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O título deste post é um parêntesis numa frase completamente absurda de Rui Ramos, no seu artigo de ontem: "através de uma cascata de casos e operações (Marquês, Tutti Frutti, Influencer, Spinumviva), revelou que o poder político, precisamente pelos obstáculos que levanta à economia, se tornou o mais rendoso negócio que há em Portugal".
O que aprecio em Rui Ramos historiador não tem qualquer relação com a opinião que tenho de Rui Ramos analista político, ainda assim, o absurdo desta afirmação ultrapassa tudo o que eu poderia imaginar.
Comecemos por aquilo que é um absurdo objectivo, visto que o resto que me parece absurdo cai dentro da grande latitude das diferenças de opinião.
Marquês, Tutti Frutti, Influencer, Spinumviva é uma lista de coisas que não se relacionam entre si, as três primeiras são nomes de investigações judiciais, a última é o nome de uma empresa que, até ao momento, não está envolvida em qualquer investigação judicial.
Pretender, como faz Rui Ramos, fazer qualquer equivalência entre o processo Marquês - uma investigação judicial que dura há anos, sobre a qual já foram tomadas dezenas de decisões por instâncias judiciais e que, mesmo que se venha a demonstrar em julgamento que não é possível provar qualquer crime, contém informação sobre a actuação de um primeiro ministro enquanto tal, incluindo a utilização que fez do cargo para se permitir um estilo de vida incompatível com os recursos a que teria acesso - e a questão Spinumviva - uma criação mediática que não deu origem a qualquer diligência jurídica relevante, até ao momento, e que se refere à actuação de um político que mais tarde veio a ser primeiro-ministro - só pode resultar de uma visão do mundo que dispensa qualquer relação com a realidade.
E é exactamente a demonstração dessa falta de relação com a realidade que o resto da frase de Rui Ramos concretiza, a de que vivemos numa sociedade em que os políticos criam, voluntariamente, obstáculos à economia para enriquecerem, ao ponto da política ser o negócio mais rendoso do país.
Como se os poucos milionários que o país tem fossem políticos.
Como teoria de conspiração é, apesar de tudo, do melhor que se encontra escrito, mas não deixa de ser o que é, uma teoria de conspiração sem qualquer relação com a realidade.
Rui Ramos entende que o PSD deveria juntar-se ao Chega (ou o inverso, é quase irrelevante) porque assim teria uma maioria matemática no parlamento que lhe permitiria reformar o país de alto a baixo.
Não vou discutir esta ideia de que o Chega tem algum interesse em afrontar os seus eleitores fazendo reformas que, no curto prazo, podem ser impopulares, e muito menos a ideia de que maiorias aritméticas de deputados fazem maiorias políticas, o que verdadeiramente me espanta é como um intelectual como Rui Ramos consegue ter uma visão tão sectária do mundo que não veja a pouca importância que os governos têm.
Estranho que Rui Ramos tenha uma visão tão cesarista da política que ache que o governo certo muda a sociedade apenas com base na sua vontade, apesar dos inúmeros exemplos históricos de que são as sociedades que geram os governos e as circunstâncias em que exercem o poder, mas o que me impressiona mesmo é que por ter essa visão política, ou outra qualquer, deixe de ter capacidade para entender a sociedade que toda a vida foi o seu objecto de análise.
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