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Marisa, a populista

por henrique pereira dos santos, em 02.11.19

Marisa Matias, com aquele seu ar simpático e empático, resolveu dar uma aula magistral de populismo.

No parlamento europeu foram a votos quatro resoluções sobre a gestão do fluxo migratório que chega através do Mediterrâneo, traduzindo diferentes pontos de vista sobre a forma de gerir o problema.

As votações cruzadas dos deputados acabaram por fazer com que nenhuma das votações fosse aprovada.

Este assunto passaria como qualquer outro assunto complexo que não tem soluções evidentes, e o processo político seguiria o seu curso, seja no sentido de se trabalhar uma maior aproximação política das diferentes visões sobre o assunto, seja no sentido da maior radicalização das visões sobre o assunto.

Foi então que Marisa Matias resolveu jogar uma cartada populista, bem alinhada com o modelo de intervenção anti-democrático do Bloco de Esquerda.

Num texto que pretendia arregimentar apoios pela emoção, na característica técnica populista de reduzir problemas complexos a emoções simples, resolveu acusar os que votaram contra a moção que defendia de serem contra o salvamento de pessoas em risco no mar (como se a União Europeia tivesse jurisdição sobre águas internacionais e as convenções que regulam o assunto), convenientemente omitindo que também ela, Marisa Matias, votou contra coisas destas: "Reitera a obrigação decorrente do direito internacional do mar de prestar assistência a pessoas em perigo e insta todos os Estados-Membros, a título individual e quando agem na qualidade de Estados-Membros da UE ou no contexto de fóruns internacionais relevantes, a respeitarem plenamente as normas do direito internacional e do direito da União pertinentes; insta todos os navios que realizam operações de busca e salvamento a cumprirem as instruções dadas em conformidade com o direito internacional e da União pertinente pelo centro de coordenação de busca e salvamento competente e a cooperarem com as autoridades dos Estados-Membros e a Frontex, a fim de salvaguardar a segurança dos migrantes;".

Claro que Marisa Matias não votou especificamente contra este texto (absolutamente consensual, penso eu, e que é o primeiro ponto da moção proposta pelo PPE) mas contra o o sentido geral da moção em que este ponto existe, tal como todos os que votaram contra a moção apoiada por Marisa Matias o terão feito na mesma base geral, e não por serem contra o salvamento de pessoas no mar, como Marisa Matias pretende.

Aparentemente, o que Marisa Matias pretende, como qualquer populista, não é ter ganho político racional (isto é, fazer avançar a sua agenda política com base em apoio social racional) mas usar emoções básicas das pessoas a quem se dirige para destruir os seus adversários que vê como psicopatas capazes de propôr que se pergunte a quem se está a afogar se é migrante ou refugiado e, no primeiro caso, deixar que se afoguem (este absurdo não foi inventado por mim, é Marisa Matias que, apanhada em contra-pé pelo facto de também ter votada contra moções que visavam o salvamento de pessoas, argumenta que as moções que rejeitou contêm propostas tão estúpidas como a que descrevi).

Na prática, como qualquer populista, o que Marisa Matias consegue, com estas opções, é simplesmente destruir qualquer chão comum para a discussão de problemas comuns complexos, ao tratar os seus adversários políticos como psicopatas e não como aquilo que verdadeiramente são: pessoas comuns que pensam de maneira diferente de Marisa Matias.

Não, Marisa Matias (como o Bloco) não têm uma visão democrática dos seus adversários, se isso não se nota muito, é apenas porque o poder de que dispõem é realmente pequeno.

Num dia em que tivessem o poder de mandar na polícia, construir prisões e governar o sistema de justiça, nesse dia, seria evidente como os populistas, como Marisa Matias, são corrosivos para o sistema democrático.


1 comentário

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De Anónimo a 02.11.2019 às 17:31


Além disso, o exagerado ego de Marisa Matias não lhe deixa perceber o óbvio.

No areópago de Bruxelas não existem deputados. Existem apenas famílias políticas. Porquê?.
A encenação e a verborreia que por cá lhe conferiu o direito a lá estar, não funciona naquela, muito artificial, Torre de Babel.

Os pouquíssimos que percebem a cassete de Madame Matias (de gingeira) nunca tiveram pachorra para a ouvir.

Os outros, várias centenas com o mesmíssimo problema linguístico -tudo numa dita surreal comunicação parlamentar- têm os seus compromissos, as suas filiações funcionais que afinal regem fidelidades no voto.

Não há tradução simultânea que salve aquilo.

Nada que os preocupe, diga-se. Os congéneres de M. Matias -tantos, tão bem pagos, funcionários- nem têm um ar infeliz.

Uma das curiosidades exóticas naquele surreal orgão dito Legislativo, desta dita União Europeia, é a utilização do Bruxinglês. Isto no momento em que os titulares de tal língua mãe se vão por a mexer dali pra fora. Surreal.

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