Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Marisa Matias, com aquele seu ar simpático e empático, resolveu dar uma aula magistral de populismo.
No parlamento europeu foram a votos quatro resoluções sobre a gestão do fluxo migratório que chega através do Mediterrâneo, traduzindo diferentes pontos de vista sobre a forma de gerir o problema.
As votações cruzadas dos deputados acabaram por fazer com que nenhuma das votações fosse aprovada.
Este assunto passaria como qualquer outro assunto complexo que não tem soluções evidentes, e o processo político seguiria o seu curso, seja no sentido de se trabalhar uma maior aproximação política das diferentes visões sobre o assunto, seja no sentido da maior radicalização das visões sobre o assunto.
Foi então que Marisa Matias resolveu jogar uma cartada populista, bem alinhada com o modelo de intervenção anti-democrático do Bloco de Esquerda.
Num texto que pretendia arregimentar apoios pela emoção, na característica técnica populista de reduzir problemas complexos a emoções simples, resolveu acusar os que votaram contra a moção que defendia de serem contra o salvamento de pessoas em risco no mar (como se a União Europeia tivesse jurisdição sobre águas internacionais e as convenções que regulam o assunto), convenientemente omitindo que também ela, Marisa Matias, votou contra coisas destas: "Reitera a obrigação decorrente do direito internacional do mar de prestar assistência a pessoas em perigo e insta todos os Estados-Membros, a título individual e quando agem na qualidade de Estados-Membros da UE ou no contexto de fóruns internacionais relevantes, a respeitarem plenamente as normas do direito internacional e do direito da União pertinentes; insta todos os navios que realizam operações de busca e salvamento a cumprirem as instruções dadas em conformidade com o direito internacional e da União pertinente pelo centro de coordenação de busca e salvamento competente e a cooperarem com as autoridades dos Estados-Membros e a Frontex, a fim de salvaguardar a segurança dos migrantes;".
Claro que Marisa Matias não votou especificamente contra este texto (absolutamente consensual, penso eu, e que é o primeiro ponto da moção proposta pelo PPE) mas contra o o sentido geral da moção em que este ponto existe, tal como todos os que votaram contra a moção apoiada por Marisa Matias o terão feito na mesma base geral, e não por serem contra o salvamento de pessoas no mar, como Marisa Matias pretende.
Aparentemente, o que Marisa Matias pretende, como qualquer populista, não é ter ganho político racional (isto é, fazer avançar a sua agenda política com base em apoio social racional) mas usar emoções básicas das pessoas a quem se dirige para destruir os seus adversários que vê como psicopatas capazes de propôr que se pergunte a quem se está a afogar se é migrante ou refugiado e, no primeiro caso, deixar que se afoguem (este absurdo não foi inventado por mim, é Marisa Matias que, apanhada em contra-pé pelo facto de também ter votada contra moções que visavam o salvamento de pessoas, argumenta que as moções que rejeitou contêm propostas tão estúpidas como a que descrevi).
Na prática, como qualquer populista, o que Marisa Matias consegue, com estas opções, é simplesmente destruir qualquer chão comum para a discussão de problemas comuns complexos, ao tratar os seus adversários políticos como psicopatas e não como aquilo que verdadeiramente são: pessoas comuns que pensam de maneira diferente de Marisa Matias.
Não, Marisa Matias (como o Bloco) não têm uma visão democrática dos seus adversários, se isso não se nota muito, é apenas porque o poder de que dispõem é realmente pequeno.
Num dia em que tivessem o poder de mandar na polícia, construir prisões e governar o sistema de justiça, nesse dia, seria evidente como os populistas, como Marisa Matias, são corrosivos para o sistema democrático.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
A confiança constrói-se. Já se percebeu com quem M...
Perante resposta tão fundamentada, faço minhas as ...
O capitalismo funciona na base da confiança entre ...
"...Ventura e António Costa são muito iguais, aos ...
Deve ser por a confiança ser base do capitalismo q...