, frequente numa academia tão endogâmica como a portuguesa e relevante num processo político em que o principal critério de escolha de pessoas é o da menor capacidade possível para fazer ondas, que o mesmo é dizer que até se permite que as pessoas pensem, desde que daí não tirem grandes ilações práticas.
Onde esta mediocridade (que existe em todas as sociedades e grupos) atinge o seu esplendor é numa imprensa que, sistematicamente, tem criado especialistas em epidemias com o mero acto de lhes fazer perguntas cujas respostas não sabe escrutinar e avaliar.
Basbaques esmagados com a referência à segunda derivada como explicação para o inexplicável, a nossa imprensa tem sido fértil em criar destes especialistas de aviário cuja principal qualidade é falar com toda a segurança sobre matérias complexas que desconheciam até ao dia anterior.
A falta de nível dos comentários que transcrevi acima não é o problema, é apenas o sintoma de uma mediocridade das nossas elites fulanistas e tremendistas, em que a capacidade de liquidar adversários com comentários pessoais é um activo muito mais valioso que a dúvida metódica, a humildade perante a complexidade dos processos naturais e sociais ou, citando Camões, o "honesto estudo com longa experiência misturado".
A nossa pequenez de espírito, a nossa miséria social, não são azares, são o resultado natural da permanente promoção da mediocridade endogâmica das nossas elites.
Deste ponto de vista, não admira que as nossas elites achem normal manter escolas fechadas "até à Páscoa" sem nenhuma razão sanitária para isso, uma das maiores ameaças ao estatuto desta gente é mesmo a existência de elevadores sociais eficientes e oleados, assentes em processos justos e equilibrados de acesso de todos à educação.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Os seus coments parecem bastante similares aos "cu...
Diz bem, a começar. Pois outras medidas mais drást...
E quem lê o Público e(digamos) o jornal do pcp e/o...
Os erros ortográficos cometidos por analfabetos (d...
já havia problemas antes da vinda em grande número...