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"Marquês, Tutti Frutti, Influencer, Spinumviva"

por henrique pereira dos santos, em 24.05.25

O título deste post é um parêntesis numa frase completamente absurda de Rui Ramos, no seu artigo de ontem: "através de uma cascata de casos e operações (Marquês, Tutti Frutti, Influencer, Spinumviva), revelou que o poder político, precisamente pelos obstáculos que levanta à economia, se tornou o mais rendoso negócio que há em Portugal".

O que aprecio em Rui Ramos historiador não tem qualquer relação com a opinião que tenho de Rui Ramos analista político, ainda assim, o absurdo desta afirmação ultrapassa tudo o que eu poderia imaginar.

Comecemos por aquilo que é um absurdo objectivo, visto que o resto que me parece absurdo cai dentro da grande latitude das diferenças de opinião.

Marquês, Tutti Frutti, Influencer, Spinumviva é uma lista de coisas que não se relacionam entre si, as três primeiras são nomes de investigações judiciais, a última é o nome de uma empresa que, até ao momento, não está envolvida em qualquer investigação judicial.

Pretender, como faz Rui Ramos, fazer qualquer equivalência entre o processo Marquês  - uma investigação judicial que dura há anos, sobre a qual já foram tomadas dezenas de decisões por instâncias judiciais e que, mesmo que se venha a demonstrar em julgamento que não é possível provar qualquer crime, contém informação sobre a actuação de um primeiro ministro enquanto tal, incluindo a utilização que fez do cargo para se permitir um estilo de vida incompatível com os recursos a que teria acesso - e a questão Spinumviva - uma criação mediática que não deu origem a qualquer diligência jurídica relevante, até ao momento, e que se refere à actuação de um político que mais tarde veio a ser primeiro-ministro - só pode resultar de uma visão do mundo que dispensa qualquer relação com a realidade.

E é exactamente a demonstração dessa falta de relação com a realidade que o resto da frase de Rui Ramos concretiza, a de que vivemos numa sociedade em que os políticos criam, voluntariamente, obstáculos à economia para enriquecerem, ao ponto da política ser o negócio mais rendoso do país.

Como se os poucos milionários que o país tem fossem políticos.

Como teoria de conspiração é, apesar de tudo, do melhor que se encontra escrito, mas não deixa de ser o que é, uma teoria de conspiração sem qualquer relação com a realidade.

Rui Ramos entende que o PSD deveria juntar-se ao Chega (ou o inverso, é quase irrelevante) porque assim teria uma maioria matemática no parlamento que lhe permitiria reformar o país de alto a baixo.

Não vou discutir esta ideia de que o Chega tem algum interesse em afrontar os seus eleitores fazendo reformas que, no curto prazo, podem ser impopulares, e muito menos a ideia de que maiorias aritméticas de deputados fazem maiorias políticas, o que verdadeiramente me espanta é como um intelectual como Rui Ramos consegue ter uma visão tão sectária do mundo que não veja a pouca importância que os governos têm.

Estranho que Rui Ramos tenha uma visão tão cesarista da política que ache que o governo certo muda a sociedade apenas com base na sua vontade, apesar dos inúmeros exemplos históricos de que são as sociedades que geram os governos e as circunstâncias em que exercem o poder, mas o que me impressiona mesmo é que por ter essa visão política, ou outra qualquer, deixe de ter capacidade para entender a sociedade que toda a vida foi o seu objecto de análise.


13 comentários

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De henrique pereira dos santos a 24.05.2025 às 20:14

"Ora, nas últimas semanas veio a público que as empresas tidas como clientes da Spinumviva tinham aumentado a relação comercial com o Estado já no governo de Montenegro."
Mesmo que se tivesse demonstrado que assim tinha sido, continuava a ser mentira, porque nenhuma das decisões relevantes para esse resultado foi tomada pelo governo de Montenegro e, muito mais relevante, não há qualquer sinal de benefício de Montenegro: essas empresas deixaram de ser clientes da spinumviva há tempos infindos (uma delas era gerida pelo pai de Duarte Cordeiro, vereador do PS na câmara de Lisboa).
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De Maylord a 24.05.2025 às 20:20

1) Como é que sabe que nenhuma dessas decisões vem deste governo? E como sabe que deixaram de ser clientes? Não há dados que indiquem que vem de decisões do governo de Costa
2) A Solverde continuou a ser cliente. Tanto assim foi que veio anunciar que deixava de contar com a Spinumviva
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De henrique pereira dos santos a 25.05.2025 às 07:44

Em primeiro lugar, as decisões que fizeram essas empresas aumentar a facturação num determinado momento (baixando noutros) não são de governos nenhuns mas de instituições do Estado que decidem autonomamente.
Em segundo lugar, naquelas que foram mais conhecidas, como o fornecimento de refeições pela ITAU, as decisões foram de facto tomadas pela Mesa da Santa Casa nomeada pelo governo de António Costa, embora o contrato tivesse ido assinado mais tarde (basta conhecer os tempos e procedimentos dos concursos públicos para saber que era impossível que a decisão tivesse sido formada desde a tomada de posse de Montenegro).
Em terceiro lugar, a Solverde não aumentou facturação nenhuma, faz parte de outro grupo de empresas, as que mantiveram os serviços relacionados com a protecção de dados, afunilando a actividade da empresa e baixando relevantemente a facturação da spinumviva, desde que montenegro deixou de lá trabalhar.
Quarto, essa mistura de assuntos, saltitando de facto para facto sem qualquer relação, é o que a imrpensa tem feito para manter vivo um assunto que, quando escrutinado, não tem mostrado nada de relevante sobre a actuação de montenegro enquanto primeiro ministro.
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De Maylord a 26.05.2025 às 01:42

1) Mas instituições que dependem do governo
2), A decisão pode ter sido tomada durante o governo de Costa mas isso não implicava que os contratos fossem assinados. As decisões podem sempre ser alteradas.
 3) Não disse que a Solverde tinha aumentado a faturação. Disse que era uma cliente cliente da Spinumviva e que mantém relações com o Estado, sendo que há uma prorrogação do contrato dos casinos por ser decidida este ano
4) Não há aqui absolutamente nenhuma mistura de assuntos. Todas são empresas clientes da Spinumviva e do estado. A realidade é esta , por mais perturbadora que possa ser. Veremos o que o tempo irá revelar.
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De Maylord a 26.05.2025 às 01:48

Só mais uma achega sobre o primeiro ponto. Pode não passar de mera coincidência como defende, mas que é uma coincidência espantosa aumentarem no governo da pessoa da qual eram clientes lá isso é

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