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Uso muito esta frase de Caetano Veloso, enquanto era intensamente vaiado num festival de música.
A estação meteorológica da Guarda já registou, há uns dias, pouco mais de sete milímetros de chuva.
Nos próximos três dias (o tempo em que as previsões meteorológicas têm um mínimo de fiabilidade) está previsto mais alguma chuva, e nos dois dias seguintes é natural que ainda possa haver mais qualquer coisa de precipitação.
E, no entanto, anda gente muito atarefada a exigir, a desenhar, a projectar e, um dia, executar, medidas de emergência pós fogo porque, dizem, se não se fizer nada, vai ser um desastre de erosão e arrastamente de solos.
Com certeza, depois de um fogo como que ocorreu, em algumas lados com bastante intensidade, foi calcinada muita vegetação, e portanto o solo está coberto de cinzas e carvões, que em algumas circunstâncias formam uma camada impermeável sobre o solo, dificultando a penetração da chuva e favorecendo a escorrência.
Alguns desses carvões e cinzas irão ser arrastados com as chuvas, com certeza (o arrastamento de solo é menos óbvio, depende muito das características das primeiras chuvas)
Mas, e essa é a questão central, a natureza não está morta, isso só acontece com as maçãs do Cézanne, a natureza prossegue o seu caminho e já hoje são visíveis os rebentos de pé de castanheiros e carvalhos, os que, tendo reservas e estando programados para isto, não precisam de esperar pela chuva.
Com esta chuva que no prazo de uma semana vai entrar em cena (e a que já ocorreu na semana passada) tudo o resto vai reagir e a cobertura do solo vai deixar de ser só carvões e cinzas, como nos sítios em que o incêndio teve maior intensidade (há muitos outros em que há muito mais coisas a cobrir o solo), passando a ter também vegetação que, por sinal, tende a diminuir o efeito de impermeabilização de que falei em cima.
Ou seja, quando as medidas de emergência chegarem ao terreno, provavelmente vão ser úteis num pequeno número de situações, vão estragar mais que ajudar noutro pequeno número de situações, e serão dinheiro deitado à rua na maior parte das situações - há anos, não me lembro se Paulo Fernandes, se José Miguel Cardoso Pereira, mandaram-me uma avaliação dos serviços florestais americanos sobre a eficácia das medidas de emergência pós fogo e as conclusões eram estas que acabei de escrever.
Não fazer nada, esperar pela resposta da natureza, salvo em situações muito específicas em que a instabilidade geológica possa favorecer o deslizamento de terras, é, de maneira geral, a coisa mais sensata a fazer, mas a fazer alguma coisa, era até hoje, de hoje para a frente, continuar a falar de medidas de emergência pós fogo, não faz o menor sentido, do que precisamos é de medidas de gestão da regeneração natural e de modelos de gestão sustentáveis, incluindo do ponto de vista económico, para os próximos 15 anos, quando é natural que ocorra um novo fogo (mais ano, menos ano, que isto não é matemática).
Pode haver dúvidas sobre o que escrevi.
Seria fácil resolvê-las, se alguém tivesse avaliado o resultado dos milhões gastos com a mesma lógica, em 2017 (e nos outros anos de maior área ardida), só que não há.
É pena.
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